OnlyFans: como o site se tornou um negócio para criadores de conteúdo adulto

Com mais de 1,4 milhão de usuários ao mês no Brasil, plataforma desacelera o crescimento em 2022 diante de competição, enquanto criadores buscam fidelizar assinantes

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Bloomberg Línea — GRWM (Get Ready With Me, arrume-se comigo) é um acrônimo popular nas redes sociais para indicar vídeos em que usuários exibem para seus seguidores como se vestem, de peças íntimas a calçados. A trend, frequente no Instagram, no TikTok e no YouTube, tornou-se uma das iscas para aumentar o tráfego de plataformas de conteúdo adulto pago, como o OnlyFans. Funcionando como uma espécie de “amostra grátis”, postar um GRWM em páginas gratuitas ativa o gatilho para alguns fãs visitarem os perfis que exigem pagamento de assinatura em busca de imagens mais explícitas.

A Bloomberg Línea acompanhou quatro contas do OnlyFans para explicar o que criadores de conteúdo adulto na plataforma fazem para atrair assinantes.

Além de recorrer a redes sociais como o Instagram e o TikTok para apresentar seu estilo de vida e abrir o apetite dos seguidores para um contato, digamos, mais personalizado, elas seguem receitas típicas do varejo, como política de preços promocionais, incentivos à renovação de assinaturas, parcerias com marcas e ações de marketing ao vivo.

Exemplo: a modelo mineira Núbia Oliveira, que já estampou capas de revista, cobra R$ 15 pela assinatura mensal de sua conta no OnlyFans. O acesso a suas fotos e vídeos em que aparece sem roupa pode sair mais barato se o usuário escolher algum pacote de assinatura, o que garante recorrência de receita para a criadora de conteúdo adulto: R$ 42,75 por três meses ou R$ 81 por seis meses.

“Entrego aquilo que digo. Não tem filme pornô, apenas alguns vídeos sensuais e muitas fotos nuas do meu dia-a-dia e dos meus ensaios fotográficos”, disse Oliveira, que conquistou a fama como assistente de palco de programas populares da TV desde o final dos anos 1990, à Bloomberg Línea.

No Brasil, o OnlyFans enfrenta um ambiente de maior concorrência com o avanço de outras plataformas como o Privacy, que fica com 20% do valor de cada assinatura e paga 80% ao criador do conteúdo. Um dos diferenciais do site brasileiro, com sede em São Paulo, é aceitar o uso de boleto e do Pix (sistema de pagamentos instantâneos) e oferecer estúdio para a realização de sessões de foto.

Outra plataforma brasileira de conteúdo adulto se chama Only Diamonds, projeto da empresária Viviane Bordin, que já teve ensaios publicados pela tradicional revista de nudez feminina Playboy. O site de Bordin cobra pelo acesso do usuário a vídeos e fotos de mulheres e homens.

“Nosso foco é a entrega de conteúdo das parcerias, de modelos, artistas e coaches com assinatura direta dos fãs e dos seguidores. Se a pessoa for desapegada do tabu e do preconceito tem muito a ganhar. Sempre digo: por que se expor gratuitamente nas redes sociais enquanto os assinantes pagam até para ver um pé?”, questionou Bordin.

Definir bem o público-alvo é outra estratégia importante para a conversão de assinaturas apontada pelos criadores de conteúdo adulto, que exploram principalmente o conjunto de diversos fetiches.

O recurso aos vídeos da trend GRWM já indica, em alguns casos, qual parte do corpo será mais exibida de forma explícita aos assinantes. Marcas de roupas íntimas e lojas de brinquedos eróticos chegam a patrocinar modelos do OnlyFans e se tornam uma fonte extra de recursos.

Gorjeta como curtida

O usuário do OnlyFans pode, além da assinatura, enviar gorjetas pela postagem como incentivo apenas apertando um botão similar ao de “curtida”, algo que serve, segundo alguns criadores de conteúdo, como uma métrica importante para descobrir as fórmulas de vídeos e fotos que monetizam mais.

O faturamento mensal com uma conta de OnlyFans oscila bastante, segundo as fontes. “Não gosto de dizer o valor, pois varia muito. Há mês que é alto, há mês que é baixo”, disse Oliveira.

Outra forma de impulsionar os ganhos é o disparo de mensagens diretas na caixa de entrada das contas dos assinantes do OnlyFans, oferecendo conteúdo adicional exclusivo ou até chamadas individuais de vídeo, que dão direito a sessões de striptease online.

Nesses casos, o usuário terá que desembolsar quantias extras para visualizar as imagens. É comum que o criador poste aos assinantes apenas trechos de vídeos explícitos e ofereça o acesso a íntegras da gravação cobrando mais.

Amostra grátis

A duplicidade de páginas também é frequente. O dono de uma conta no OnlyFans contou à reportagem que atrai assinantes com fotos sensuais postadas no Instagram, usando a biografia do perfil para levar a seus dois links no OnlyFans. Em uma página gratuita da plafatorma, ele posta fotos de nudez, com links para a conta paga que dá acesso até aos vídeos de suas relações sexuais.

Uma andorinha só não faz verão. Esse ditado é citado por uma criadora de conteúdo para apontar o “cross marketing” (promoção cruzada, colab) como um dos caminhos para capturar assinantes e elevar o faturamento.

Na prática, isso é feito com a união entre influenciadores, em que os dois protagonizam, juntos, ensaios e vídeos como forma de entrelaçar suas bases de seguidores e de reter usuários. Administrar uma página no Onlyfans é como roteirizar uma novela ou um filme: é preciso criar novidades diariamente para surpreender e motivar o usuário a renovar a assinatura, segundo ela.

As políticas de conduta adotadas pelas redes sociais, que costuma banir imagens de nudez, podem ser um entrave à estratégia de engajamento e de captura de novos assinantes usada pelos donos de contas em plataformas de conteúdo adulto. “Estou tendo muitos problemas, pois tive três contas do Instagram derrubadas. Mas uso o Twitter, o Facebook, TikTok e o Koo”, conta Oliveira.

Poder do fitness

Uma das armas dos modelos para atrair a assinantes é postar vídeos de treinos de musculação e outras atividades atléticas. Um desses nichos é conhecido como “naked yoga”, em que os influenciadores praticam posturas da ioga sem roupa.

O Reels, ferramenta do Instagram, grava, edita e publica vídeos curtos sem enquadramentos explícitos, despertando a atenção dos seguidores para assinar a conta do OnlyFans e ter acesso aos momentos mais reveladores.

Um desses adeptos da naked yoga cobra assinatura mensal de US$ 13,90 (ou US$ 35,45 por três meses e US$ 62,55 por plano semestral) pelo acesso a seus vídeos e fotos em que aparece em poses de asana, com seu corpo desnudo, às vezes sob o olhar de seu cachorro.

Mesmo sendo brasileiro, ele posta as legendas em inglês, pois a maioria de seus assinantes é de fora do país. Ele diz que nunca imaginaria que seu conteúdo de naked yoga se tornaria sua principal fonte de renda.

Núbia Oliveira também utiliza a caixa de mensagens diretas para enviar aos seus assinantes material adicional às suas postagens no OnlyFans. “Eles me pedem fotos e vídeos mais explícitos de partes do meu corpo, como pés e língua”, diz a modelo, que participava do quadro Banheira do Gugu no SBT.

A presença no OnlyFans também catapulta essas figuras para a mídia especializada na cobertura de famosos da internet. Foi o que aconteceu com as irmãs Sumpanis, Larissa e Rafaela Sumpani, que trabalham juntas em plataformas adultas como o OnlyFans, apresentando-se como “Kardashians para Maiores”, o que atrai a atenção de sites de fofocas.

Elas dizem que “faturam milhões”, investem parte dos lucros na Bolsa e em outros negócios, como uma empresa de encapsulados (suplementos alimentares). “Como em qualquer empreitada, ter êxito nas vendas do OnlyFans depende de uma boa dose de visão de negócio. Tem que ter foco, organização e vocação”, diz Rafaela.

Ranking do conteúdo adulto

Os dados de tráfego de usuários na internet apontam que o Brasil, visto como um celeiro de criadores de conteúdo adulto, ainda está longe de se destacar em números de pessoas dispostas a pagar por esse tipo de postagem, diante de uma profusão de páginas gratuitas de nudez.

Em 2022, o OnlyFans foi o 24º site de conteúdo adulto mais acessado no Brasil com apenas 0,52% de participação, segundo a Similarweb, empresa que monitora o tráfego na internet. O ranking é liderado pelo Xvideos com 36%, seguido pelo Pornhub com 14,5%.

O site do Brasil melhor posicionado é o Fatal Model, um site de acompanhantes, em 5º lugar, com 3,05%. Já o Privacy aparece em 30º, com 0,44% do tráfego, abaixo do Pornô Carioca (14º lugar, com 0,93%) e o Disponível (15º, com 0,84%).

Globamente, o OnlyFans ocupou a 9ª posição no ranking, com fatia de 1,70% no tráfego da categoria de conteúdo adulto em 2022. A exemplo do Brasil, o Xvideos aparece em 1º com 16,67% do mercado, à frente do Pornhub, com 14,53%, do francês XNXX com 13,24% e do xHamster com 7,06%.

No mundo, o OnlyFans teve uma média de 68,68 milhões usuários únicos por mês entre janeiro e dezembro de 2022, segundo a Similarweb. Esse número considera que um mesmo usuário pode ter acessado o site pelo desktop e por um dispositivo móvel/celular, por exemplo.

Já a chamada “audiência deduplicada” (e portanto, contando cada usuário apenas uma vez) foi de 59,490 milhões de usuários únicos. Os valores deduplicados eliminam a repetição de dados, sendo mais refinados, e representam o total médio de indivíduos direcionando tráfego para um site a partir de vários dispositivos, mas sendo contados apenas uma vez.

Ritmo menor de expansão

No Brasil, a média para o mesmo período (janeiro a dezembro de 2022) foi de 2,685 milhões de usuários únicos do OnlyFans por mês, segundo a SimilarWeb. Já a audiência deduplicada foi de 2,409 milhões de usuários únicos.

No ano passado, houve uma redução no ritmo de crescimento do OnlyFans. Segundo a Similarweb, de 2020 para 2021, por exemplo, o Onlyfans teve um aumento de 47% em usuários únicos deduplicados (desktop mais mobile web) no Brasil. Já de 2021 para 2022, apesar de seguir em expansão no país, o crescimento da plataforma não foi tão expressivo: 11% na mesma métrica.

“Muitos influenciadores não estão ganhando tanto dinheiro quanto antes devido à quantidade de concorrência e à queda no engajamento do público nas principais redes sociais como o Instagram. Eles recorrem ao OnlyFans para manter ou aumentar seu estilo de vida, mas isso coloca o seu público original em risco, pois eles podem não estar alinhados com as novas atividades”, analisou Assil Dayri, diretor do AMD Consulting Group especializado em marketing digital e redes sociais.

Faturamento

O OnlyFans viu seu negócio crescer com a pandemia, período em que todos foram forçados a ficar em casa, e o tempo gasto na internet aumentou. No ano fechado em 30 de novembro de 2021, a empresa reportou receita de US$ 932 milhões, ante os US$ 358 milhões registrados em 2020. Foram US$ 573 milhões a mais em um ano, alta de mais de 160%. Isso se traduziu em lucros. Em 2021, a empresa reportou lucros antes de impostos de US$ 433 milhões, ante US$ 61 milhões apurados no ano anterior.

O OnlyFans é uma empresa britânica, com sede em Londres. Publica balanços e divulga informações ao mercado por meio da autoridade do mercado mobiliário do Reino Unido. Mas, como não tem capital aberto, está sujeita a regras diferentes de divulgação. O último balanço disponível é o do ano encerrado em 30 de novembro de 2021, que foi divulgado em outubro de 2022.

Em comunicado enviado à Bloomberg Línea, a empresa disse que, desde 2016, mais de US$ 10 bilhões foram pagos por meio de suas plataformas. E vem crescendo: entre 2020 e 2021 os pagamentos saíram de US$ 2,2 bilhões para US$ 4,4 bilhões, segundo o balanço enviado à autoridade do mercado de capitais do Reino Unido.

Apesar de ser conhecida pelas criadores de conteúdo erótico, a empresa não se define como uma plataforma para pornografia. No comunicado enviado à reportagem, se definiu como “plataforma de assinatura que empodera os criadores para atingir todo o seu potencial, expressando-se livremente, monetizando seu conteúdo e desenvolvendo conexões autênticas com seus fãs”.

Não foram informados dados sobre a proporção de conteúdo pornográfico em suas plataformas e nem quantos criadores de cada categoria há. Entretanto, no comunicado enviado à Bloomberg Línea, o OnlyFans disse abrir espaço para criadores de todo tipo, incluindo modelos - os exemplos citados são Carmen Electra, Lottie Moss, Belle Delphine, Mia Khalifa, que produzem conteúdo erótico.

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