Sigma: a mineradora de lítio que atraiu a Tesla e cuja ação disparou 230%

Empresa com operação no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, entrou no radar de investidores atentos aos ganhos com o avanço do carro elétrico

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Bloomberg Línea — Até pouco tempo atrás, o lítio passava despercebido no noticiário de negócios. Com o crescimento das vendas de carros elétricos no mundo, o mineral raro ganhou as manchetes e tem atraído a atenção não só de investidores tradicionais do setor de commodities mas também de gigantes do setor automotivo, que visam garantir suprimento para suas baterias no médio e no longo prazo.

É o que aconteceu com a Sigma Lithium, mineradora brasileira com operação no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, que entrou no radar de empresas como a Tesla (TSLA), conforme apurou e noticiou em primeira mão a Bloomberg News. A marca de veículos elétricos de Elon Musk avalia fazer uma oferta pela companhia brasileira, segundo pessoas com conhecimento no assunto.

Nesta semana, as ações dispararam 18,5% na Nasdaq depois da notícia do interesse da Tesla. Em 12 meses, a valorização foi ainda maior, acima de 230%.

Listada na Bolsa de Toronto, no Canadá, e na Nasdaq, a Sigma (SGML) afirma deter as maiores jazidas de rocha de lítio das Américas, em um projeto conhecido como “Grota do Cirilo”.

O complexo da companhia está localizado a aproximadamente 450 quilômetros da capital de Minas, Belo Horizonte. A empresa detém 27 direitos minerários em quatro propriedades espalhadas por mais de 19 mil hectares.

Segundo prospecto, a mineradora espera estar entre os produtores de menor custo do mundo. A primeira fase do projeto prevê produção anual de 270 mil toneladas de concentrado de lítio. Nas fases 2 e 3, a partir de 2024, os volumes devem aumentar até atingir 766 mil toneladas anualmente.

O lítio é usado na produção de baterias para carros elétricos. Com as vendas crescentes de modelos eletrificados, a demanda pelo mineral vem subindo acima da oferta. Nesse cenário, tanto grandes mineradoras quanto montadoras estão em busca de reservas de lítio para investir, fazendo com o que o preço desses ativos apresentem forte aumento e sejam alvo de disputa.

O prospecto do projeto da Sigma estima que o consumo de lítio no mundo deve crescer cerca de 15% ao ano na próxima década, com o maior crescimento concentrado no curto prazo.

A receita anual média projetada durante a vida operacional do projeto é de US$ 2,5 bilhões, informou a companhia.

Peso pesado

A Sigma Lithium tem por trás uma equipe com extensa experiência no mercado financeiro, a começar pela cofundadora e CEO Ana Cabral Gardner, sócia da A10 Investimentos. A executiva atuou por mais de 20 anos em bancos de investimentos em Nova York, Londres e São Paulo.

A A10 Investimentos é a maior investidora da Sigma. A Ace Capital também tem na mineradora sua maior posição em bolsa, conforme revelou o sócio Fabricio Taschetto à Bloomberg Línea.

“A nossa queridinha e a maior alocação no Brasil hoje é a mineradora brasileira de lítio Sigma, que é listada lá fora, mas que tem toda sua operação em Minas Gerais. Nós achamos que é um papel que dá para pelo menos dobrar neste ano”, disse Taschetto na ocasião no começo de fevereiro.

“A empresa vai entrar em operação agora em março, com sua primeira entrega de lítio, então existe alguma dúvida do mercado ainda sobre se ela será capaz de entregar o que prometeu. Uma vez entregue e comprovado, como ela é muito descontada em relação a outras empresas lá fora, temos uma história de curto prazo muito interessante”, afirmou o gestor.

A Sigma já fechou parceria inclusive com a gigante japonesa Mitsui, acionista da Vale (VALE3).

Incertezas

Apesar das grandes expectativas em torno do mineral, no mercado ainda há desconfiança acerca das oportunidades no setor de lítio.

A começar pela proporção de sucesso na exploração de minério, algo que, via de regra, gira em torno de um para 500 mil.

Segundo especialistas consultados pela Bloomberg Línea, embora haja reservas de lítio no Brasil, uma fatia significativa das jazidas demanda um investimento acima da média do mercado global para extração devido às suas características.

Ou seja, a existência da reserva é um passo relevante mas não significa necessariamente produção em escala e baixo custo. Nesse contexto, uma parcela relevante das reservas de lítio não será economicamente viável, apontam consultores especializados.

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