Bloomberg Línea — Cresce a disputa no mercado brasileiro de streaming. Novos números revelam a dimensão da competição, que envolve gigantes globais e players nacionais. O Globoplay superou a Amazon Prime Video em audiência em janeiro de 2023, mas segue atrás da líder Netflix, segundo dados da Kantar Ibope Media. Mas, em usuários totais (incluindo assinantes pagos ou não), já seria o maior do mercado, segundo fontes do setor.
Os dados de janeiro fazem parte da Cross Platform View (CPV), que mede a audiência da chamada TV linear (TV aberta e TV paga), de video on demand (VOD) e de streaming no Brasil.
Apesar do crescimento do Globoplay, a pioneira Netflix (NFLX) sustenta a liderança em participação de audiência nas plataformas de vídeo sob demanda, com 4,8% do total em janeiro.
A Globoplay alcançou 0,7% da audiência, enquanto Amazon Prime Video e outras plataformas de vídeo sob demanda tiveram 0,5% da audiência somadas.
Os números da Kantar falam exclusivamente de audiência domiciliar.
Os números da Kantar Ibope Media revelam que as plataformas de streaming contam com apenas 6,5% da audiência, contra 84,8% da chamada TV Linear (73% da TV aberta e 11,8% da TV Paga). Esse número se refere apenas a consumo em TV/CTV, excluindo os demais dispositivos (computadores, smartphones e tablets).
Já o YouTube, que pertence ao Google (GOOGL) e que a Kantar considera como uma plataforma de compartilhamento de vídeo, obteve 8,7% da audiência de janeiro no Brasil.
Dados da plataforma independente FlixPatrol, que compila o número de assinantes das plataformas de streaming pelo mundo, no entanto, apontam que o Globoplay seria a plataforma com mais usuários no Brasil, superando os gigantes americanos Netflix, Amazon Prime Video e Disney Plus.
À Bloomberg Línea, a FlixPatrol disse que usa dados de diferentes fontes e que sua estimativa de assinantes para o Globoplay vem de uma matéria do site americano Deadline, que diz que o número teria sido relatado pela própria Globo em evento para o mercado em 2021. Segundo o Deadline, a Globo teria dito que tinha 101,6 milhões de usuários em todos seus produtos digitais e uma base de 30 milhões de usuários para seu serviço por assinatura e bancado por anúncios no Globoplay.
Isso seria quase o dobro de assinantes da Netflix no Brasil, que conta com 15,3 milhões, ainda de acordo com a FlixPatrol. Em seu último relatório trimestral, a Netflix disse ter 41,7 milhões de usuários da América Latina, mas sem abrir os dados por países.
Para Matteo Ceurvels, analista-sênior para América Latina e Espanha do eMarketer, da Insider Intelligence, os números reportados pela FlixPatrol parecem ser “bastante atípicos”, já que em uma pesquisa do eMarketer em parceria com a Livepanel e outras fontes terceirizadas locais, como Mobile Time e Opinion Box, a Netflix apareceu como a principal plataforma de streaming no Brasil.
“Por mais que o Globoplay tenha tentado aumentar sua participação no mercado, não teve sucesso em suas tentativas de competir com pesos pesados globais como Netflix, Amazon Prime Video e Disney Plus. Parte disso pode ser devido à qualidade da experiência de streaming, ao conteúdo disponível para transmissão e à preferência crescente dos consumidores por conteúdo local e em idioma estrangeiro”, disse Ceurvels em resposta à Bloomberg Línea.
O eMarketer tem números distintos aos da FlixPatrol e projeta que a Netflix terá uma taxa de audiência cada vez mais alta de 82,1% entre os usuários do serviço de vídeo por assinatura no Brasil neste ano, em um cálculo que também leva em conta usuários de modo geral, não apenas assinantes.
“Apesar do aumento da concorrência, esperamos que o Brasil continue sendo um importante mercado para a Netflix, crescendo 7,6% neste ano. Isso tornará o país o terceiro mercado de audiência que mais cresce no mundo, atrás do Japão (11,1%) e da Índia (8,8%), entre os 14 mercados que projetamos.”
Em pesquisa da Livepanel sobre o comportamento dos assinantes de serviços de streaming por meio de dispositivos móveis, 72,8% dos entrevistados disseram assinar a Netflix em novembro de 2022, contra 33,7% da Amazon Prime Video, 21,7% da Disney Plus e 20,7% do Globoplay.
Diferentemente de outros serviços de streaming, o Globoplay tem várias categorias de assinantes, e muitos são usuários únicos, já que a empresa aposta na entrega gratuita de parte do conteúdo para usuários logados (que reproduz programação da TV Globo, jornalísticos sob demanda e outros). O reality show Big Brother Brasil também é um agregador importante de assinantes para a plataforma.
O Globoplay agrega conteúdo próprio com o de produtoras independentes, jornalismo, esporte e entretenimento dos estúdios Globo, além de parcerias com distribuidoras.
A assinatura do Globoplay dá acesso também ao catálogo de novelas, séries, filmes, documentários, realities shows e a assinatura com canais.
O Globoplay cobra R$ 19,90 por mês, e o pacote que inclui canais ao vivo do grupo Globo custa R$ 42,90. No Brasil, a Netflix tem planos a partir de R$ 18,90, e o Amazon Prime Video custa R$ 14,90 por mês.
A Bloomberg Línea entrou em contato com a Globoplay e a Amazon Prime Video, mas não obteve retorno sobre os números de assinantes das plataformas. A Netflix disse que não divulga a base de assinantes no Brasil.
O Globoplay foi criado em 2015 com o objetivo de ser uma plataforma para transmitir os conteúdos que passavam na TV. Nos anos seguintes, a Globo decidiu produzir e agregar conteúdo original para a plataforma. Segundo dados mais recentes divulgados, a base de assinantes cresceu 374% em 2021 em relação ao primeiro trimestre de 2019.
Em 2021, a Globo e o Google fecharam uma parceria de sete anos para migrar todos os centros de dados e transferência de conteúdos e produtos do Globoplay, do G1, do GE.com e do Gshow para a nuvem do Google Cloud, desativando o centro de dados da Globo.
O primeiro projeto da parceria foi a integração do Globoplay com a Android TV para combinar a programação da TV aberta (com transmissão de sinal digital) e a TV via internet.
-- Matéria atualizada às 11:58 do dia 27/02/2023 para esclarecer dados da Kantar
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