CEO da Petrobras diz que paridade de preços não pode ser um dogma

Jean Paul Prates diz que combustíveis terão como referência o mercado doméstico, e não mais as cotações internacionais do petróleo; dividendos também mudarão

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Bloomberg Línea — O CEO da Petrobras (PETR3, PETR4), Jean Paul Prates, vem demonstrando convicção de que as políticas da companhia vão mudar, tanto no âmbito de preços quanto de distribuição de dividendos.

Em sua primeira agenda de compromissos com investidores, analistas jornalistas nesta quinta-feira (2), Prates defendeu uma política de “flexibilidade” para a distribuição de proventos. Também repetiu, inúmeras vezes, que a Petrobras vai praticar preços competitivos para que a companhia garanta sua fatia de mercado frente aos concorrentes.

O executivo disse que a política de Preço de Paridade de Importação (PPI) virou um verdadeiro “dogma”. Em sua avaliação, o PPI só garante posição confortável para os concorrentes.

“Temos que desmistificar que o PPI é uma referência, podemos usar 3 ou 4, dependendo da conveniência para mantermos [participação de] mercado”, disse em sua primeira coletiva de imprensa à frente da estatal. “Sou pago para defender a empresa, captar mais clientes e ser a melhor opção [para eles].”

Ele comparou o petróleo ao café para reforçar seu argumento de precificação baseada no mercado doméstico.

“O café é cotado internacionalmente, entretanto, quem mói e torra o grão no Brasil adota os preços de acordo com os mercados em que atua. Essa será a política de preços que a Petrobras vai fazer”, destacou.

“Abrasileirar”

Prates explicou que a estatal vai atuar como qualquer outra empresa do mercado, praticando preços de acordo com a região, os custos de infraestrutura de transporte, o cliente – se é bom ou mau pagador – e o ambiente de negócios.

O executivo defendeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de suas declarações de que é preciso “abrasileirar” os preços dos combustíveis.

“Abrasileirar o preço é natural, é praticar o preço que cada mercado está disposto a pagar por aquele determinado produto, seja qual for”, observou.

Dividendos

A Petrobras aprovou a distribuição de R$ 35,8 bilhões em dividendos referentes ao exercício do quarto trimestre, de acordo com as regras da companhia. As informações foram divulgadas na noite de quarta-feira (1º).

Na visão de Prates, a nova política de distribuição de proventos tem que ser “um pouco solta”.

“O tempo todo essa questão precisa ser discutida com o acionista, com o governo, com o conselho. [Distribuição] de dividendos tem que ser uma regra um pouco solta. Ter apenas uma pode ficar amarrado demais”, disse o executivo, que disse que a distribuição mínima de 25% do lucro líquido será mantida.

Obrigatoriedade

Prates afirmou que, acima da regra legal, há muito o que se discutir.

“Eu pergunto: todas as empresas privadas ou parcialmente privadas têm uma regra estatutária para distribuir [dividendos]? Não têm, por que a Petrobras tem que ter?” indagou. “Pode ser que internamente a gente chegue à conclusão de que é preciso uma regra mínima, ou um range, algo um pouco mais flexível. É a diferença entre uma incógnita e uma regra dura.”

Mais cedo, a investidores, o executivo disse que a companhia deve continuar pagando o que classificou como bons dividendos.

“Vamos ter, sim, uma robustez de dividendos, pretendemos ter lucros à altura dos que foram auferidos agora, embora eu imagine que [agora] devam ser circunstâncias diferentes”, disse em referência aos patamares vigentes e esperados para os preços internacionais do petróleo, abaixo daqueles registrados há um ano por ocasião do início da guerra da Rússia contra a Ucrânia e das sanções ao país de Vladimir Putin.

Interferência

Prates também foi enfático ao dizer que não há problemas de ele se encontrar tanto com o presidente da República quanto com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.

“O presidente da República é o CEO do acionista majoritário, que é o governo, posso conversar com Lula a hora que eu quiser. Também posso receber o ministro de Minas e Energia quantas vezes eu quiser, são os acionistas da companhia, não há problema nisso”, reforçou.

O executivo também negou que exista intervencionismo na companhia. “Quem era intervencionista era o governo anterior.”

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