Bloomberg Línea — A Azul (AZUL4) assegurou, nesta segunda-feira (6), a continuidade de seu plano de negócios após anunciar um acordo relativo a 90% de seus passivos de arrendamento junto a essas partes (lessors), que vai envolver a emissão de novos títulos de dívida com amortização em 2030 (40% do valor total) e de ações da companhia aérea (60%).
Isso significa que está mantido o plano para dobrar a sua capacidade de operação no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, para 84 voos diários, no fim deste ano, bem como a estreia da rota para Paris em abril. O processo de renovação de frota será mantido, com previsão de receber de oito a nove aeronaves (Airbus e Embraer) até o fim de 2023, segundo o comando da empresa.
O CEO da Azul, John Rodgerson, e o CFO da companhia, Alex Malfitani, buscaram tranquilizar o mercado com o acordo, afastando a perspectiva de piora no risco de crédito.
A empresa aérea teria um impacto de R$ 3 bilhões nas contas neste ano, referente ao aluguel de aeronaves, se não chegasse a um acordo de financiamento com os arrendadores (lessors) sobre os débidos acumulados durante o período mais crítico da pandemia da covid-19. Foi uma fase em que os aviões foram obrigados a ficar no chão devido ao fechamento das fronteiras aéreas de muitos países.
“A Azul não tinha um problema de dívida, mas de fluxo de caixa no curto prazo. Com esse acordo, não existe mais essa falta de caixa“, disse Malfitani em teleconfência na tarde desta segunda-feira (6).
O Tudo Azul, programa de milhagem, será usado como garantia para reduzir o custo de capital, e a companhia também estuda realizar uma captação de recursos, provalvemente nos próximos meses, quando as condições de mercado melhorarem. A administração da Azul espera repetir o sucesso da renegociação da dívida com outros 20% dos lessors.
O anúncio da reestruturação da dívida da ordem de R$ 14 bilhões animou os investidores. O BB Investimentos, por exemplo, elevou a recomendação para os papéis de “neutra” para “compra”, com preço-alvo de R$ 16,50 para o final de 2023. Por volta das 15h20 desta segunda, o papel subia quase 40%, cotado a R$ 10,09, após cravar máxima de R$ 11,49.
“A Azul apresentou seu resultado do quarto trimestre positivo. A demanda permanece aquecida e sustenta níveis recordes na receita total de R$ 4,4 bilhões no trimestre e de R$ 15,9 bilhões em 2022, alta de 19,4% ano/ano e 59,95% ano/ano, respectivamente”, avaliou o analista Renato Hallgreen, em relatório.
Sobre o acordo anunciado pela Azul, ele disse que, em termos de fluxo de caixa, a negociação anunciada deverá contribuir - também em seus cálculos - com uma preservação de caixa de R$ 3 bilhões, que era a necessidade originalmente projetada pela Azul para 2023.
“O anúncio da reestruturação de passivos junto aos lessors é o início de um novo ciclo de crescimento e de estrutura de capital par aa Azul. Acreditamos que a partir de 2023 a estratégia de frota diversificada deverá ganhar tração com a recuperação dos voos corporativos e internacionais, contribuindo para a maior geração de caixa operacional”, observou Hallgreen.
O CEO da Azul disse que, após o acordo com os arrendadores, o plano de negócios da companhia está mantido. Ele afirmou, que além de carregar a dívida do período de suspensão dos voos durante o primeiro ano da covid-19, o câmbio desfavorável também pesou nas contas da empresa.
O preço médio do combustível de aviação apresentou alta anual de 42,5% no quarto trimestre. Em 2022, a alta foi de 63,5%, com impacto na margem operacional da empresa nos três meses finais do ano (-2,9 pontos percentuais), apesar da margem de 7,1% em 2022, contra 0,5% em 2021.
Em 52 semanas, a ação da Azul chegou a oscilar entre uma mínima de R$ 6,71 e uma máxima de R$ 26,19, com queda de 69,4% em 12 meses e de 34,2% em 2023. “As ações da Azul estavam sendo pressionadas pelo ambiente de aversão ao risco de crédito”, disse o analista do BB Investimentos.
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