Elon Musk já está de olho em seu próximo projeto. E não é recuperar o Twitter

Enquanto a plataforma social perde funcionários, anunciantes e credibilidade, fundador da Tesla visa uma grande nova missão de inteligência artificial

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Bloomberg Opinion — Mesmo com seu comportamento infantil no Twitter, Elon Musk ainda gostaria que acreditássemos em suas nobres ambições de fazer do mundo um lugar melhor. A SpaceX, sua empresa de exploração espacial, fará do homem uma espécie interplanetária, a montadora de carros elétricos Tesla (TSLA) nos moverá rumo à energia sustentável e o Twitter (TWTR) se tornará o paraíso da liberdade de expressão e do debate saudável.

Na verdade, esse último objetivo não está indo muito bem. O Twitter tem pouca esperança de se tornar um sucesso financeiro ou cultural sob a liderança de Musk, pois ele continua retirando o talento, as fontes de receita e a integridade da plataforma. Sua última polêmica foi ignorar as críticas ao criador dos quadrinhos Dilbert, Scott Adams, por um comentário bizarro e racista no YouTube e culpar “a mídia” por ser racista.

Felizmente, surgiu uma nova missão para desviar o foco de Musk da plataforma que ele adquiriu por US$ 44 bilhões. Musk vem conversando com pesquisadores de inteligência artificial nas últimas semanas em meio à explosão das atenções em torno do ChatGPT para avaliar a formação de um novo laboratório de pesquisa. A meta é criar uma alternativa para o chatbot lançado pela OpenAI, de São Francisco, de acordo com o The Information.

A próxima grande jornada de Musk parece ser aprimorar a IA, uma das invenções mais transformadoras dos tempos modernos. Mas, realisticamente, Musk não pode liderar um sério concorrente com a OpenAI como um projeto paralelo. Isso lhe custaria muito tempo e dinheiro.

O ChatGPT é alimentado por um grande modelo de linguagem treinado no supercomputador da Microsoft (MSFT), um dos mais poderosos do mundo, e obter acesso a uma potência computacional semelhante será cada vez mais difícil à medida que as grandes empresas de tecnologia centralizam o controle desses sistemas para seus próprios projetos de IA.

Construir e treinar um grande modelo de linguagem pode custar milhões de dólares por semana em custos de computação, e contratar um grupo de cientistas de IA será complicado em um momento em que esse profissional tem alta demanda.

Mas essa é provavelmente uma busca séria, considerando o histórico de Musk de investir nos projetos de IA mais avançados. Há quase uma década, ele apoiou tanto a DeepMind quanto a OpenAI, duas empresas concorrentes que construíam máquinas superinteligentes ou inteligência geral artificial antes de serem compradas pelo Google (GOOGL) e pela Microsoft, respectivamente.

Desde então, ele reclamou que a OpenAI estava “treinando a IA para ser ‘lacradora’” e que as big techs estavam deturpando os objetivos iniciais das antigas startups.

Musk tem razão sobre a influência corporativa cada vez maior na pesquisa de IA e também tem razão em estar incomodado, mas o espetáculo que ele fez do Twitter não inspira confiança em sua capacidade de fazer melhor. Como sugere a matéria do The Information, Musk pode estar ansioso para deixar para trás o desastre que ele fez do Twitter e focar em outra coisa.

O comportamento e as políticas caprichosas do bilionário já afastaram os anunciantes da plataforma de mídia social, e ele atrapalhou muito o lançamento do novo serviço de assinatura, o Twitter Blue. O Twitter, que tem cerca de 250 milhões de usuários que visitam o site regularmente e de forma gratuita, supostamente conseguiu obter apenas 180 mil assinantes do serviço nos Estados Unidos.

A receita proveniente de anúncios não deu sinais de melhora depois que a imprudente revogação das normas de conteúdo por parte de Musk levou a um aumento no discurso de ódio e assédio no site – e um êxodo precoce dos anunciantes.

Cerca de 625 das mil maiores marcas que anunciavam no Twitter em setembro de 2022 – um mês antes de Musk comprar a empresa – não estavam mais gastando com a plataforma no início de janeiro, de acordo com dados fornecidos à CNN pela empresa de análise de marketing digital Pathmatics, da Sensor Tower. Os anunciantes reclamaram de terem perdido seus pontos de contato, de não saberem quem ainda trabalhava no Twitter e de enviarem e-mails para um “vazio”.

Em resumo, você pode pensar que o a mudança de foco de Musk seria bom para o Twitter. Mas ainda há a questão de quem tomaria seu lugar. O boletim informativo Tech Platformer informou que Musk parecia favorecer Steve Davis como o próximo CEO do Twitter. Davis, conhecido por trabalhar 16 horas por dia, está atualmente atuando como CEO de uma das outras empresas do bilionário, a Boring Company.

A equipe do Twitter disse em dezembro passado que Davis já estava fazendo negócios rotineiros na empresa e que estava “sempre por perto”. Naquele mês, Musk supostamente pediu a Davis que cortasse US$ 500 milhões em custos. Em vez disso, o executivo cortou cerca de US$ 1 bilhão, enquanto dormia no escritório com sua esposa e seu filho recém-nascido.

Davis se encaixa claramente na cultura “extremamente hardcore” de Musk, mas isso não significa que ele seja a pessoa certa para recuperar as fortunas do Twitter. Afinal, ele supervisionou os problemas de publicidade e assinatura assim como Musk.

Davis trabalhou com Musk por 20 anos, tendo ingressado na SpaceX em 2003 como um dos primeiros funcionários da empresa, mas seu trabalho na Boring também envolveu muitos projetos inacabados.

Quando Musk anunciou pela primeira vez suas ideias para a empresa de construção de túneis, ele comentou sobre fazer uma rota de 563 quilômetros entre Los Angeles e São Francisco. Desde então, seu projeto mais significativo foi um túnel de 3 quilômetros sob um centro de convenções em Las Vegas.

Com sorte, Musk conseguirá impedir a falência do Twitter. Mas a trajetória da empresa rumo a se tornar uma desordeira indisciplinada nas mídias sociais, liderada por uma equipe diminuta e cada vez mais desprovida de conteúdo útil ou divertido, não parece muito diferente da falência.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Parmy Olson é colunista da Bloomberg Opinion e cobre a área de tecnologia. Já escreveu para o Wall Street Journal e a Forbes e é autora de “We Are Anonymous.”

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