Bloomberg — O ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro foi recebido com entusiasmo por conservadores americanos reunidos no subúrbio de Washington e disse que sua “missão não acabou”, deixando em aberto a possibilidade de que seu movimento continue sem ele.
Bolsonaro, 67 anos, falou no último dia da Convenção Política Conservadora (CPAC, na sigla em inglês) neste sábado (4), depois que seu filho Eduardo, um congressista brasileiro, se dirigiu ao grupo antes do discurso de encerramento do ex-presidente Donald Trump.
“Neste momento, agradeço a Deus pela minha segunda vida e também pela missão de ser presidente do Brasil por um mandato”, disse Bolsonaro por meio de um intérprete em um discurso de 23 minutos. “Mas sinto no fundo que esta missão não acabou.”
Embora Bolsonaro tenha indicado anteriormente que pretende voltar para casa para liderar um movimento de oposição, seu discurso no sábado não deu nenhuma indicação de como ou quando. Serviu mais para destacar as medidas conservadoras tomadas durante seu mandato, como a desregulamentação para proprietários de armas e a abordagem para combater a pandemia de coronavírus.
Mais tarde, à NBC News, ele disse que pretende voltar ao Brasil em março. Ele já sinalizou anteriormente outros prazos para voltar ao país, como o fim de janeiro e depois em fevereiro.
“Eles ficam dizendo: ‘Ciência, ciência, ciência’. O que eu digo é: ‘liberdade, liberdade, liberdade’”, disse Bolsonaro sob aplausos.
Os participantes da convenção comemoraram quando Bolsonaro disse que nunca forçou ninguém a tomar a vacina contra a covid no Brasil, que sofreu uma das piores taxas de pandemia do mundo.
O ex-presidente brasileiro e Trump são aliados próximos. Bolosonaro – muitas vezes chamado de “Trump dos Trópicos” – disse que tem um relacionamento “excepcional” com Trump, que endossou Bolsonaro em sua candidatura malsucedida à reeleição no ano passado.
Bolsonaro usou seu discurso para dar golpes aparentes no Supremo Tribunal Federal (STF), que investiga ele e seus aliados por espalhar desinformação sobre o resultado da eleição do ano passado. Desde sua derrota, o tribunal ordenou que as contas de mídia social dos maiores aliados de Bolsonaro, incluindo membros do Congresso e influenciadores, fossem retiradas por alimentar dúvidas sobre os resultados.
“Devemos estar sempre preocupados com nossas liberdades”, disse ele. “É como um grande amor, você deve cuidar dele todos os dias para não perdê-lo. A melhor maneira de controlar a mídia social é mais liberdade.”
Depois de perder para Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno em 30 de outubro, Bolsonaro voou para a Flórida dois dias antes do final de seu mandato, evitando a posse de Lula em 1º de janeiro. Ele viajou com visto diplomático e desde então pediu um visto de turista para prolongar sua estada.
O ex-presidente brasileiro emergiu de seu exílio autoimposto, dirigindo-se a seus apoiadores em comícios nos Estados Unidos no final de janeiro, inclusive falando em um evento organizado pela Turning Point USA no resort de Trump em Doral Miami.
Bolsonaro parecia deixar em aberto a possibilidade de nunca mais voltar para casa.
“Tenho certeza de que plantamos muitas sementes no Brasil. Elegemos muitas pessoas desconhecidas, mas com grande potencial e muitas delas aqui comigo”, disse. “Eu sempre digo a eles, o melhor cenário é que as pessoas não precisam de nós.”
Bolsonaro enfrenta várias investigações no Brasil, inclusive sobre seu suposto envolvimento nos ataques à democracia e a instituições da República brasileira em 8 de janeiro por apoiadores que se recusaram a aceitar sua derrota nas eleições de outubro. O tumulto atraiu comparações com o ataque de 6 de janeiro de 2021 ao Capitólio dos Estados Unidos por fiéis de Trump.
Como Trump, que afirma falsamente que a eleição presidencial de 2020 foi fraudada e roubada, Bolsonaro disse no sábado que tinha “muito mais apoio” em sua candidatura à reeleição do que quando concorreu pela primeira vez e “não entendo por que os números refletem o contrário. "
O governo de Lula quer que Bolsonaro compareça aos tribunais brasileiros nos próximos meses, de acordo com um assessor de alto escalão do líder esquerdista. O governo está considerando opções para forçá-lo a retornar se ele não voltar voluntariamente até o final de março, disse um assessor, pedindo anonimato para discutir informações confidenciais.
A CPAC tem um histórico de receber líderes mundiais autoritários em seus eventos. O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, dirigiu-se ao grupo no ano passado em Dallas, onde seu discurso contra progressistas, imigrantes e a mídia foi calorosamente recebido com aplausos entusiasmados.
- Com a colaboração de Daniel Carvalho e Rachel Gamarski.
- Matéria atualizada às 13h12 de 5 de março com a declaração à NBC News de que pretende voltar ao Brasil neste mês de março, sem precisar um dia específico.
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