Brasil deve retomar exportação de carne para China até abril, prevê entidade

Presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil diz que embarques devem ser adiados e que não há no mercado global hoje substituto para a carne do país

Setor agropecuário brasileiro redobra a atenção à questão sanitária depois da confirmação de caso de vaca louca no país
23 de Fevereiro, 2023 | 06:59 PM

Bloomberg Línea — O caso confirmado de vaca louca que levou o governo federal a suspender as exportações de carne bovina para a China não deverá provocar perdas significativas aos exportadores brasileiros, mas um adiamento das vendas. A avaliação é de José Augusto de Castro, presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), para quem as vendas para o exterior devem ser normalizadas em abril.

Na B3, as ações dos frigoríficos operaram e fecharam em alta após o tombo da véspera: Minerva (BEEF3) subiu 3,51%, BRF (BRFS3) avançou 1,56%, e JBS (JBSS3) saltou 5,53%. O papel da Marfrig (MRFG3) esteve em baixa parte do dia, mas encerrou com ganho de 0,32%.

PUBLICIDADE

“Por se tratar de um caso isolado, a expectativa é que não haja contaminação do rebanho; e o fato de o Brasil ter tornado público o problema e paralisado os embarques também impacta positivamente na resolução e tende a acelerar a retomada das exportações”, disse Castro, em nota.

Segundo ele, as vendas para o exterior giram em torno de US$ 500 milhões por mês.

O Brasil é o maior exportador de carne bovina e abastece 22% do mercado global. Segundo a AEB, os preços do produto estão em queda: em janeiro deste ano, a cotação era de US$ 4,8 mil por tonelada, abaixo dos US$ 5,2 mil do mesmo mês do ano passado, uma redução de 7,5%.

PUBLICIDADE

“O impacto tende a ser bem menor do que em 2021, até então o último registro de vaca louca no país. O protocolo foi cumprido, tudo está sendo feito com correção e transparência. Além disso, não há carne sobrando no mercado. Nenhum país conseguirá suprir a demanda da China em nosso lugar, afirmou o presidente da AEB.

A Minerva disse que vai continuar a atender a demanda chinesa por meio das suas quatro subsidiárias no Uruguai e na Argentina, em vez das unidades de Barretos, no interior de São Paulo, de Palmeiras de Goiás, em Goiás, e de Rolim de Moura, em Rondônia

“É interessante verificar que a quantidade embarcada da carne aumentou 10,8% em janeiro. As estatísticas mostram a cotação do produto em declínio, inclusive no mercado interno. Se parte do volume que iria para a China for desviado para o consumo interno, a queda por aqui pode se intensificar”, disse Castro.

PUBLICIDADE

Em 2021, a suspensão durou três meses; em 2019, foram duas semanas.

“Acreditamos que a maior parte da correção do preço de mercado aconteceu ontem [dia 22] com as ações da Minerva caindo aproximadamente 8%, BRF com queda de 6,2%, Marfrig com baixa de 4,7%, e JBS com desvalorização 4,3%, já que o mercado antecipou o risco de o Brasil suspender as exportações de carne bovina para a China”, disseram os analistas Leandro Fontanesi (Bradesco BBI) e José Ricardo Rosalen (Ágora Investimentos), em nota enviada a clientes.

A dupla de especialistas considera que os preços das ações dos frigoríficos devem ficar voláteis durante o período de suspensão, a depender das expectativas sobre quando o autoembargo pode ser retirado.

PUBLICIDADE

Segundo os analistas, as exportações brasileiras de carne bovina para a China representam entre 20% e 25% da receita da Minerva, em torno de 8% da Marfrig e aproximadamente 5% da JBS.

Leia também

As perguntas que o mercado espera que Buffett responda na sua carta anual

Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.