Bloomberg Línea — Fundadores de startups brasileiras sacaram centenas de milhões de dólares do Silicon Valley Bank (SIVB), conhecido como SVB, nesta quinta-feira (9), depois que o banco lançou uma venda de ações de US$ 2,25 bilhões para reforçar seu balanço e mitigar os efeitos dos depósitos em queda de startups que lutam por dinheiro em momento de capital mais escasso para ativos de risco e tecnologia.
As ações do SVB despencaram cerca de 60% nesta quinta na Nasdaq; e recuavam mais de 20% nas negociações do after hours.
Um banco voltado para atender startups em estágio inicial, o SVB é referência para empresas de tecnologia também do Brasil que recebem dinheiro de fundos de capital de risco do mundo.
Com o nível de depósitos em queda, o CEO do SVB, Greg Becker, disse que a queima de caixa por empresas que são clientes aumentou em fevereiro. Os recursos levantados com a venda de ações serão reinvestidos em dívidas de curto prazo e no aumento dos empréstimos do banco.
Investidores e fundadores de startups da América Latina ouvidos pela Bloomberg Línea disseram que “todo mundo” está sacando o dinheiro do banco “enlouquecidamente”, enquanto outros acreditam que o SVB deve travar os saques em breve.
“Parece que o consenso entre os brasileiros de tirar o dinheiro é mais forte, talvez pela nossa experiência passada com esse tipo de situação no Brasil”, disse um fundador ouvido pela Bloomberg Línea em condição de anonimato.
O SVB tinha representação para a América Latina, por meio de Julia Figueiredo, que era a diretora para a região de startup banking. A executiva deixou o banco há quase um ano, em abril de 2022, para assumir a diretoria para a América Latina no Partners for Growth.
Um fundador ouvido pela Bloomberg Línea disse que Figueiredo era o principal ponto de contato do SVB na região e que, sem ela, “o pessoal ficou de mãos atadas em questão de suporte”.
Oportunidades diante da crise
Diante da crise do SVB, a startup brasileira Trace Finance, que opera com câmbio para startups, antecipou o lançamento do que pretende ser uma alternativa para bancarizar empresas.
Startups da América Latina normalmente necessitam de uma estrutura legal que conta com uma empresa nas Ilhas Cayman e outra em Delaware, nos Estados Unidos, para receber investimentos de fundos estrangeiros.
A Trace, que já operava essas transações trazendo o dinheiro para o Brasil, agora vai oferecer um banco, mas disse que não vai operar com crédito, para evitar problemas como o do SVB.
Segundo o CEO e cofundador da Trace Finance, Bernardo Brites, a empresa servirá como um parceiro bancário para as startups nos Estados Unidos. Só nesta quinta-feira de soft launch, startups com mais de US$ 3 bilhões entraram na lista de espera para o banco da Trace nos EUA.
“Entendemos que o mercado está em modo de risco e que hoje cautela é o mais importante. Não vamos ter reserva fracionária, todos os usuários vão ter 100% do balanço deles a todo momento. E não vamos entrar em produto de crédito porque nunca vamos emprestar dinheiro dos nossos usuários. Entendemos que o fundador pode querer sacar o dinheiro na hora que quiser”, disse Brites.
O banco da Trace Finance vai focar em uma conta corrente sem taxa, com transferência internacional, e deve lançar um cartão de débito.
Além da Trace Finance, grandes bancos como o Itaú BBA e gestoras como a Genial Investimentos também tinham no SVB um benchmark com a proposta de acesso a capital, câmbio e banking para startups.
“Usávamos o SVB como cliente porque não havia alternativa para bancarizar a empresa nas Ilhas Cayman e em Delaware”, disse Brites. “Todo o ecossistema de startups e fundos da América Latina estava no SVB.”
O plano de Brites é trazer esse dinheiro e os clientes que estavam no SVB para seu novo banco.
Por meio de nota, a Genial Investimentos esclarece que nunca realizou qualquer negócio com o SVB ou indicou a instituição para seus clientes. O SVB foi citado apenas como exemplo do que faz um banco voltado a empresas de tecnologia.
-- Atualizada com nota da Genial Investimentos às 09:04 do dia 11/03/2023
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