BNDES sob Lula: menos portos e rodovias, mais impacto social, diz executiva

Luciene Machado, à frente de área de estruturação de projetos, afirma em entrevista à Bloomberg Línea que temas como mobilidade urbana serão prioridade

Projetos com viés social devem ganhar destaque na carteira da área no banco de fomento versus infraestrutura tradicional
25 de Fevereiro, 2023 | 03:30 PM

Bloomberg Línea — Com as mudanças promovidas no comando do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) após as eleições, o que inclui a nomeação de Aloizio Mercadante como novo presidente, investidores passaram a questionar qual será a nova diretriz de atuação do banco de fomento, especialmente no setor de infraestrutura. De acordo com a superintendente da área de estruturação de projetos, Luciene Machado, a instituição terá, de fato, um novo olhar para a divisão.

“O papel de estruturação de projetos vai continuar, mas com ênfase naqueles com maior impacto social, que reduzam a desigualdade, tanto regional como social”, disse em entrevista à Bloomberg Línea.

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Machado disse que a estruturação de projetos está muito alinhada com o mandato que o BNDES tem como banco de desenvolvimento e é complementar ao papel de financiador de longo prazo da infraestrutura.

Segundo a executiva, o BNDES vem atuando em um amplo conjunto de segmentos em infraestrutura, como rodovias, portos, aeroportos, além da frente imobiliária – na área de revitalização de ativos públicos e do patrimônio histórico.

Segundo dados do BNDES, o banco saiu de 22 projetos de estruturação em carteira, em agosto de 2019, para mais de 190 no ano passado, com estimativa de mais de R$ 450 bilhões de capital mobilizado. Entre janeiro de 2019 e novembro de 2022, foram quase 40 leilões realizados.

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Um dos projetos mais emblemáticos estruturados pelo BNDES nos últimos quatro anos foi o da Companhia Docas do Espírito Santo (Codesa), primeira privatização de autoridade portuária do País. O leilão foi promovido em março de 2022, tendo como vencedora a gestora Quadra Capital por meio de um FIP (Fundo de Investimento em Participações).

A promessa do BNDES, até o ano passado, era promover outros leilões de autoridade portuária, incluindo Santos Port Authority (SPA, ou Porto de Santos), São Sebastião (SP) e Itajaí (SC). No entanto o novo ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França, vem se manifestando de forma contrária à privatização desses ativos.

Além disso, o BNDES vinha estruturando grandes projetos em outros setores, como rodovias. Um dos mais esperados era o pacote do Paraná, com estimativa de investimento total de R$ 45 bilhões nos seis lotes de estradas envolvidos.

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Agora, o foco da área de estruturação de projetos do banco deve ser diferente. “Temos uma atuação que se diversificou muito, mas eu diria que o foco na infraestrutura social e de melhoria da qualidade de vida talvez seja o mais relevante no momento”, destaca Machado.

Ela disse que os setores de saúde, educação, mobilidade urbana e saneamento emergem como prioridades para a divisão do banco. “É uma atuação que o banco quer ter escala e que está alinhada com as políticas públicas. É um tema muito caro ao BNDES.”

Em sua avaliação, o saneamento é o exemplo mais claro na agenda do banco de como um setor pode promover a redução da desigualdade. “O BNDES está profundamente engajado nessa agenda de formular projetos de infraestrutura que tenham esse impacto.”

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Mobilidade urbana

Machado relatou que o BNDES está desenvolvendo com o município do Rio de Janeiro um projeto de conversão do modal sobre rodas para trilhos em dois corredores de ônibus relevantes para a cidade: TransOeste e TransOlímpica.

“São dois eixos muito importantes de circulação de pessoas, que praticamente cruzam a cidade. Esses corredores encurtaram distâncias e trouxeram qualidade de vida para a população”, disse a executiva. “Agora queremos dar um passo adicional, aumentando a capacidade desses sistemas, saindo do modal sobre rodas para trilhos”, acrescentou.

Ela contou ainda que há outros projetos de mobilidade sendo desenvolvidos nos estados do Paraná e de São Paulo.

“A mobilidade urbana é um setor com um número reduzido de projetos, mas cujos benefícios impactam uma parcela maior da população.”

Público x privado

Os sinais do novo governo federal, que assumiu há menos de dois meses, em relação a futuras concessões e privatizações ainda não estão muito claros, mas, na visão da superintendente do BNDES, não há uma dicotomia entre investimento público e privado.

Segundo ela, os modelos de concessão de projetos de infraestrutura à iniciativa privada não competem ou eliminam necessariamente o investimento público.

Em sua avaliação, o privado deve ser adicional à capacidade existente de investimento público, diante das restrições fiscais em todas as esferas do País.

“Nossa missão é engajar a iniciativa privada sem abrir mão do investimento público. Cada setor vai exigir uma combinação para isso, mas a priori nenhum modelo é descartado. Não vemos dicotomia entre investimento público e privado”, afirmou.

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Juliana Estigarríbia

Jornalista brasileira, cobre negócios há mais de 12 anos, com experiência em tempo real, site, revista e jornal impresso. Tem passagens pelo Broadcast, da Agência Estado/Estadão, revista Exame e jornal DCI. Anteriormente, atuou em produção e reportagem de política por 7 anos para veículos de rádio e TV.