Verde, de Stuhlberger, alerta para ‘credit crunch’ no Brasil e juro nos EUA

Gestora voltou a incluir hedge na bolsa americana em seu fundo multimercado e disse que ativos não refletem impacto do aumento do juro americano

Luis Stuhlberger (Verde Asset)
08 de Março, 2023 | 09:59 AM

Bloomberg Línea — A Verde Asset, gestora de Luis Stuhlberger, voltou a implementar hedges (proteções) na bolsa americana diante da avaliação de que o impacto dos juros mais altos nos Estados Unidos ainda não foi “devidamente refletido nos ativos de risco”. A posição havia sido zerada no mês anterior.

Em carta aos cotistas referente ao desempenho de fevereiro do multimercado Verde FIC FIM, a gestora contou que o principal risco a ser monitorado hoje é a mudança de narrativa nos EUA, com novos sinais de “pujança e resiliência” levando a expectativas de uma aceleração nos aumentos dos juros na maior economia do mundo.

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“Estamos mais preocupados com a precificação das bolsas globais e com os riscos de uma nova aceleração da inflação, especialmente nos Estados Unidos”, escreveu.

Em depoimento ao Senado dos EUA na terça-feira (7), o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, voltou a reforçar o combate à inflação e disse que pode acelerar o aumento das taxas para níveis acima do esperado pelo mercado, caso dados econômicos justifiquem tal medida.

O movimento contribuiu para queda das ações ao redor do mundo e expectativas de até 6% para uma taxa terminal no país - atualmente está no intervalo de 4,50% a 4,75%.

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No contexto de juros mais elevados, a Verde optou por iniciar posição tomada (que ganha com a alta das taxas) em juros e comprada (aposta na alta) em inflação nos EUA.

Alerta para ‘credit crunch’

No Brasil, o “ruído” gerado pelo novo governo é o principal ponto de atenção, segundo a gestora. “Mesmo medidas corretas da perspectiva fiscal, como a reoneração dos combustíveis, conseguem ser acompanhadas de graus excessivos de ruído desnecessário e contraproducente, neste caso a taxação das exportações de petróleo e os reiterados ataques ao Banco Central”, escreve a asset.

Para a Verde, há “sinais de um incipiente ‘credit crunch’ atingindo a economia brasileira, cujo enfrentamento requer boas políticas públicas, e não bravatas”. “Não por acaso os prêmios de risco dos ativos brasileiros seguem bastante altos”, destaca.

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Na carta referente a janeiro, a gestora de Luis Stuhlberger havia reportado que uma das principais perdas no período foi a decorrente do livro de crédito privado, impactado principalmente pelo caso Americanas (AMER3).

“Fomos vítimas de uma fraude. Há quanto tempo ela existe, quem foram os principais responsáveis e beneficiários, é assunto que será amplamente discutido e explorado no Judiciário”, escreveu a gestora na época.

A Verde havia investido em uma emissão da Americanas em junho de 2022 no valor de R$ 2 bilhões, a CDI mais 2,75% com vencimento em 11 anos. A avaliação era a de que havia um excesso de spread em relação a empresas comparáveis e ao próprio histórico da companhia.

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No mercado local, o multimercado tem exposição à bolsa, bem como posição comprada (aposta na alta) em inflação implícita.

Desempenho

Em fevereiro, o fundo Verde FIC FIM, o carro-chefe da casa, registrou perdas decorrentes da exposição em ações no Brasil e das posições em commodities, principalmente o ouro, que devolveu os ganhos de janeiro.

O desempenho levou o fundo a perder para o CDI no último mês: o multimercado teve ganhos de 0,04%, ante variação de 0,92% do principal benchmark de renda fixa. No acumulado dos dois primeiros meses do ano, contudo, o Verde sobe 2,78%, enquanto o CDI tem variação de 2,05%.

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Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.