Multiplan mira expansão ao interior e Nordeste e renovar quadros, diz novo CEO

Eduardo Peres, que assumiu em fevereiro, diz em entrevista à Bloomberg Línea que já há empresas interessadas em pontos da Americanas em seus shoppings

Por

Bloomberg Línea — A Multiplan (MULT3), uma das maiores empresas de shoppings do Brasil, está sob nova direção desde o mês passado, quando Eduardo Peres, 52 anos, assumiu o cargo de CEO. O executivo sucedeu o seu pai, José Isaac Peres, 82 anos, na companhia conhecida por marcos do setor no mercado imobiliário, como o Morumbi Shopping em São Paulo e o Barra Shopping no Rio de Janeiro.

Em entrevista à Bloomberg Línea, o executivo, formado em administração de empresas e que começou como estagiário aos 18 anos na empresa da família, pregou a continuidade na condução da Multiplan, mas destacou que a retomada da expansão no pós-pandemia é um de seus principais objetivos.

O foco é explorar regiões ainda carentes em shopping, como o interior do Brasil. “Estamos olhando todos os mercados, principalmente o interior. São Paulo sempre foi muito importante para nós, é onde tem o maior número de shoppings da companhia, mas queremos perseguir lugares onde não temos uma grande presença, como os estados do Nordeste”, afirmou.

Segundo Eduardo Peres, a Multiplan planeja realizar até seis expansões de shoppings, sendo quatro (Curitiba, Maceió, São Caetano do Sul e Jundiaí) com lançamento de obras previsto para este ano. “Os recursos estão todos assegurados para as expansões.”

Outro desafio apontado pelo executivo é renovar os cargos da empresa com pessoas das novas gerações. “Hoje temos mais funcionários com 50, 60 anos e menos com 40, 30 e 20 anos.” Promoções já começaram na companhia. No fim do mês passado, Marcelo Martins, que cuidou da operação da Multiplan em São Paulo e em outras capitais, foi nomeado novo vice-presidente operacional do grupo.

Peres ressaltou que seu pai, novo presidente do conselho da Multiplan, continua com voz ativa na empresa e à frente de projetos imobiliários do grupo.

“Meu pai não está de pijama, não foi para casa, mas está em uma sala aqui na empresa fazendo o que mais gosta de fazer: cuidando de projetos imobiliários. Não conheço uma pessoa com visão mais privilegiada. Ele vai visitar um terreno e consegue ver o que ninguém mais consegue, imagina mil coisas para construir naquele lugar”, disse Eduardo.

Nas suas contas, seu pai já esteve à frente ou viabilizou mais de 400 empreendimentos ao longo de mais de 45 anos de atuação da Multiplan. Um dos mais emblemáticos foi o Barra Shopping, na Barra da Tijuca, na zona oeste da capital fluminense.

“Não tinha nada no entorno. Ele fez tudo ao redor, escritórios, centro médico. O BarraShopping tem a maior concentração de aparelhos de ressonância magnética do país.”

O grupo administra 20 shopping centers e dois complexos corporativos com ABL (Área Bruta Locável) total de 926.483 m². Desde seu IPO (oferta inicial de ações) em 2007, o lucro da Multiplan passou de R$ 21,2 milhões para R$ 769,3 milhões em 2022. Indicadores financeiros como vendas, aluguel, Ebitda, fluxo livre de caixa e lucro líquido alcançaram níveis recordes no ano passado.

No ano, até a última segunda-feira (6), a ação da Multiplan acumula ganho de 7%, acima do desempenho do Ibovespa (perda de 4,6%) no período. “O preço de nossa ação não reflete o nosso real valor. Há 34 anos, a Multiplan valia R$ 100 milhões. Hoje vale R$ 14 bilhões, R$ 15 bilhões, dependendo da cotação do dia. Meu desafio é repetir esse desempenho nos próximos 20, 30 anos”, afirmou o CEO.

Leia abaixo a entrevista com Eduardo Peres, que foi editada para fins de clareza.

Como o calote da Americanas está se refletindo no segmento de shopping centers?

Foi uma surpresa desagradável. Quando se fala em fraude, é um susto para todo mundo. Temos uma baixa exposição à Americanas: entre 15 e 20 unidades. Já há candidatos aos pontos antes mesmo de vagarem. Não vejo dificuldade de repor isso. Não vai ser nenhum maremoto. Eles estão em dia, não deixaram de pagar nada.

Isso é cíclico no varejo. Quantas livrarias tínhamos no passado? Tivemos Fnac, por exemplo. Hoje contamos nos dedos. Quem escolhe quem fica no shopping não somos nós, mas quem frequenta. No caso da Americanas, ela sempre teve boas vendas, movimento, mas tinha um problema interno.

Lojistas relatam dificuldades para renovar linhas de crédito com bancos após o caso Americanas. O senhor acredita em um efeito dominó no varejo?

Não acredito. Isso pode encarecer, dificultar quem estiver mais alavancado, mas sinto que é um caso pontual. Algumas redes estão com problemas. Não tem muita solução. Não acredito em um risco sistêmico.

Em janeiro, a venda da Multiplan cresceu 23%. É uma tendência ou foi um ponto fora da curva devido à base menor de comparação com janeiro de 2022, prejudicado pela ômicron?

Não é um ponto fora da curva. Desde a retomada pós-pandemia, estamos crescendo todo mês. A Covid trouxe essa ânsia de viver, de consumir. 2023 será um ano próspero, excepcional. Sou muito otimista. O varejo presencial tem esse desempenho.

O Brasil começou a subir os juros há dois anos. Com esse cenário de inflação elevada e crédito mais caro, como está a recuperação dos aluguéis de lojas nos shoppings?

Independentemente do que está escrito no contrato, só conseguimos aumentar receita com aluguel se a venda do lojista crescer também. Cobramos meio condomínio durante a pandemia para dar fôlego aos lojistas. De lá para cá, as vendas cresceram 80% e seguem crescendo.

Em janeiro e em fevereiro, os primeiros números indicam crescimento de vendas em dois dígitos. Nao vejo nenhuma dificuldade de continuar aferindo crescimento de [receitas com] aluguéis. O volume de pessoas e de carros continua crescendo.

A Multiplan tem exposição relevante ao varejo de alta renda. Esse perfil de frequentador do shopping ajuda na blindagem da receita em momentos de instabilidade econômica?

Sim. Estamos mais voltados para as classes A e B desde o início. As oportunidades foram aparecendo e fomos criando cultura para atender a esse público. Mas acabamos de inaugurar um shopping em outras regiões, em Jacarepaguá e em Campo Grande [ambos bairros na zona oeste do Rio].

Por que não? Sempre estamos olhando as oportunidades. A maioria das vezes é mais desejável um público com poder aquisitivo maior. Em Jacarepaguá, que construímos durante a pandemia, entregamos um shopping de categoria internacional que poderia estar em qualquer capital do mundo.

O senhor acha que o ambiente de competição entre as redes de shoppings ficará mais acirrado neste ano?

Não. É saudável, não vejo como uma concorrência predatória. Cada um oferece o que tem e o que pode. Quando há um mercado livre, as pessoas podem escolher o que lhe dá mais vantagem. É sempre melhor para o consumidor.

O senhor acredita que o Banco Central vai cortar os juros no segundo semestre?

Não gostaria de fazer esse prognóstico, mas a taxa de juros é ligada à inflação. O IPCA [índice oficial de inflação ao consumidor] de 12 meses ficou abaixo de 6%, o IGP-M caiu, e a taxa Selic continua em 13,75% ao ano. Então, a tendência é o juro cair, mas não tenho bola de cristal, não sei quando isso vai acontecer. Há uma discussão política, mas aqui dentro não tratamos de assunto político.

Muitos shoppings voltaram a investir agora. Tivemos que vender ativos na pandemia. Agora que retomamos nosso poder de investimento, estamos saudáveis e vamos voltar a investir em expansão.

Como a Multiplan vai trabalhar datas importantes do varejo, como a Páscoa e o Dia das Mães?

Ativamente. Fomos pioneiros em colocar gastronomia e entretenimento nos shoppings. Nos EUA, os shoppings não têm essa cultura de promoção, funcionam apenas como empreendimentos imobiliários. Já nós fazemos o shopping vender, impulsionamos, estimulamos com eventos. Aqui, como nasceram distantes das cidades, tivemos que oferecer outros atributos para atrair a família. Temos um fundo de promoção para essas datas do varejo. Estamos preparando agora a programação para as datas.

Leia também

Conheça as 50 Mulheres de Impacto da América Latina

Pague Menos vê crédito mais caro nos bancos depois do calote da Americanas

No Madero, a ordem agora é cautela diante da dívida e das incertezas, diz Durski