Credit Suisse: ações perto de queda recorde com atraso de relatório anual

Em crise de confiança com investidores, banco suíço atrasou divulgação de documento após um pedido inesperado de informações pelo órgão regulador do mercado dos EUA

Dúvida chega num momento em que o banco está passando por uma complexa reestruturação após anos de perdas e escândalos
Por Marion Halftermeyer
09 de Março, 2023 | 10:47 AM

Bloomberg — As ações do Credit Suisse (CS) se aproximaram de uma queda recorde após o banco suíço avisar que atrasaria a publicação de seu relatório anual devido a um questionamento de última hora feito pela Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (a SEC) ontem à noite. O órgão regulador solicitou mais informações sobre as demonstrações financeiras do banco.

As ações chegaram a cair 6,4% em Zurique, com o valor de mercado do banco perto da marca de US$ 10 bilhões. O Credit Suisse já perdeu cerca de 9% de seu valor de mercado em 2023 e cerca de 60% no acumulado de um ano. Em Nova York, as ações caíam 3,5% às 10h37 (horário de Brasília), antes da abertura do mercado americano.

O credor deveria publicar seu relatório anual na manhã desta quinta-feira (9), mas recebeu um pedido da SEC na noite de quarta-feira (8). Segundo o banco, as autoridades de Zurique estavam consultando as revisões que o Credit Suisse fez nas declarações de fluxo de caixa relacionadas aos balanços de 2019 e 2020, bem como os controles relacionados.

O Credit Suisse confirmou seus resultados financeiros de 2022, anteriormente divulgados em 9 de fevereiro, acrescentando que eles não são afetados pelos questionamentos técnicos dos reguladores. Nenhum outro órgão regulador está envolvido, disse o chefe de relações com investidores Kinner Lahkani em teleconferência com jornalistas.

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A dúvida sobre a contabilidade da companhia chega em um momento em que o banco está passando por uma complexa reestruturação após anos de perdas e escândalos. As mudanças incluem o desmembramento de seu banco de investimentos, a venda de negócios não vinculados à unidade principal e o corte de 9.000 empregos.

Nesta semana, a gestora Harris Associates, acionista majoritário do banco há duas décadas, informou que encerrou sua participação no banco, que já avisou que terá um prejuízo substancial neste ano.

Não é incomum para a SEC levantar questões sobre suas divulgações, embora o atraso de um relatório anual seja mais raro.

“Geralmente não nos concentramos nas demonstrações de fluxo de caixa; os valores são relativamente pequenos e a reformulação foi divulgada anteriormente”, disseram analistas, incluindo Anke Reingen do Royal Bank of Canada, em uma nota. “Entretanto, as perguntas com relação à contabilidade, principalmente da SEC, são negativas”.

O banco não informou quando publicará os relatórios e disse que a administração acreditava ser “prudente adiar brevemente” até que eles pudessem entender melhor a natureza dos pedidos dos reguladores.

Em seu relatório anual de 2021, o Credit Suisse disse ter identificado questões contábeis “não materiais” relacionadas a certas atividades de empréstimo. Isso levou a uma série de revisões no balanço de 2020.

-- Com a colaboração de James Cone.

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