Bloomberg Línea — “Quando São Paulo vai bem, o Brasil vai bem.” Ao longo da história, os ciclos da economia nacional confirmaram essa antiga máxima. Com esse raciocínio em mente, o novo secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado, o engenheiro mecânico Jorge Lima, planeja o futuro da principal vitrine do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) caso decida disputar a Presidência da República em 2026, ambição, por enquanto, negada em público.
A ordem recebida pelo secretário do ex-ministro da Infraestrutura do governo Bolsonaro é recuperar e fortalecer os principais polos industriais paulistas, afetados pela pandemia da covid-19.
Com 46 milhões de habitantes, o Estado mais populoso da federação responde por 27% do PIB (Produto Interno Bruto) do país, segundo o último ranking publicado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), com dados de 2020. As riquezas produzidas em SP (R$ 2,3 trilhões) superam o segundo lugar da lista (Rio de Janeiro, R$ 754 bilhões) em R$ 1,6 trilhão.
Em entrevista à Bloomberg Línea, feita antes das chuvas que provocaram deslizamentos e mortes no litoral paulista, Lima disse que sua secretaria começou um estudo, em conjunto com a Secretaria da Fazenda e Planejamento, para avaliar todos os benefícios concedidos aos polos industriais do estado.
O governo paulista quer medir o tamanho dos retornos em geração de emprego e renda.
A privatização da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) e a concessão do Porto de Santos, o maior do país, estão na agenda de prioridades econômicas do governo paulista, segundo o secretário.
A área econômica da nova gestão do governo paulista é liderada por ex-integrantes do governo Bolsonaro. Além de Lima no Desenvolvimento, a Secretaria de Fazenda e Planejamento é comandada por Samuel Kinoshita, que também foi ex-assessor especial de Guedes em Brasília.
O secretário de Desenvolvimento Econômico diz que o governo paulista não desistiu da privatização do Porto de Santos, apesar da oposição do novo governo federal.
Durante a gestão no Ministério da Infraestrutura, Tarcísio destacava a venda da “joia da coroa” do setor portuário como uma de suas prioridades, mas o projeto não saiu do papel. “Há divergências, mas vamos ajustar isso”, disse Lima.
Segundo o secretário, os investimentos em melhoria de infraestrutura em São Paulo devem ser liderados pela iniciativa privada por meio do PPI (Programa de Parcerias de Investimentos), área da responsabilidade de Rafael Beni, secretário de Parcerias em Investimentos. Os estudos para a privatização da Sabesp devem ficar prontos até o final de março.
Defesa de incentivo à indústria
Lima afirmou ainda que a indústria vai receber uma atenção especial em sua gestão devido à relevância do setor na composição do PIB estadual. “Estamos em diálogo com 16 coalizões empresariais. Teremos uma forte reindustrialização no Estado de São Paulo”, disse o secretário.
Um dos polos industriais paulistas que estão com atenção da pasta fica na região de Franca, no nordeste do Estado, que é voltada para o setor calçadista. A qualificação da mão de obra é uma necessidade desse segmento, segundo o secretário. “Em Franca, não há curso de design, por exemplo. Vamos desenvolver um projeto de jovem aprendiz nessa região”, disse.
Ele citou também a indústria automobilística como prioritária para receber incentivos.
“Temos de usar a inteligência para olhar aquilo em que somos fortes, nossas vocações. É indiscutível que o melhor polo automobilístico do Brasil fica em São Paulo. Temos de usar nossa criatividade para que assim permaneça”, afirma Lima.
Uma revisão de tributos como o ICMS (imposto estadual sobre circulação de mercadorias e prestação de serviços de transporte”, era uma reivindicação do setor. O aumento da alíquota durante a gestão do governador João Doria, do PSDB, fez, por exemplo, que Minas Gerais tirasse São Paulo da liderança no ranking mensal de emplacamento de novos veículos. Na última segunda-feira (27), o governador assinou decretos reduzindo tributos de diversos setores da economia.
O secretário se mostra cético com o sucesso de uma proposta ampla de reforma tributária no Congresso Nacional. Ele espera apenas a aprovação de medidas pontuais, já que o novo governo federal não tem maioria de votos no Legislativo e terá dificuldades de aprovar sua agenda.
A guerra fiscal, em que Estados oferecem incentivos fiscais para atrair investimentos, poderia, segundo Lima, resolvida em boa parte com uma reforma tributária.
Nas últimas décadas, São Paulo tem visto algumas empresas mudarem suas sedes para outros estados, seduzidas por vantagens oferecidas por outros governos, como foi o caso da fabricante de aeronaves de pequeno porte Octans Aircraft, com sede em São João da Boa Vista e que recebeu incentivos do governo do Ceará para instalar uma fábrica em Sobral, reduto de Ciro Gomes, do PDT.
“Em setores em que São Paulo é forte, podemos sim entrar na briga. São Paulo tem uma concentração de polos industriais. Há muitos segmentos em que somos melhores do que outros estados, como o agronegócio. Estamos nos preparando para uma visão do desenvolvimento muito forte em São Paulo, em que vamos proteger aquilo que temos de melhor e atrair aquilo que o Brasil ainda não tem, mas que São Paulo pode ter”, afirmou o secretário de Desenvolvimento Econômico.
PIB vs. média nacional
“Estamos preparados para fazer São Paulo voltar a ser o destaque industrial. Com as 16 coalizões empresariais criadas para inserir todas as regiões administrativas no PIB paulista, podemos direcionar os nossos programas para atender as demandas de cada região”, disse Lima.
No último dia 31 de janeiro, a Fundação Seade divulgou que o PIB do Estado de São Paulo avançou 2,9%, no acumulado de 2022 até novembro, com crescimento em todos os setores: serviços (3,8%), indústria (0,5%) e agropecuária (1,6%). No Brasil, segundo dados do IBGE, o PIB cresceu 2,9% em 2022.
“A economia paulista vem apresentando bons resultados, especialmente nos serviços, com destaque para os de alojamento e alimentação e de informação e comunicação”, disse o diretor executivo da Fundação, Bruno Caetano, em nota.
Com base nesses dados, a Fundação Seade projetou para 2023 as seguintes taxas de crescimento do PIB paulista: mínima de 1,1%, média de 1,6% e máxima de 2,3%, confirmando a perspectiva de acomodação do crescimento em patamares inferiores aos de 2022.
No Brasil, as projeções de mercado mais recentes apontam para um crescimento de 0,84% em 2023, segundo a mediana do boletim Focus, do Banco Central.
Recente estudo do banco Santander Brasil, divulgado no ano passado, projetou um aumento de 2,6% para o PIB paulista em 2022 e uma queda de 0,6% para 2023.
“Após forte queda em 2020 e retomada em 2021 e 2022, a indústria do Sudeste deve ter contração em 2023. Falta de insumos e política monetária restritiva devem impactar o setor em São Paulo e Minas Gerais em 2023. A piora na atividade deve impactar o setor de serviços em toda a região”, analisou a equipe do Santander.
Questionado sobre se o desempenho da economia paulista nos próximos quatro anos pode virar o principal trunfo do governador para enfrentar em 2026 uma eventual disputa eleitoral com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que admitiu, no começo deste mês, a possibilidade de disputar a reeleição, Lima respondeu:
“Estou com o governador Tarcísio desde janeiro, ajudei na campanha eleitoral, posso garantir que ele nunca falou ou pensou em eleição de 2026. Isso não faz parte de nenhuma conversa. A obsessão do novo plano de governo é fazer a economia de São Paulo crescer. É muito cedo para pensar no cenário de 2026”.
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