Bloomberg Línea — Depois da inflação e das perdas com câmbio, o mau tempo no quarto trimestre virou um detrator à trajetória de volume de vendas recorde da Ambev (ABEV3). O consumo de cerveja diminuiu em algumas regiões afetadas pelas chuvas e frio atípico. Esse é o tom negativo do balanço de quarto trimestre da multinacional brasileira de bebidas.
O grupo, controlado pelo trio da 3G Capital, dos bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Herrmann Telles, Carlos Alberto Sicupira, envolvidos no colapso da varejista Americanas (AMER3), fechou o ano passado com lucro de R$ 14,891 bilhões, alta anual de 13%, sendo R$ 5,083 bilhões no quarto trimestre (+36% em 12 meses), favorecido pela Copa do Mundo no Catar.
“No quatro trimestre, apesar do clima frio e chuvoso no país, entregamos o melhor quarto trimestre da nossa história em termos de volumes, apoiados pelas ativações da Copa do Mundo”, citou a Ambev, em comentário sobre o balanço enviado à imprensa.
Em 2022, a receita da Ambev aumentou dois dígitos (17,4% em cerveja e 34,2% em não alcoólicos). O volume cresceu 3%, totalizando 186 milhões de hectolitros no ano. Mais uma vez, a Ambev destaca a “premiumização” do seu portfólio de bebidas como um dos principais impulsionadores.
A fabricante tem tido sucesso ao trazer marcas estrangeiras para o Brasil, como ocorreu com a cerveja alemã Spaten. Inovações também contribuíram com as maiores vendas. Um dos destaques foi a Caipi Beats, caipirinha de cachaça pronta para o consumo, aposta da companhia para as festas do carnaval.
A América Central e o Caribe seguem como os menores mercados para a companhia, enquanto as vendas pelo app de entrega Zé Delivery e os segmentos de não alcóolicos, além das marcas premium, impulsionaram o resultado de 2022.
“2022 foi um ano sólido, marcado por um crescimento de dois dígitos tanto de receita líquida quanto de Ebitda, impulsionado pelo contínuo momentum no Brasil, onde nosso framework ‘Ambev como uma plataforma’ está ganhando vida”, resumiu o CEO da Ambev, Jean Jereissati, no comunicado.
Para 2023, as projeções da fabricante apontam para um novo crescimento de receita, mesmo com os desafios logísticos, a alta de custos e o impacto do ambiente macroeconômico de juros elevados no poder de compra do consumidor.
Custos com frete e commodities
As operações internacionais da empresa decepcionaram em algumas praças. No Canadá, a Ambev disse que o fraco desempenho da indústria de cerveja foi impulsionada pelo mau tempo, resultando em uma queda de volume de 5,4% no 4º trimestre. O país da América do Norte foi atingido por tempestades de neve e ciclones no final do ano passado.
Na América Central e Caribe, o volume caiu 13,4% no quarto trimestre, com o desempenho negativo de República Dominicana e Paraná.
“A pressão inflacionária também impactou nossos custos, principalmente no que diz respeito às commodities, combustível e frete marítimo”, explicou a Ambev, lembrando que essa região depende de um mix maior de produtos importados.
Câmbio
Outro desafio da Ambev é o câmbio. A companhia registrou perdas de R$ 531,3 milhões com hedge devido à sua exposição cambial de US$ 600 milhões na Argentina e de US$ 2 bilhões no Brasil.
“Em termos de custos, esperamos enfrentar em 2023 menos pressão de custos de insumos do que em 2022: nossa taxa média de hedge de real/dólar para 2023 é de R$ 5,10 (-4,7%)”
O grupo apontou que a rentabilidade continuará a ser uma prioridade, tanto em termos de retorno sobre o capital investido como de margens.
Não alcoólicos
O segmento de não alcoólicos tem apresentado um desempenho promissor para a companhia, que exemplificou, por exemplo, que a marca Guaraná Antarctica entregou um crescimento de volume de um dígito alto no trimestre, enquanto a Pepsi Black mais do que dobrou seu volume em relação ao 4º trimestre de 2021. “Fomos eleitos engarrafador do ano para a Pepsico na América Latina”, destacou.
As inovações já representam mais de 15% dos produtos não alcoólicos da Ambev, o que representa um aumento de 58% em 12 meses.
Uma das forças da Ambev durante os anos mais severos da pandemia da covid-19, o aplicativo de entregas Zé Delivery registrou, no quarto trimestre, um aumento anual de 17% no número de usuários ativos mensais. Com isso, o GMV (volume vendido) subiu 13% no período.
A Copa do Mundo também ajudou a melhorar a visibilidade pública de suas marcas, com destaque para Budweiser e Brahma, as mais citadas nas redes sociais pelos brasileiros durante o campeonato mundial de futebol.
Preço da cerveja
Em teleconferência com analistas, Jereissati e o CFO da Ambev, Lucas Lira, indicaram que a companhia está trabalhando para melhorar suas margens de lucro e acelerar o crescimento da geração de caixa em 2023, apostando em seu portfólio premium. “2023 será melhor que 2022″,disse o CEO.
Novos reajustes de preços não foram descartados, já que os custos com folha de pessoal, operações e matéria-prima, como alumínio, seguem pressionados.
Na América do Sul, a operação no Chile, que teve um recente aumento de 30% na capacidade de produção, foi apontada como promissora para destravar valor e elevar os volumes na região.
Os executivos admitiram que o aumento do volume de 4% no 4º trimestre teria sido maior se a Seleção Brasileira não tivesse sido eliminada precocemente da Copa do Mundo e se os fatores climáticos também tivessem ficado dentro da normalidade.
Quanto ao portfólio, o comando da Ambev destacou o potencial de crescimento de marcas como Corona e Spaten, bem como a demanda crescente por parte de consumidores do sexo feminino e entre 18 e 25 anos.
A Ambev também planeja investir mais em suas marcas no Canadá, onde a companhia vê uma tendência de redução da inflação.
-- Correção 10h56: O lucro líquido da Ambev foi de R$ 14,891 bilhões em 2022 e R$ 5,083 bilhões no quatro trimestre do ano passado. Os valores informados numa versão anterior da reportagem (R$ 13,1 bilhões e R$ 3,8 bilhões respectivamente) são dos mesmos períodos de 2021.
--Atualização 15h30 com informações da teleconferência com analistas
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