Petrobras: Prates diz que ser sócio do estado é vantagem para investidores

Novo CEO da estatal afirmou em teleconferência que vai perseguir ‘robustez’ em dividendos e lucros próximos aos níveis atuais; e criticou venda de ativos da gestão anterior

Sede de Petrobras en Río de Janeiro.
02 de Março, 2023 | 02:28 PM

Bloomberg Línea — O novo presidente da Petrobras (PETR3, PETR4), Jean Paul Prates, defendeu nesta quinta-feira (2) a investidores e analistas o diálogo ao ser questionado sobre temas como futuras políticas de investimentos, venda de ativos e distribuição de dividendos da companhia.

“Quando conversamos sobre projetos, em vez de decretá-los de cima para baixo, acreditamos que é possível dialogar. O investidor [precisa] enxergar que ser sócio do Estado brasileiro é uma vantagem. Se alguém ainda tem dúvidas disso, cabe a essa nova gestão, como foi na passada, provar que ter o Estado como sócio é um bônus, não um ônus”, afirmou em teleconferência com investidores.

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Sem dar detalhes, Prates afirmou que a companhia pretende manter o atual patamar de lucros, apesar das críticas públicas feitas pela base política do governo à lucratividade da estatal.

Vamos ter, sim, uma robustez de dividendos, pretendemos ter lucros à altura dos que foram auferidos agora, embora eu imagine que devam ser circunstâncias diferentes, portanto, o desafio é bem maior [agora]”, observou o executivo.

“Nós tivemos circunstâncias definidoras nos últimos dois anos, que tiveram relação com o período pós-covid. A retomada da economia acabou levando a um salto nos preços do petróleo”, acrescentou.

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A Petrobras reportou lucro líquido recorde de R$ 188 bilhões em 2022. Apesar do receio do mercado em relação a uma eventual mudança na política de dividendos, a petroleira anunciou a distribuição de R$ 35,8 bilhões em proventos no quarto trimestre.

Venda de ativos

Prates criticou a política de venda de ativos da gestão anterior. “Não vamos necessariamente sair vendendo ativos por decisões governamentais, não vamos nos desfazer de ativos ou regiões inteiras simplesmente porque o governo quer, vamos tomar decisões de empresa”, disse.

O novo CEO da estatal acrescentou que, nos casos em que houver oportunidades, no Brasil ou no exterior, a companhia vai avaliar. “Não será um imperador, uma única pessoa que vai decidir isso, será o Conselho de Administração, a diretora executiva, com um diálogo com investidores”, destacou.

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Nesse contexto, Prates foi enfático ao dizer que a companhia vai continuar tendo como negócio principal a exploração e a produção de petróleo e gás.

“A Petrobras vai manter seu foco no upstream, no pré-sal, porque é a nossa atividade principal, ninguém se transforma do dia para a noite. Isso é importante para financiar a transição [energética]”, assinalou.

O executivo afirmou ainda que mais de 80% dos investimentos da companhia são destinados à exploração e produção de hidrocarbonetos, o que não deve mudar no curto e médio prazo. “Não vai ser uma transição que faremos muito rapidamente”.

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O executivo destacou que a produção de energia eólica offshore (em alto-mar) é “natural” para a Petrobras, devido à sua experiência em águas profundas e ultraprofundas, mas reforçou que o processo será feito de maneira cuidadosa.

Prates disse ainda que projetos fora do escopo principal, como fertilizantes e indústria petroquímica, não estão descartados do portfólio da companhia, assim como oportunidades no exterior. “Por que não? Nada está excluído, mas tudo será avaliado com cuidado.”

Imposto sobre exportação

O CEO da Petrobras disse que a taxação das exportações de petróleo como forma de compensar a reoneração dos combustíveis é temporária e que ele, como parlamentar - ele foi senador pelo estado do Rio Grande do Norte -, não era a favor da medida.

“Não somos necessariamente a favor disso, no Congresso não era uma iniciativa de que eu gostava, mas temos que lidar com isso”, disse.

O executivo estimou que o novo imposto deve representar um impacto de cerca de US$ 9 milhões por dia para o caixa da companhia. Como se trata de um tributo temporário, de quatro meses, o total do custo deve ser de cerca de US$ 1 bilhão (mais de R$ 5,2 bilhões ao câmbio atual), disse.

“Se esse imposto se tornar permanente, entendemos as razões do governo, mas teremos que lidar com isso.”

Segundo Prates, atualmente a Petrobras está exportando 1,3 milhão de barris por dia.

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Juliana Estigarríbia

Jornalista brasileira, cobre negócios há mais de 12 anos, com experiência em tempo real, site, revista e jornal impresso. Tem passagens pelo Broadcast, da Agência Estado/Estadão, revista Exame e jornal DCI. Anteriormente, atuou em produção e reportagem de política por 7 anos para veículos de rádio e TV.