Bloomberg Línea — Com as mudanças promovidas no comando do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) após as eleições, o que inclui a nomeação de Aloizio Mercadante como novo presidente, investidores passaram a questionar qual será a nova diretriz de atuação do banco de fomento, especialmente no setor de infraestrutura. De acordo com a superintendente da área de estruturação de projetos, Luciene Machado, a instituição terá, de fato, um novo olhar para a divisão.
“O papel de estruturação de projetos vai continuar, mas com ênfase naqueles com maior impacto social, que reduzam a desigualdade, tanto regional como social”, disse em entrevista à Bloomberg Línea.
Machado disse que a estruturação de projetos está muito alinhada com o mandato que o BNDES tem como banco de desenvolvimento e é complementar ao papel de financiador de longo prazo da infraestrutura.
Segundo a executiva, o BNDES vem atuando em um amplo conjunto de segmentos em infraestrutura, como rodovias, portos, aeroportos, além da frente imobiliária – na área de revitalização de ativos públicos e do patrimônio histórico.
Segundo dados do BNDES, o banco saiu de 22 projetos de estruturação em carteira, em agosto de 2019, para mais de 190 no ano passado, com estimativa de mais de R$ 450 bilhões de capital mobilizado. Entre janeiro de 2019 e novembro de 2022, foram quase 40 leilões realizados.
Um dos projetos mais emblemáticos estruturados pelo BNDES nos últimos quatro anos foi o da Companhia Docas do Espírito Santo (Codesa), primeira privatização de autoridade portuária do País. O leilão foi promovido em março de 2022, tendo como vencedora a gestora Quadra Capital por meio de um FIP (Fundo de Investimento em Participações).
A promessa do BNDES, até o ano passado, era promover outros leilões de autoridade portuária, incluindo Santos Port Authority (SPA, ou Porto de Santos), São Sebastião (SP) e Itajaí (SC). No entanto o novo ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França, vem se manifestando de forma contrária à privatização desses ativos.
Além disso, o BNDES vinha estruturando grandes projetos em outros setores, como rodovias. Um dos mais esperados era o pacote do Paraná, com estimativa de investimento total de R$ 45 bilhões nos seis lotes de estradas envolvidos.
Agora, o foco da área de estruturação de projetos do banco deve ser diferente. “Temos uma atuação que se diversificou muito, mas eu diria que o foco na infraestrutura social e de melhoria da qualidade de vida talvez seja o mais relevante no momento”, destaca Machado.
Ela disse que os setores de saúde, educação, mobilidade urbana e saneamento emergem como prioridades para a divisão do banco. “É uma atuação que o banco quer ter escala e que está alinhada com as políticas públicas. É um tema muito caro ao BNDES.”
Em sua avaliação, o saneamento é o exemplo mais claro na agenda do banco de como um setor pode promover a redução da desigualdade. “O BNDES está profundamente engajado nessa agenda de formular projetos de infraestrutura que tenham esse impacto.”
Mobilidade urbana
Machado relatou que o BNDES está desenvolvendo com o município do Rio de Janeiro um projeto de conversão do modal sobre rodas para trilhos em dois corredores de ônibus relevantes para a cidade: TransOeste e TransOlímpica.
“São dois eixos muito importantes de circulação de pessoas, que praticamente cruzam a cidade. Esses corredores encurtaram distâncias e trouxeram qualidade de vida para a população”, disse a executiva. “Agora queremos dar um passo adicional, aumentando a capacidade desses sistemas, saindo do modal sobre rodas para trilhos”, acrescentou.
Ela contou ainda que há outros projetos de mobilidade sendo desenvolvidos nos estados do Paraná e de São Paulo.
“A mobilidade urbana é um setor com um número reduzido de projetos, mas cujos benefícios impactam uma parcela maior da população.”
Público x privado
Os sinais do novo governo federal, que assumiu há menos de dois meses, em relação a futuras concessões e privatizações ainda não estão muito claros, mas, na visão da superintendente do BNDES, não há uma dicotomia entre investimento público e privado.
Segundo ela, os modelos de concessão de projetos de infraestrutura à iniciativa privada não competem ou eliminam necessariamente o investimento público.
Em sua avaliação, o privado deve ser adicional à capacidade existente de investimento público, diante das restrições fiscais em todas as esferas do País.
“Nossa missão é engajar a iniciativa privada sem abrir mão do investimento público. Cada setor vai exigir uma combinação para isso, mas a priori nenhum modelo é descartado. Não vemos dicotomia entre investimento público e privado”, afirmou.
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