Bloomberg — A meta de crescimento econômico da China para 2023 é conservadora e sugere que o governo está cauteloso com os desafios que podem pesar sobre a economia. A estimativa é um sinal de alerta para os mercados globais, que têm buscado uma recuperação enquanto monitoram o aperto monetário.
Ao menos é o que avaliam economistas após o anúncio deste domingo (5) de que Pequim terá como meta uma expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de cerca de 5% para o ano. A meta é um pouco mais discreta do que as expectativas entre os economistas, que esperavam uma meta de crescimento superior a 5%.
Também está abaixo da estimativa mediana de expansão de 5,3% neste ano, segundo economistas consultados pela Bloomberg.
Confira a seguir o que os economistas estão dizendo sobre a meta de crescimento da China e o que ela diz sobre a política monetária para este ano:
Zhang Zhiwei, economista-chefe da Pinpoint Asset Management Ltd.
“O número está do lado conservador”, disse Zhang, acrescentando que “o consideraria um limite inferior”. “Em outras palavras, o crescimento econômico provavelmente será superior a 5% e próximo a 6%”, acrescentou Zhang.
“Como a política da covid foi ajustada, não há urgência para que eles executem outra rodada de grandes estímulos econômicos para impulsionar a economia, pois a recuperação econômica já está no caminho certo”, disse ele. “A principal mensagem aqui é que a política fiscal será mais ou menos estável, não um grande estímulo em comparação com o ano passado.”
Zhou Hao, economista-chefe da Guotai Junan International Holdings
“Embora a meta oficial de crescimento tenha sido reduzida pelo segundo ano consecutivo, o que pode ser uma decepção para o mercado, acreditamos que os investidores deverão prestar atenção ao impulso de crescimento subjacente para avaliar o ritmo de recuperação na segunda maior economia do mundo”, disse Zhou.
Alguns investidores podem ver a meta de 5% como reflexo de uma “abordagem pragmática”, já que a economia cresceu apenas 3% no ano passado e ficou muito aquém da meta de crescimento de 5,5% para 2022, completou.
Segundo ele, apesar de estar um “degrau abaixo” da meta do ano passado, a nova estimativa “sugere que as autoridades chinesas querem restaurar a credibilidade da meta de crescimento”.
Outros investidores podem ver a meta como “muito alcançável”, disse Zhou, acrescentando que a “meta de crescimento aparentemente pouco ambiciosa sugere que as autoridades veem os riscos negativos claramente existentes para a economia chinesa”.
A meta de criação de empregos urbanos de 12 milhões para 2023 – acima dos 11 milhões do ano passado – “ilustra claramente que o governo presta mais atenção à qualidade do crescimento”, disse ele. Uma meta mais alta para este ano “significa que as autoridades chinesas veem a importância do consumo, o que ajudará a liberar o potencial de crescimento de longo prazo.”
Bruce Pang, economista-chefe de China da Jones Lang Lasalle Inc.
A meta deste ano é “pragmática”, pois “deixa espaço para os múltiplos riscos e incertezas que o crescimento econômico pode enfrentar daqui para frente”, disse Pang.
Dado o ímpeto da economia até agora e a eficácia das políticas usadas, a meta “tem grande probabilidade de ser alcançada”, acrescentou.
Pang, no entanto, disse que a meta “não significa necessariamente que o estímulo fiscal não será reforçado”. Ele citou a meta de maior índice de déficit - Pequim tem como meta um déficit fiscal de 3% como porcentagem do PIB, em comparação com a meta de 2,8% do ano passado - em parte como uma sugestão de que a política fiscal pode ser ainda mais fortalecida.
Iris Pang, economista-chefe para cobertura de China da ING Groep NV
A meta “relativamente conservadora” “pode refletir preocupações com o crescimento externo”, disse Pang, acrescentando que parceiros comerciais como os Estados Unidos e a Europa “podem ficar bastante fracos no segundo semestre deste ano”.
Ela também disse que a cota de 3,8 trilhões de yuans (US$ 550 bilhões) para títulos especiais locais – usados principalmente para financiar projetos de infraestrutura – “é um pouco baixa”.
“Isso pode significar que o crescimento da infraestrutura não será muito rápido”, disse ela. “Se o crescimento da infraestrutura for lento, pode impactar setores como aço e cimento em outros países também, porque a China pode importar menos commodities.”
Louis Kuijs, economista-chefe de Ásia-Pacífico da S&P Global Ratings
“Esse tipo de target faz sentido”, disse Kuijs. “Isso dá a mensagem de que o crescimento é importante, mas também temos outros objetivos, como considerações de desenvolvimento e estabilidade financeira, e que não queremos apenas aumentar o crescimento por si só.”
Kuijs disse que acredita que a política fiscal deste ano será “relativamente construtiva” e “apoiadora do crescimento”.
“A política fiscal é definida no início do ano – há espaço para mexer nisso mais tarde, mas muito disso é dito agora”, disse ele, acrescentando que a política monetária pode mudar no final do ano, dependendo de questões como inflação ou rápido crescimento do crédito.
Wei Yao, head de research e economista-chefe de Ásia-Pacífico e China da Societe Generale SA
A meta do PIB “continua a tradição da China de estabelecer uma meta bastante conservadora – ela prefere bater a meta em vez de não alcançá-la”, disse ela, acrescentando que “a eficácia da política fiscal será definitivamente mais forte do que no ano passado, mesmo que o déficit real diminua. Isso porque muito dinheiro foi gasto nos controles da pandemia de covid, mas este ano tudo será aplicado para impulsionar a economia.”
Veja mais em bloomberg.com
Leia também:
Da Sabesp ao Porto de Santos: o que SP planeja para aquecer o maior PIB do país
Por que a Argentina perdeu relevância como parceiro comercial do Brasil