Bloomberg Línea — Em 2022, o capital investido em startups latinas contraiu dois dígitos. A nação que sofreu a maior queda no capital de risco foi a Argentina, com recuo de 67% nos investimentos, seguida do Brasil com perda de 52% e do México, que caiu 47%, segundo estudo da Endeavor e da Glisco Partners.
No entanto, 2022 foi o segundo ano de altos investimentos de capital de risco desde que o ecossistema empreendedor surgiu na América Latina. As startups latino-americanas continuam abordando questões específicas da região, o que as faz levantar capital de risco desde os estágios iniciais.
Nesta semana, startups dos setores de IA, proptech, heathtech, fintech e edtech levantaram seus primeiros cheques para continuar expandindo suas ofertas para outros países ou para fortalecer os mercados em que atuam. Confira os modelos de negócios das que receberam financiamento:
Voicemod
A startup espanhola Voicemod levantou US$ 14,5 milhões liderados pelo K Fund. Mesmo não sendo da América Latina, a empresa tem no Brasil parte significativa de seus negócios.
A empresa, que fornece transformação e aprimoramento de voz por meio de Inteligência Artificial proprietária, tinha 102 mil usuários ativos mensais em janeiro no Brasil. Em termos de novos usuários, o Brasil está no top 3 do mercado Voicemod, e em termos de receita é o top 10 nos últimos 12 meses.
Jaime Bosch, CEO e co-fundador da Voicemod, disse à Bloomberg Línea em entrevista que a empresa começou a se concentrar em jogadores online que queriam mudar suas vozes ao se socializar jogando videogames.
O produto de mudança de voz Voicemod começou no final de 2017 como uma experiência social para jogos e, quando a empresa começou a crescer, a Bosch começou a investir em IA.
“Funciona como um estúdio de música, estamos criando uma nova voz do zero, estamos treinando modelos para que você possa ter um personagem diferente, um gênero diferente, uma idade diferente, podemos mudar muitos aspectos”, disse ele.
Como é usado em jogos, a tecnologia Voicemod precisa funcionar em tempo real. E esse foi o principal desafiante. “Sinceramente, naquela época, não sabíamos se era viável fazer por causa das nuances do tempo real”, disse o empresário.
Em setembro de 2022, a startup lançou o trocador de voz em tempo real AI para o mercado. E a ideia é que, assim como as pessoas podem criar identidades digitais, agora elas seriam capazes de criar vozes que combinem com seu avatar.
Bosch diz que a tecnologia é capaz até mesmo de produzir uma voz cantada para realmente soar como um cantor profissional. “Somos capazes de sintonizar sua voz. Você pode cantar muito mal e então vai afinar sua voz. Passamos da pura autoexpressão, mais pela diversão e pela união, e agora estamos lentamente nos movendo em direção à identidade e casos de uso em massa imersivos”.
Amora
A Amora, uma startup que oferece meios para comprar imóveis, recebeu R$ 40 milhões via dívida por Certificados de Recebíveis Imobiliários e em patrimônio (equity).
O aporte teve como principal investidor a Cy Capital, gestora de recursos independente pertencente ao Grupo Cyrela (CYRE3).
A empresa finalizou a captação via CRI no final do ano passado, estendeu a rodada Seed e agora têm um ano e meio de dinheiro em caixa.
Em entrevista à Bloomberg Línea, o CEO da Amora, Aram Apovian, disse que a startup oferece um produto de contrato imobiliário, mas que não é financiamento, já que o cliente não precisa, necessariamente, adquirir o imóvel. A taxa é mais baixa do que um financiamento tradicional.
“É como se ele fosse um inquilino pagando aluguel para nós, mas se quiser comprar o imóvel pode virar proprietário. O cliente tem até três anos para tomar essa decisão, não há o compromisso de compra desde o início”, disse. E, caso o cliente decida por não comprar, fica como se tivesse pagado aluguel.
“Apesar de não ser uma operação financeira, há características parecidas”, explicou Apovian. Hoje, o portfólio de imóveis da Amora está disponível em São Paulo e região metropolitana, operando apenas com imóveis em condomínios.
Os concorrentes da empresa são todos modelos de negócio que trazem alternativas para a moradia de aluguel. “O nosso perfil de cliente são pessoas que tomam financiamento porque não têm dinheiro, ou querem sair de um financiamento, ou não têm certeza se querem mobilizar todo o capital para comprar uma casa”, disse o CEO.
Perguntado sobre a taxa de liquidez, o empreendedor disse que a Amora ainda está com a carteira muito recente, já que os clientes têm três anos para exercer a compra. “Até agora a gente teve um exercício e mais duas manifestações de interesse de exercer. A nossa expectativa é que mais do que a metade compre”, disse.
Webee
A startup de Córdoba, na Argentina, que projeta softwares com tecnologia de Internet das Coisas (IoT) e Inteligência Artificial (IA) para simplificar processos industriais, otimizar tempos de trabalho e reduzir custos de forma sustentável, recebeu um investimento do fundo latino Kamay Ventures.
O valor da transação não foi divulgado, mas o fundo informou à Bloomberg Línea que seu tíquete médio gira em torno de US$ 300 mil.
Criada em 2013 e instalada no Vale do Silício desde 2015, a Webee está presente nos Estados Unidos, México, América Central, Costa Rica e Argentina, e com o investimento do fundo buscará continuar expandindo na América Latina.
Para a Kamay Ventures é o terceiro investimento na vertical de IoT e se junta a outros do portfólio como: Wiagro, Ruedata, Auravant, Retrypay, Altscore, Zippin, Aerialoop e Kilimo.
Mattilda
A startup Mattilda, cujo modelo de negócio é um híbrido entre fintech, edtech e SaaS, captou uma linha de crédito de até US$ 10 milhões da Addem Capital totalizando US$ 20 milhões recebidos. Em outubro passado, a empresa obteve uma rodada seed de US$ 10 milhões de dólares, da qual participou o fundo de private equity de Nova York Fintech Collective.
A startup mexicana Mattilda fornece às escolas uma plataforma de administração, adiantamentos de mensalidades e acesso a empréstimos.
Com o novo capital, a startup pretende expandir para mais escolas para oferecer liquidez a elas.
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