Bloomberg Línea — O calote da Americanas (AMER3), estimado em mais de R$ 42 bilhões, encareceu as operações de crédito para o varejo em geral, levando algumas companhias do setor a evitarem tomar empréstimos no curto prazo. Esse é o caso da Pague Menos (PGMN3), segunda maior rede brasileira de farmácias, que conduz um plano de expansão com inaugurações de unidades em diversas regiões do país.
Em entrevista à Bloomberg Línea, o CFO da empresa, Luiz Novaes, afirma que os bancos estão restringindo a concessão de crédito e cobram juros mais elevados. “Os spreads aumentaram bastante. Está todo mundo com aversão ao risco. Antes da Americanas, contratava-se empréstimo com CDI + 1,8 ponto. Agora, vemos empresas parecidas com a nossa captando a CDI +3, +4 pontos. Felizmente estamos com a dívida alongada, não temos captações relevantes a fazer neste ano”, disse.
Ele cita que a Pague Menos terminou 2022 com um nível “saudável” de alavancagem (dívida/Ebitda) de 2,6 vezes após um alongamento da dívida executado desde 2021, quando anunciou a compra das quase 400 lojas da rival Extrafarma por R$ 700 milhões, negócio concluído em agosto de 2022. Mais de 80% de seus débitos só vencem a partir de 2024. “A boa notícia: não temos dívida de curto prazo”.
Mesmo com a alta dos juros cobrados pelos bancos após o colapso das Americanas, a companhia pretende manter seu guidance (projeção) de inaugurar 60 lojas em 2023 e 120 lojas em 2024. A Pague Menos fechou 2022 com 1.646 pontos de venda, um aumento anual de 41%, sendo 118 unidades abertas no ano passado. O CFO explica que 2023 terá menos inaugurações, pois o foco será capturar sinergias com a integração da Extrafarma, processo que se acelerou nos últimos trimestres.
Sinergias da Extrafarma
Em cinco meses, aproximadamente 400 lojas da Extrafarma e cinco Centros de Distribuição foram incorporados à operação da Pague Menos. A integração logística possibilitou uma otimização no abastecimento de lojas, redução no custo do frete, aumento na frequência de abastecimento e redução na ruptura de estoques, segundo a companhia.
“Até o momento, já capturamos aproximadamente R$ 34 milhões em sinergias, que estão vindo numa velocidade mais rápida do que imaginamos e vão se intensificar em 2023”, estimou o CFO.
Esse valor é equivalente a 15% do potencial estimado para as sinergias. Todo o processo de migração de sistemas foi concluído três meses antes do previsto. A integração tecnológica dos canais digitais da Extrafarma com os da Pague Menos já teve início e irá viabilizar ganho de escala relevante nas operações, segundo a companhia.
Neste ano, haverá esforços para reduzir o gap de participação das vendas omnichannel de Extrafarma em relação à Pague Menos. No 4º trimestre, 3,4% das vendas de Extrafarma ocorreram via canais digitais, 8 pontos percentuais abaixo do registrado em Pague Menos.
Outro caminho para obter mais eficiência, segundo o executivo, é baratear a folha de pagamento com mudanças no organograma da companhia. No mês passado, dois diretores deixaram a Pague Menos, com vice-presidentes assumindo suas áreas (gestão e digital).
Em 2022, a Pague Menos registrou Ebitda de R$ 805 milhões, crescimento anual de 19,9%. A geração de caixa foi impulsionado pela consolidação dos números da Extrafarma. Desconsiderando a aquisição, o Ebitda atingiu R$ 781 milhões, aumento de 16,4%, e o lucro líquido ficou em R$ 192 milhões (+8,7% acima de 2021). A rentabilidade melhorou no ano passado, com a margem Ebitda de 8,8%, avanço de meio ponto percentual sobre 2021. No acumulado dos últimos três anos, o incremento da margem Ebitda foi de 1,4 ponto percentual e da margem líquida, de 2,3 ponto percentual.
Reajuste e ICMS
O varejo farmacêutico aguarda o anúncio da CMED (Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos) sobre o reajuste dos preços dos medicamentos, previsto para entrar em vigor no próximo dia 1º de abril. O CFO da Pague Menos descarta mudanças na fórmula de cálculo do aumento com o novo governo federal, que enfrenta um quadro inflacionário no país e cobra do Banco Central o início de um ciclo de corte de juros.
“Acreditamos que a fórmula, há mais de 15 anos em vigor, não deve ser alterada, pois reflete bem a evolução dos custos do setor”, diz Novais.
Ele espera que o reajuste dos remédios fique entre 5% e 6%, abaixo dos 10,89% do ano passado. Não há ainda previsão para anúncio do aumento, que costuma ocorrer no final de março. O CFO da Pague Menos diz que os medicamentos vão ficar mais caros em abril devido ao aumento das alíquotas de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) em 12 estados da federação, anunciado no final de 2022.
O mercado espera também o anúncio de reajuste de aproximadamente 6%, segundo relatório da Genial Investimentos. “O indicador é impactado por um conjunto de fatores, como inflação, câmbio, custo de energia elétrica e outros fatores externos, sinalizando que, para 2023, as companhias do varejo farmacêutico irão apresentar esse diferencial como pressão no crescimento do top line”, observaram os analistas Vinicius Esteves, Iago Souza e Nina Mirazon.
Eles lembraram que as farmácias são fundamentadas por sua resiliência frente a outros segmentos do varejo, diante de sua dinâmica menos elástica, ou seja, os itens sempre estão em um das últimas posições a serem descartadas da cesta de consumo das famílias.
“Pague Menos tem se proposto a abrir mais lojas no modelo Discount, focado nas regiões Norte/Nordeste, em cidades menores, com intuito de entrar/adensar essas praças com um modelo que exige um capex menor, dado o atual custo do dinheiro. O modelo Discount é focado em preço, sendo grande parte da loja destinada a medicamentos genéricos”,cita o relatório da Genial.
A corretora considerou que os resultados financeiros de outras redes de farmácias, como a líder Drogasil (RADL3) e Panvel (PNVL3), tiveram, no geral, um 2022 positivo. “Considerando um cenário macroeconômico desafiador, com escalada de inflação, mudança de governo, alta na taxa de juros e ainda alguns eventos extraordinários no ano, como a Copa do Mundo e um fim de ano mais frio, o setor seguiu performando bem”, avaliaram os analistas.
Em 2023, até ontem (6), as ações da Pague Menos acumulavam desvalorização de 25%, acima da perda do Ibovespa no período (-5,35%). Já a rival Drogasil tem queda acumulada de 4,76%, enquanto o papel da Panvel registrou baixa de 4,25%.
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