Bloomberg Línea — Nascidos e criados com a tecnologia, os jovens da geração Z são acostumados à rapidez. A característica pode ajudá-los no mercado de trabalho a realizar algumas tarefas, mas também pode trazer ansiedade. Por isso, é comum que os jovens dessa geração, nascidos entre 1997 e 2010, se sintam insatisfeitos com frequência no trabalho e queiram mudar de emprego com apenas poucos anos ou meses de experiência.
Uma pesquisa realizada pelo LinkedIn no Brasil, que mostra que 64% dos jovens profissionais entre 18 e 24 anos consideram buscar uma nova oportunidade de trabalho. É um nível mais alto em comparação com os 45% de quem tem mais de 55 anos.
Os motivos para que tenham esse desejo são variados — e vão desde novas experiências até questões ligadas à saúde mental e economia.
Uma pesquisa da McKinsey mostra que essas pessoas vivem com uma dose maior de ansiedade e inconstância, não sabendo exatamente como será o dia de amanhã, muito afetados pela pandemia da covid-19.
Eles também são mais preocupados com a estabilidade de seus empregos, com 45% afirmando estarem preocupados e apenas 37% acreditam que a maioria das pessoas tem boas oportunidades econômicas nos Estados Unidos. Por isso, para eles, é melhor correr.
Com incertezas econômicas, inflação alta e um temor sobre recessão na maioria dos países, mudar tanto de emprego deixa de ser uma opção e, para Milton Beck, diretor geral do LinkedIn para a América Latina, se torna uma nova habilidade no mercado.
“Essa nova tendência não se trata única e exclusivamente de uma escolha. Temos um mercado cada vez mais competitivo, o que não facilita a estabilidade para construir uma carreira única. Adaptação é a palavra-chave para o futuro do trabalho e, consequentemente, para as novas gerações de profissionais”, diz.
Segundo Beck e outros especialistas ouvidos pela Bloomberg Línea, mais características inerentes à geração Z também compõem o quadro. “Ambiciosas e altruístas, as novas gerações são marcadas pelo dinamismo e pela busca constante — e quase que inquietante — por novas experiências. Eles não aceitam mais moldes engessados de trabalho, buscam flexibilidade e equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, além de exigirem que seus valores sociais sejam também uma regra no universo corporativo. Neste sentido, fica mais fácil compreender por que este padrão de mudanças rápidas de emprego tem sido notado entre os jovens”, afirma.
Outro motivo, para Leonardo Berto, gerente da Robert Half, é que a geração Z tem mais opções e uma carreira mais elástica do que os baby boomers, por exemplo (nascidos entre 1945 e 1964), podendo escolher melhor em quais empresas querem ficar.
“Hoje o protagonismo está na mão do candidato. Quando se entende a rotina, tem outra empresa batendo na porta atras daquele talento, o que é diferente dos mercados de anos atrás, que valorizava um profissional que demorava para ficar especializado em uma área”, diz. Segundo ele, as empresas “não buscam mais um especialista”, mas sim alguém capaz de aprender rápido. Uma característica que, de acordo com o especialista, a geração Z domina.
Rodrigo Vianna, CEO da Mappit, enxerga que a geração Z se pauta muito em atividades de curto prazo, buscando recompensações mais rápidas. “Quando eles olham para o mercado de trabalho, eles buscam empresas que permitam o crescimento de carreira mais rápido. A consequência disso para o mercado de trabalho é diretamente proporcional. Essa é uma geração que tem essa necessidade de aceleração a curto prazo e que, muitas vezes, dependendo do mercado, você não encontra”, afirma. Por tentativa e erro, os jovens querem encontrar o que tanto buscam: flexibilidade, estabilidade e carreira acelerada.
É por isso que a ideia de entrar em uma companhia e ficar 30 anos nela deixou de ser algo almejado. “A curva de aprendizagem é bastante alta e muito dinâmica. Colecionar 30 anos de experiência em uma única empresa não é mais o caminho para o sucesso para muitas empresas e profissionais no mercado”, afirma Lucas Toledo, diretor executivo do PageGroup.
Trocar de emprego com frequência é ruim para o currículo?
É comum encontrar pessoas de 25 anos que já estão no terceiro ou quarto emprego da vida desde que terminaram a faculdade, ou que ainda estão na faculdade ou já decidiram trocar de estágio e experimentam o segundo, prestes a finalizar a gradução. Para essas pessoas e para toda uma geração, esse é o novo normal. Outras pessoas podem ver a atitude como uma forma de “manchar” o currículo de alguém. Mas não é bem assim.
Para Berto, da Robert Half, a troca frequente de emprego pode ser boa no início da carreira, mas, em outras fases, nem sempre ajuda o profissional.
“Numa fase inicial de carreira, se eu tenho varias experiências, estando seis meses em cada setor, por exemplo, no momento de estágio, trainee, isso é relevante porque confere um portfólio maior. Pode ser mais interessante na hora de decidir qual carreira você quer seguir como profissional”, diz. “Agora, quando começa a ocorrer uma troca sem motivo, isso é prejudicial. A transição precisa ter um fundamento, principalmente em empresas que buscam crescimento de carreira”, explica.
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