Bloomberg — Milhões de trabalhadores ainda estão desaparecidos da força de trabalho dos Estados Unidos três anos após o surgimento do Covid-19, e os economistas estão intrigados para dimensionar o quão grande é a diferença e para onde todas essas pessoas foram.
Uma estimativa descobriu que pelo menos 2,1 milhões se aposentaram antes do esperado. Outro calculou um déficit de 2 milhões de imigrantes no auge da pandemia. Outras pesquisas apontavam para um milhão ou mais desempregados por causa do que se define como covid longa - sintomas que não desaparecem.
Não há nem mesmo um acordo sobre o tamanho geral do buraco - quantos americanos a mais estariam trabalhando em 2023 se não fosse pela existência da pandemia.
Isso é um problema porque as autoridades do Federal Reserve (Fed) precisam saber se os americanos estão temporariamente ou permanentemente fora da força de trabalho para que possam definir a política monetária, disse Anna Wong, economista-chefe da Bloomberg Economics.
“É uma imagem muito confusa”, disse Wong. “Não temos nem mesmo bons fatos com os quais trabalhar.”
Com a taxa de desemprego no menor nível em 53 anos e mais funcionários nas folhas de pagamento agora do que antes da pandemia, como os trabalhadores podem realmente estar ausentes?
A força de trabalho é a soma de pessoas empregadas e desempregadas, e alguns pesquisadores apontam para uma estimativa feita por economistas do Fed de quão grande ela deveria ser com base nas tendências populacionais.
Supondo que as pessoas continuem trabalhando nas taxas pré-pandemia, esses economistas projetaram uma força de trabalho de 168 milhões até o final de 2022. Na realidade, no entanto, esse número estava em cerca de 165 milhões, o que significa um déficit de cerca de 3 milhões de pessoas.
As circunstâncias ficaram ainda mais confusas no início deste mês, quando o Departamento do Trabalho revisou sua contagem de dezembro das folhas de pagamento não agrícolas - o famoso payroll - em mais de 800.000 trabalhadores adicionais. Portanto, esse buraco de 3 milhões de pessoas na força de trabalho pode ser um terço menor, disse Wong.
O que isso significa?
Os economistas reconhecem que os dados sobre o que motiva os trabalhadores a desistir de buscar uma vaga são difíceis de obter e que as tendências que sustentam suas pesquisas, como uma queda na imigração, mudaram ao longo da pandemia. Finalmente, alguns trabalhadores podem ser contados mais de uma vez, como os baby boomers que se aposentaram por causa de covid longa.
A taxa de participação na força de trabalho – a parcela da população que está trabalhando ou procurando trabalho – é de 62,4%, teimosamente abaixo do nível pré-pandemia de 63,3%.
Se a taxa média anterior à pandemia se mantivesse, a força de trabalho teria 1,1 milhão de pessoas a mais em 2022, de acordo com uma perspectiva publicada pelo Congressional Budget Office neste mês.
Hipóteses para o sumiço
Vários economistas, no entanto, têm teorias concorrentes sobre quantos trabalhadores desaparecidos existem e para onde foram.
Didem Tuzemen, economista sênior do Fed de Kansas City, calculou em um relatório de outubro passado que haveria 2,4 milhões a mais de pessoas na força de trabalho se as taxas de participação não tivessem caído durante a pandemia. A maioria dos trabalhadores desaparecidos são americanos mais velhos, observou ela.
Enquanto muitos trabalhadores mais velhos inicialmente deixaram a força de trabalho na pandemia por questões de saúde, outros optaram por “pendurar o chapéu” para sempre.
O presidente do Fed, Jerome Powell, citou pesquisas de economistas do banco central americano que mostram que “aposentadorias em excesso” representam mais de 2 milhões de trabalhadores desaparecidos, mas isso não foi atualizado pela revisão do Departamento do Trabalho.
Um número de mortes acima da média nos últimos anos, principalmente por causa da covid-19, responde por cerca de 400 mil pessoas do déficit de força de trabalho, de acordo com o Fed. A pandemia matou muito mais pessoas – cerca de 1,1 milhão –, mas a maioria era mais velha e com maior probabilidade de já estar fora da força de trabalho.
Raj Chetty, economista da Universidade de Harvard, e seus colegas rastrearam outra categoria de trabalhadores desaparecidos em um artigo recente: trabalhadores de serviços de baixa renda que foram demitidos de seus empregos no início da pandemia e nunca mais voltaram.
Isso é melhor ilustrado por folhas de pagamento em setores como lazer e hospitalidade e restaurantes que ainda estão abaixo dos níveis pré-covid.
Os pesquisadores se concentraram em áreas ricas em grandes cidades como Nova York, onde os funcionários do escritório pararam de cortar o cabelo e comer fora porque estavam trabalhando em casa. Esses bairros são os que mais provavelmente ainda carecem de trabalhadores de baixa renda hoje.
Em outro lugar, os economistas da Universidade da Califórnia em Davis descobriram que a imigração diminuiu durante os bloqueios. Isso levou a menos 2 milhões de imigrantes em idade produtiva nos EUA até 2021 do que se a tendência histórica tivesse continuado.
Embora isso possa ter representado uma grande parte dos trabalhadores desaparecidos no auge da pandemia, a imigração aumentou desde então e provavelmente desempenha um papel menor na escassez de trabalhadores nos Estados Unidos hoje, disse o professor de Davis, Giovanni Peri.
Finalmente, os americanos que sofrem de covid longa são um “culpado” subestimado no mistério do trabalhador desaparecido, de acordo com Katie Bach, uma pesquisadora não residente da Brookings Institution.
Em agosto passado, ela estimou que a covid longa reduziu a força de trabalho dos EUA no equivalente a 1,6 milhão de pessoas, considerando aqueles que trabalharam menos horas ou saíram completamente. Isso provavelmente está agora em algum lugar na faixa de 500 mil a 1 milhão, disse Bach.
“Não estou usando luvas de boxe e não direi que alguém está errado”, disse Michael Stepner, professor assistente de economia da Universidade de Toronto, que co-escreveu o artigo com Chetty. “Todos nós queremos uma explicação simples de uma linha. Mas acho que esse é um quebra-cabeça com muitas peças.”
- Com a colaboração de Ben Steverman.
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