Bloomberg Línea — Quase 83% das 41 empresas brasileiras entrevistadas pela Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP) têm iniciativas de investimento em capital de risco, o chamado “corporate venture capital” (CVC). Cerca de 72% desses CVCs estão em fase inicial, ainda sem resultados concretos de retornos, segundo o estudo.
A maioria das ouvidas (58,5%) pela pesquisa tem CVCs com estrutura societária própria (fundos, SPEs - veículo de propósito especial, uma subsidiária criada para isolar o risco financeiro - ou offshores).
A ABVCAP ouviu empresas de diversos setores. Entre as empresas que responderam a pesquisa, 80% possuem receita líquida acima de R$ 1 bilhão; 22% são da indústria, 17,1%, do setor de energia, 12,2%, do segmento de saúde e outras 12,2%, de serviços, enquanto empresas de tecnologia da informação são 9,8% da amostra.
Já 19,5% dos braços de venture capital dessas empresas são realizados direto do balanço da companhia, sem uma operação de CVC dedicada. Outras formas incluem o investimento em fundos de venture capital e programas de aceleração ou incubação.
Todas as empresas respondentes que ainda não possuem CVCs (o que totaliza 17,1% do total de respondentes) declararam que pretendem implementar um veículo de investimento, principalmente por meio da contratação de consultorias especializadas (71,4%) - chamado CVC As a Service - e utilizando a equipe da própria empresa (57,1%).
Segundo a Associação, outras formas de implementação do CVC incluem a atribuição a equipe de M&A (28,6%), as contratações de gestoras de investimento (28,6%) ou uma nova equipe (14,3%)
Ainda sem resultados
Como o ecossistema de corporate venture capital no Brasil ainda não está maduro, práticas e resultados só vão poder ser analisados de forma conclusiva após a execução de ciclos repetidos de investimento e desinvestimento, segundo a ABVCAP.
“Ainda não é possível concluir sobre os resultados de volume de investimentos, TIR (taxa de retorno), MOIC (múltiplos do investimento), write-offs (perdas na carteira)”, diz a pesquisa.
Os write-offs são os investimentos que não atingem sucesso e precisam ser descontinuados através do desinvestimento. Segundo a ABVCAP, somente 20,6% dos CVC já registraram desinvestimentos, queda de 9,4 pontos percentuais em comparação com o ano de 2021, que em parte pode ser explicada pela grande entrada de novos CVCs em 2022.
“Também notamos que, 81,3% das unidades de CVC declararam não medir a taxa de investimentos que não retornaram o capital investido. O número em parte é justificado pelo mercado de CVC ainda ser jovem no país e muitas unidades não terem passado pela maturação necessária até perder algum valor investido”, disse a associação.
Das unidades que já registraram perdas, 12,5% declararam uma taxa de até 30% de perda e outras 6,3% declararam uma taxa entre 50% e 75%.
Somente 32,4% dos CVCs concentram todos os seus investimentos no Brasil, enquanto 64,7% investe em toda a América Latina, 52,9% na América do Norte, 32,4% na Europa e 23,5% na Ásia. Em menores proporções aparecem investimentos na Oceania (11,8%) e na África (5,9%).
O tamanho do orçamento disponível para investimentos pelos CVCs do Brasil respondentes concentra-se nas faixas de até R$ 50 milhões e entre R$ 200 milhões e R$ 500 milhões.
O foco dos investimentos CVC continua sendo em empresas iniciais, Seed (76,5%) e Early Stage (88,2%).
O levantamento também contou com o apoio da EloGroup, Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da Fundação Dom Cabral (FDC), Wayra Brasil, Vivo Ventures, Global Corporate Venturing (GCV) e ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos).
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