Mercado começa a ver corte da Selic em maio com temor sobre aperto no crédito

Caso da Americanas é indício de uma realidade difícil e mais ampla: as empresas brasileiras têm tido a necessidade de rolar dívida sob taxas mais altas

Outro indicativo da perspectiva de redução da Selic antes do esperado é o mega leilão, realizado pelo Tesouro nesta quinta-feira, de títulos prefixados
Por Felipe Saturnino
09 de Março, 2023 | 03:42 PM

Bloomberg — O mercado elevou as apostas de que o Banco Central terá de antecipar o início do corte de juros diante de uma economia já em desaceleração e sob efeito da piora no ambiente de crédito corporativo.

A precificação a partir da curva de juros aponta que a Selic poderá cair para cerca de 11,75% até meados de 2024 — um alívio de 2 pontos percentuais. Nos últimos dias, os investidores começaram a apostar marginalmente que o ciclo poderia começar já em maio, com chance de quase 50% de uma queda de 0,25 pp da Selic.

Trata-se de uma mudança significativa em pouco tempo, também favorecida pela perspectiva da adoção de uma nova regra fiscal pelo governo, em substituição ao teto de gastos. No final de fevereiro, a curva do DI futuro indicava um ciclo de afrouxamento monetário de cerca de 0,9 pp neste ano e de 1,65 pp até meados do ano que vem. A probabilidade majoritária de um primeiro corte era, então, apenas em agosto — hoje, as principais apostas sugerem que o ciclo deva se iniciar ainda no primeiro semestre.

“O mercado está migrando de cenário de um jeito bem rápido”, diz Cássio Xavier, gestor de renda fixa e multimercados da Sicredi Asset. “Parece comprar que a atividade local vai piorar significativamente mais rapidamente do que imaginavam. O cenário do crédito está mais complexo.”

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O caso da Americanas é indício de uma realidade difícil e mais ampla: as empresas brasileiras têm tido a necessidade de rolar dívida sob taxas mais altas, no momento em que os bancos sinalizam um crescimento menor da carteira de crédito, segundo Xavier.

Juro curto no menor nível desde novembro com aposta em corte antecipado

O receio dos investidores com a situação da varejista levou ao resgate de R$ 66 bilhões de fundos de crédito com pelo menos 15% de sua carteira investida em crédito privado entre 12 de janeiro - um dia após o anúncio do rombo de R$ 20 bilhões da Americanas — e 2 de março, estima o Itaú BBA.

Outro indicativo da perspectiva de redução da Selic antes do esperado é o mega leilão, realizado pelo Tesouro nesta quinta-feira, de títulos prefixados, que ganham num ambiente de corte de juros. Foram vendidas todas as 18 milhões de LTNs ofertadas, o maior volume deste ano.

“Se o mercado acredita que o BC vai indicar algo no próximo Copom, é esperado que passe a demandar uma maior quantidade de títulos prefixados”, diz Luis Felipe Laudisio, operador da Warren Renascença.

Economistas esperam que o BC corte juros apenas na penúltima reunião do Copom em 2023, em novembro, com um queda de 0,50 pp, segundo a pesquisa Focus, do Banco Central. Um obstáculo a uma flexibilização mais rápida é a desancoragem das expectativas de inflação, que se mantêm acima das metas dos próximos anos.

O gestor de renda fixa da Asset 1, Bruno Carvalho, observa que o BC poderá promover cortes mesmo com a piora das expectativas, dada a situação desafiadora do crédito e a perda de vigor da economia. A sinalização de “alguma regra fiscal” — que o governo pretende apresentar antes do próximo Copom — e o consenso entre os analistas de que os juros estão “extremamente restritivos” também ajudam essa visão, segundo ele.

“Podemos ver o BC reagir mesmo sem ver, no modelo, convergência da inflação para meta em 2024″, afirma Carvalho.

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-- Com a colaboração de Josue Leonel

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