Setor de máquinas agrícolas já vê 1º semestre ‘perdido’ com crédito mais caro

Em janeiro, vendas de equipamentos para o agronegócio desabaram 30% para o menor patamar desde 2016, com produtores esperando definição sobre próximo Plano Safra e juros

Empresários do agronegócio evitam tomar empréstimos de longo prazo com taxas elevadas de juros, diz representante da indústria de máquinas agrícolas na Abimaq
02 de Março, 2023 | 11:14 AM

Bloomberg Línea — Um dos carros-chefes da economia brasileira (25% do PIB em 2022), o agronegócio começou a pisar mais forte no freio na hora de tomar empréstimos devido à manutenção da taxa Selic em 13,75% ao ano. Um dos termômetros dessa cautela é a redução do apetite na encomenda de máquinas e equipamentos agrícolas.

Em janeiro, as vendas desses bens de capital despencaram 30% em 12 meses, atingindo o menor patamar desde 2016. O dado foi divulgado Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos) na terça-feira (28).

Vamos perder o primeiro semestre”, admite o presidente da câmara setorial de máquinas e implementos agrícolas da entidade, Pedro Estevão, durante entrevista coletiva sobre o desempenho do setor no primeiro mês do ano.

Ele explica que os produtores rurais estão em compasso de espera pelas definições do governo federal sobre o Plano Safra, com lançamento previsto para julho.

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“Há recursos nos bancos comerciais, mas ninguém quer tomar uma dívida de longo prazo com os juros que começam em 16% e vão até 18% ao ano”, diz Estevão.

Ele afirma que um “aporte” do governo federal no setor poderia reverter essa tendência negativa para o 1º semestre. “Essa queda de 30% em janeiro foi assustadora. O recurso do Plano Safra acabou em outubro do ano passado. Ninguém vai comprar máquinas agrícolas com os juros nesse patamar.”

Estevão disse esperar que esse “vácuo de política política” não se arraste por muito tempo, a fim de se evitar um desempenho negativo do segmento ao longo de 2023. Por enquanto, a Abimaq não revisou sua projeção de crescimento do setor para 2023.

Interlocução com governo

Cristina Zanella, diretora da Abimaq para temas econômicos, disse que o governo federal já começou uma interlocução com a entidade para discutir temas de interesse do setor. “Estamos dialogando. De concreto, ainda não temos nada, mas vemos essa iniciativa com bons olhos”, resumiu.

Segundo Zanella, a indústria de máquinas e equipamentos tem participado das discussões setoriais sobre reforma tributária, comandadas pelo secretário de reforma tributária do Ministério da Fazenda, Bernardo Appy, e mudanças na TLP (Taxa de Longo Prazo) do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

Já Patricia Gomes, gerente de mercado externo da Abimaq, acrescenta que diversas áreas do governo federal ainda estão sendo estruturadas. Neste mês, por exemplo, o Banco do Brasil ainda não tinha oficializado seu novo CFO nem o vice-presidente de agronegócio.

Os dados gerais da Abimaq de janeiro apontaram quedas de 14% na receita líquida do setor, de 11% no consumo aparente, de 12% nas exportações e 4% nas importações, na comparação com dezembro. “O ano de 2023 inicia com o pior desempenho dos últimos três anos, reforçando a percepção de desaceleração do setor”, concluiu o boletim divulgado pela entidade.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.