Bloomberg — O mercado elevou as apostas de que o Banco Central terá de antecipar o início do corte de juros diante de uma economia já em desaceleração e sob efeito da piora no ambiente de crédito corporativo.
A precificação a partir da curva de juros aponta que a Selic poderá cair para cerca de 11,75% até meados de 2024 — um alívio de 2 pontos percentuais. Nos últimos dias, os investidores começaram a apostar marginalmente que o ciclo poderia começar já em maio, com chance de quase 50% de uma queda de 0,25 pp da Selic.
Trata-se de uma mudança significativa em pouco tempo, também favorecida pela perspectiva da adoção de uma nova regra fiscal pelo governo, em substituição ao teto de gastos. No final de fevereiro, a curva do DI futuro indicava um ciclo de afrouxamento monetário de cerca de 0,9 pp neste ano e de 1,65 pp até meados do ano que vem. A probabilidade majoritária de um primeiro corte era, então, apenas em agosto — hoje, as principais apostas sugerem que o ciclo deva se iniciar ainda no primeiro semestre.
“O mercado está migrando de cenário de um jeito bem rápido”, diz Cássio Xavier, gestor de renda fixa e multimercados da Sicredi Asset. “Parece comprar que a atividade local vai piorar significativamente mais rapidamente do que imaginavam. O cenário do crédito está mais complexo.”
O caso da Americanas é indício de uma realidade difícil e mais ampla: as empresas brasileiras têm tido a necessidade de rolar dívida sob taxas mais altas, no momento em que os bancos sinalizam um crescimento menor da carteira de crédito, segundo Xavier.
O receio dos investidores com a situação da varejista levou ao resgate de R$ 66 bilhões de fundos de crédito com pelo menos 15% de sua carteira investida em crédito privado entre 12 de janeiro - um dia após o anúncio do rombo de R$ 20 bilhões da Americanas — e 2 de março, estima o Itaú BBA.
Outro indicativo da perspectiva de redução da Selic antes do esperado é o mega leilão, realizado pelo Tesouro nesta quinta-feira, de títulos prefixados, que ganham num ambiente de corte de juros. Foram vendidas todas as 18 milhões de LTNs ofertadas, o maior volume deste ano.
“Se o mercado acredita que o BC vai indicar algo no próximo Copom, é esperado que passe a demandar uma maior quantidade de títulos prefixados”, diz Luis Felipe Laudisio, operador da Warren Renascença.
Economistas esperam que o BC corte juros apenas na penúltima reunião do Copom em 2023, em novembro, com um queda de 0,50 pp, segundo a pesquisa Focus, do Banco Central. Um obstáculo a uma flexibilização mais rápida é a desancoragem das expectativas de inflação, que se mantêm acima das metas dos próximos anos.
O gestor de renda fixa da Asset 1, Bruno Carvalho, observa que o BC poderá promover cortes mesmo com a piora das expectativas, dada a situação desafiadora do crédito e a perda de vigor da economia. A sinalização de “alguma regra fiscal” — que o governo pretende apresentar antes do próximo Copom — e o consenso entre os analistas de que os juros estão “extremamente restritivos” também ajudam essa visão, segundo ele.
“Podemos ver o BC reagir mesmo sem ver, no modelo, convergência da inflação para meta em 2024″, afirma Carvalho.
-- Com a colaboração de Josue Leonel
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