Bloomberg — Uma prisão peruana construída especificamente para abrigar ex-presidentes caídos em desgraça logo ficará sem espaço se o ex-líder Alejandro Toledo for extraditado dos Estados Unidos como esperado.
A prisão de Barbadillo, nos arredores de Lima, é atualmente ocupada pelo ex-presidente Alberto Fujimori, detido desde 2007 por assassinatos de esquadrões da morte e corrupção, e Pedro Castillo, que tentou um golpe em dezembro.
Acrescentar um terceiro presidiário excederia a capacidade de duas pessoas declarada em documentos publicados pela autoridade penitenciária INPE.
A politicamente volátil nação andina aprisiona mais líderes do que em qualquer outro lugar do mundo. Cada um dos seis presidentes peruanos eleitos desde 1990 está na prisão, esteve na prisão ou enfrentou uma ordem de detenção.
Após um longo processo, as autoridades peruanas disseram em 21 de fevereiro que Toledo, acusado de subornos negociados, será extraditado para ser julgado em Lima.
Embora tenha obtido um curto indulto na noite de quinta-feira (23), ele tem uma ordem de detenção pendente no país, levantando a questão de saber se ele ficará na mesma instalação que abriga os outros ex-líderes.
“Essa é a prisão que corresponde a ele por ter sido presidente”, disse Cesar Nakazaki, advogado peruano que defendeu três ex-presidentes em processos criminais, dois dos quais passaram algum tempo em Barbadillo.
Um representante do INPE, que pediu para não ser identificado para discutir decisões políticas, disse que a cadeia de Barbadillo poderá receber um terceiro presidiário, mesmo que oficialmente tenha capacidade para apenas dois, sem dar mais detalhes. O INPE não quis comentar.
Sondagens Anticorrupção
Os promotores peruanos foram aclamados por suas investigações anticorrupção em altos funcionários, muitos acusados de receber propinas da gigante brasileira da construção Odebrecht SA.
Mas os críticos os acusaram de abusar da prisão preventiva. Além de Fujimori, nenhum ex-presidente peruano foi condenado por um crime.
Os recorrentes processos presidenciais ajudam a explicar por que o Peru precisava de uma instalação especial para ex-líderes. A prisão foi inicialmente construída apenas para abrigar Fuijimori, de acordo com Nakazaki.
Fujimori fugiu do Peru para o Japão em 2000, renunciando à presidência por fax enquanto sua liderança de uma década desmoronava em meio a acusações de corrupção. Ele foi finalmente levado à justiça após ser extraditado do Chile.
Além de Fujimori, Toledo e Castillo, outros três ex-presidentes receberam ordens de detenção. Ollanta Humala, que governou entre 2011 e 2016, estava em Barbadillo devido a denúncias de que a Odebrecht havia financiado ilegalmente sua campanha presidencial.
Em 2019, o ex-presidente Pedro Pablo Kuczynski foi preso por supostos vínculos com o mesmo construtor, mas acabou sendo colocado em prisão domiciliar devido a problemas de saúde. E no mesmo ano Alan Garcia, que governou o Peru duas vezes, suicidou-se pouco antes de ser preso por alegações de que também havia recebido financiamento ilegal da Odebrecht.
O tratamento da prisão presidencial não se estendeu às primeiras-damas do Peru. Nadine Heredia, esposa de Humala, e Keiko Fujimori, que serviu como primeira-dama sob seu pai, já foram presas no passado, mas em prisões comuns.
--Com a ajuda de Philip Tabuas
Veja mais em Bloomberg.com
Leia também:
Guerra na Ucrânia ‘apaga’ US$ 67 bilhões em riqueza dos bilionários russos
Economia da Alemanha contrai mais do que o esperado no final de 2022
Estados Unidos impõem tarifas sobre alumínio e outros metais da Rússia