PagSeguro quer reduzir risco da carteira com aumento de crédito com garantia

Empresa divulgou lucro líquido ajustado de R$ 411 milhões no 4º trimestre com crescimento no volume de adquirência e reprecificação com vendedores; ação subia 7,6%

Crescimento no volume de adquirência ajudou a impulsionar o resultado do PagSeguro no quarto trimestre de 2022
02 de Março, 2023 | 06:57 PM

Bloomberg Línea — O PagSeguro (PAGS), que parou de originar crédito não-colaterizado no ano passado, quer apostar mais nos produtos com garantia em 2023 em momento de aumento do risco.

As ações do PagSeguro caíram 7,4% na última semana e estão em queda de 45% em relação ao ano passado, mas subiam cerca de 7,6% no after market após os resultados, às 19h de Brasília.

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Fintechs latino-americanas listadas nos Estados Unidos têm adotado diferentes estratégias para a originação de crédito em um cenário de risco maior no Brasil com juros altos somados ao maior endividamento das famílias. Há também pressões causadas pela recuperação judicial da Americanas (AMER3) e pela instabilidade fiscal com as medidas do novo governo.

O Nubank (NU) disse em conferência com investidores sobre os resultados do último trimestre que pretende acelerar a originação de empréstimos pessoais neste ano, enquanto o Mercado Livre (MELI) afirmou que ainda vai esperar para observar como o cenário macroeconômico vai se comportar. Ambas as fintechs desaceleraram a originação em 2022.

O PagSeguro disse que está reforçando e desenvolvendo a estrutura de riscos e de prevenção à fraude para que, “em momento oportuno neste ano”, volte a originar linhas de crédito sem garantia, conforme disse o CEO Alexandre Magnani em entrevista à Bloomberg Línea.

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Eric Oliveira, diretor de relações com investidores do PagBank PagSeguro, disse que a empresa tem crescido em produtos de crédito com garantia, como crédito consignado para aposentados e servidores públicos e antecipação do saque-aniversário do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), além de cartões com garantia do CDB ou da reserva de saldo da chamada conta rendeira. São produtos com menor rentabilidade do que o crédito sem garantia, mas que também têm menos risco.

A empresa também tem em operação produtos sem garantia em que trabalha com limite especial da conta, com cartão de crédito e com linha de capital em giro. Para esses produtos, a fintech não divulga o nível exato de inadimplência, mas Artur Schunck, CFO do PagSeguro, disse que desde julho o NPL (non-performing loans) vem apresentando melhoras por causa da troca de operações de crédito não-colateralizado para operações com garantia.

“Isso deve permanecer ao longo de 2023, em que os itens com garantia vão ser superiores aos itens a serem garantidos”, disse Schunck.

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O negócio de adquirência é grande consumidor de capital de giro porque a empresa faz o pré-pagamento para grande parte da base de clientes que utilizam a maquininha.

Mas, segundo Oliveira, o PagSeguro tem conseguido engajar esses clientes que alocam dinheiro na plataforma, atingindo um volume de R$ 142 bilhões, o que ajudou a alavancar o nível de depósitos: 67% do financiamento de terceiros vêm desses depósitos.

“Isso dá uma segurança, uma robustez para a empresa, porque ficamos menos dependentes de financiamento bancário no mercado. E nos ajuda a baixar e baratear o custo, uma vez que os depósitos representam a fonte de financiamento mais barata para nós”, disse.

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Enquanto o título corporativo da Stone (STNE) acumula perda maior que 10%, o PagSeguro, que não fez emissões desse tipo, diz que tem uma gama “bem diversificada de linhas que inclui os depósitos”, segundo Schunck.

“Estamos com uma posição bem menor de empréstimos, fizemos antecipação de recebíveis junto aos bancos de emissores e temos uma diversidade muito grande de produtos que utilizamos. A nossa captação é bem varejo e não é muito concentrada”, disse. Entre os bancos credores do PagSeguro estão Itaú, Bradesco, Safra e Banco do Brasil.

Resultados do quarto trimestre

A empresa superou as expectativas de analistas para o lucro líquido ajustado no quarto trimestre de 2022, com R$ 411 milhões, um crescimento de 24% ano contra ano. Os analistas consultados pela Bloomberg esperavam R$ 406,1 milhões. O lucro líquido contábil foi de R$ 408 milhões.

Magnani disse ainda que os principais motores de receita da companhia no trimestre foram o volume da adquirência - em que a empresa cresceu 19% no quarto trimestre, enquanto o mercado cresceu 12% - e a reprecificação - aumento de taxas - feita aos clientes no ano passado. A empresa finalizou o ano de 2022 com 40% da carteira de crédito alocada em produtos com garantia.

“Fizemos a reprecificação em vários segmentos para os merchants da nossa base. Não é o mesmo percentual de aumento para todos os clientes. Tivemos um efeito positivo do nosso take rate total e consequentemente da nossa rentabilidade. Esse foi um dos fatores que nos ajudou a recompor as margens em função do aumento do custo financeiro. Alteramos e aumentamos as taxas de antecipação dos nossos clientes”, disse Magnani.

A empresa teve um lucro por ação ajustado de R$ 1,24 no quarto trimestre e um volume de pagamentos processados juntando os negócios de adquirência e do PagBank de R$ 209 bilhões, em ambos os casos batendo as expectativas dos analistas consultados pela Bloomberg.

A fintech ficou pouco abaixo dos 7,2 milhões de merchants ativos no trimestre esperados pelos analistas, fechando os últimos três meses de 2022 com 7,1 milhões de vendedores ativos. A margem GAAP da companhia ficou em 10,3%, e a Non-GAAP, em 10,4%. O Ebitda ajustado foi de R$ 788 milhões.

A receita total foi de R$ 3,69 bilhões no trimestre, enquanto os analistas esperavam R$ 4,05 bilhões.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups