Bloomberg Opinion — Havia poucas notícias na carta anual aos acionistas da Berkshire Hathaway (BRK/A) que Warren Buffett divulgou na manhã de sábado (25). Buffett mencionou que “a Berkshire teve um bom ano em 2022″, com lucros operacionais de US$ 30,8 bilhões, e revelou que a subsidiária See’s Candies vendeu US$ 400.309, ou 11 toneladas, de seus chocolates com amendoim na reunião anual do ano passado em Omaha. Mas o que mais se destacou na carta foi sua brevidade – com 4.455 palavras, foi a carta de Buffett aos acionistas mais curta em 44 anos.
Sim, eu comecei a reunir estes dados antes que a nova carta saísse – eu suspeitava que não haveria muito mais a discutir. A trajetória já estava dando um claro sinal inequívoco de que o presidente da Berkshire está desacelerando. Bem, não é sem motivos – Buffet já tem 92 anos e seu sócio de longa data, Charles Munger, vice-presidente da Berkshire, tem 99 anos.
O grande pico no gráfico é da carta de 2014 (publicada em fevereiro de 2015), quando Buffett falou sobre os últimos 50 anos desde que assumiu o controle de uma empresa têxtil de Massachusetts e começou sua longa transformação em um veículo de investimento e gigante industrial; Munger entrou com sua própria revisão de 2.430 palavras. A análise envolveu reconhecer muitos erros, algo que se tornou uma marca registrada de Buffett. Sua revisão de 25 anos foi até intitulada “Mistakes of the First Twenty-five Years (A Condensed Version)” (“Erros dos Primeiros Vinte e Cinco Anos (Uma Versão Condensada)”, em tradução livre. A última missiva incluiu também quatro usos desta palavra, o que, em relação à pequena contagem geral de palavras da letra, acaba sendo muito.
Na carta que acompanhou o relatório anual de 1985 da Berkshire, Buffett atribuiu o foco nos erros a Munger, que “sempre enfatizou o estudo dos erros em vez dos sucessos, tanto nos negócios como em outros aspectos da vida”. Essa ênfase não parece ser a norma entre os ícones americanos de investimento e as superestrelas corporativas. Eu vi a obra do fundador e ex-CEO da Amazon (AMZN) Jeff Bezos, também conhecido por suas cartas inteligentes de acionistas, e em 24 anos de cartas encontrei apenas cinco incidências da palavra “erro”, das quais apenas três poderiam ser interpretadas como Bezos reconhecendo que ele tinha cometido ou poderia cometer um erro.
Nem todos os “erros” de Buffett mencionados foram também seus erros, mas a maioria foram. Após tentar separar as incidências da palavra que não implicavam em uma confissão nas cartas da Berkshire e de tomar algumas decisões arbitrárias, decidi que todas elas deveriam ser contabilizadas.
A frequência do uso indica alguma coisa? As cartas aos acionistas da Berkshire apresentam uma tabela comparando o desempenho do preço das ações da empresa a cada ano desde 1965 com o retorno total do índice Standard & Poor’s 500. Subtraindo os dois valores para medir o desempenho relativo da Berkshire, o resultado acaba sendo correlacionado com a frequência de aparecimento de “erros” na carta aos acionistas para aquele ano. O r-quadrado é 0,33, implicando que o desempenho relativo da Berkshire “explica” um terço da frequência de erros nas cartas. O que faz sentido – a maioria de nós tende a ser mais magnânima em reconhecer nossas falhas quando as coisas estão indo bem.
De modo mais geral, é fácil dizer coisas como “a maioria das minhas decisões de alocação de capital foram medianas” (como Buffett faz em sua última carta) se você é amplamente reconhecido como um dos maiores alocadores de capital do mundo. Este exercício poderia ser mais informativo se incluísse mais do Buffett pré-sucesso, pré-fama, com cartas aos investidores de sua Buffett Partnership e cartas aos acionistas da Berkshire anteriores àquelas disponibilizadas no site da empresa. Quem sabe no futuro – afinal deve levar um tempo até que todas essas cartas sejam digitalizadas.
Ou talvez não – admito que essa compilação de dados é um pouco tola. Mas é interessante, não? E você ainda quer saber se as menções de “erro” de Buffett são uma previsão do desempenho futuro da Berkshire, não quer?
No curto prazo, a resposta é não. A correlação entre a frequência de “erro” na carta aos acionistas e o desempenho subsequente de um ano da Berkshire em relação ao S&P 500 é efetivamente zero. Buffett sempre desdenhou das métricas de desempenho de curto prazo, por isso também analisei a ligação entre as menções de “erro” e o desempenho médio superior nos cinco anos subsequentes. Com certeza, existe uma, com um valor r-quadrado de 0,32 e p (a probabilidade de obter o mesmo resultado por acaso) de apenas 0,001.
Isto é principalmente um testemunho das limitações desses testes estatísticos. Eu realmente não acho que o uso massivo da palavra “erro” por Warren Buffett em suas cartas de acionistas no final dos anos 70 tenha sido responsável pelo desempenho da Berkshire superior ao do S&P 500 por uma média 30 pontos percentuais ao ano, de 1979 a 1989. Mas há lições piores que podemos aprender com o sucesso dos investimentos de Buffett do que apenas “reconhecer e analisar erros compensa”.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Justin Fox é colunista da Bloomberg Opinion e escreve sobre negócios. Foi diretor editorial da Harvard Business Review e escreveu para a Time, Fortune e American Banker. É autor de “O Mito dos Mercados Racionais”.
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