Bloomberg Línea — A Stellantis (STLA), dona de marcas como Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën, está em busca de ativos de mineração para garantir suprimento de matérias-primas para a produção de carros elétricos. O grupo anunciou nesta segunda-feira (27) investimento de US$ 155 milhões em um projeto de cobre na Argentina e, além do mineral, a gigante automotiva também está de olho em ativos de lítio na região, afirmou o presidente da Stellantis para a América do Sul, Antonio Filosa, em entrevista à Bloomberg Línea.
O movimento representa mais um passo na corrida das maiores montadoras do mundo para garantir suprimento de matéria-prima para os planos de eletrificação da frota. A General Motors (GM) anunciou no início do mês um investimento de US$ 650 milhões em um projeto de lítio nos Estados Unidos.
Já a Tesla (TSLA) estaria de olho na mineradora brasileira Sigma Lithium, que tem operação de exploração em Minas Gerais, segundo apurou a Bloomberg News.
A estratégia é crucial para que a indústria automotiva possa elevar os volumes de produção de carros elétricos no futuro. À medida que sobe a demanda por tais modelos, cresce o risco de desabastecimento de insumos como cobre e lítio, usados na produção de baterias e outros componentes.
“Assim como o cobre, o lítio também nos interessa muito para o futuro. Estamos olhando ‘360 graus’ para as oportunidades, fazendo uma análise de risco sobre o abastecimento dessas matérias-primas exigidas diretamente na produção de baterias”, disse Filosa.
A Stellantis anunciou a aquisição de uma participação acionária de 14,2% na McEwen Copper, subsidiária da mineradora canadense McEwen, que possui os projetos Los Azules, na Argentina, e Elder Creek, em Nevada, nos Estados Unidos.
Com a transação, a montadora passa a ser a segunda maior acionista da McEwen Copper’s ao lado da gigante da mineração Rio Tinto.
“Estamos olhando Brasil, Chile, Argentina e outros países da América do Sul onde haja reservas importantes, assim como outros lugares do mundo. Estamos mais avançados em alguns projetos, outros nem tanto, mas não vamos parar por aí”, disse Filosa.
Segundo a montadora, o projeto Los Azules planeja produzir 100 mil toneladas anuais de cobre do tipo cátodo com 99,9% de pureza a partir de 2027 e as reservas podem assegurar a operação da mina por pelo menos 33 anos.
A garantia de fornecimento de matéria-prima para a montadora é um dos principais motivadores da operação, relatou Filosa.
Demanda que triplicará
A busca de matérias-primas para a produção de baterias de carros elétricos levou a uma supervalorização dos ativos de lítio, o que confere vantagem em termos de preços aos projetos de cobre, que estão muito mais baratos, avaliam agentes do mercado financeiro.
Na esteira desse entusiasmo, a brasileira Vale (VALE3) prepara a venda de uma fatia minoritária do seu negócio de metais básicos, de olho na demanda das montadoras por esse tipo de matéria-prima.
A mineradora anunciou recentemente a contratação do ex-executivo da Tesla Jerome Guillen para o conselho independente de metais básicos da companhia, em mais um sinal de que essas duas indústrias devem aprofundar cada vez mais os laços.
Filosa reforçou que a demanda de cobre será cada vez maior. “O investimento tem o objetivo de garantir segurança ao grupo globalmente para suprimento futuro [de cobre], que será cada vez mais demandado nos carros. Essa matéria-prima vai ficar mais escassa e esta é a hora de investir.”
A demanda global da commodity triplicará nos próximos anos, estima a montadora, destacando que Los Azules é um dos dez maiores projetos globais de cobre em desenvolvimento. Segundo Filosa, a mina argentina suprirá parte importante da demanda da Stellantis no mundo.
Plano estratégico
O plano estratégico do grupo Stellantis batizado de “Dare Forward 2030″ prevê atingir 100% de participação de elétricos no mix de vendas de carros de passeio na Europa e de 50% no mix dos Estados Unidos (incluindo comerciais leves) até o final desta década.
No Brasil, a participação dos veículos de baixas emissões no mix do grupo será de aproximadamente 20% até 2030.
“Temos o objetivo de reduzir as emissões de CO2 e chegar a 2038 sendo uma empresa carbono neutro. Nos principais mercados em que atuamos, eletrificar nossa frota é uma das formas para alcançar essa meta”, afirmou Filosa.
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