Bloomberg — Os indicadores de inflação preferidos do Federal Reserve (Fed) serão monitorados nesta semana junto a uma onda de gastos do consumidor. Os dados estão fomentando o debate entre diretores de bancos centrais com relação à necessidade de ajustar o ritmo dos aumentos das taxas de juros.
Prevê-se que o Índice de Preços de Despesas de Consumo Pessoal (PCE, na sigla em inglês) dos Estados Unidos suba 0,5% em janeiro em relação ao mês anterior – o maior avanço desde meados de 2022. O indicador é o preferido do banco central americano para avaliar as pressões inflacionárias no país.
Estimativa mediana em uma pesquisa da Bloomberg com economistas aponta para avanço de 0,4% no indicador, que exclui alimentos e combustíveis e reflete melhor a inflação subjacente.
O PCE, que será divulgado na sexta-feira (24), deverá enfatizar um consumidor americano engajado, com os economistas antecipando o avanço mais acentuado nos gastos nominais em bens e serviços desde outubro de 2021.
O relatório desta semana também deve mostrar o maior aumento na renda pessoal em um ano e meio, impulsionado tanto por um mercado de trabalho resiliente quanto por um grande ajuste no custo de vida para beneficiários do Seguro Social.
Em suma, espera-se que os dados de renda e gastos ilustrem o desafio enfrentado pelo Fed em meio à sua campanha de política monetária mais agressiva em uma geração. O relatório segue os números da semana passada, revelando um aumento nas vendas no varejo e dados de preços ao consumidor e ao produtor acima do que o esperado.
O que diz a Bloomberg Economics:
“É impressionante que o declínio da inflação ano a ano tenha parado completamente, dados os efeitos de base favoráveis e o ambiente de oferta. Isso significa que não vai demorar muito para que surjam novos picos de inflação.”
— Anna Wong, Eliza Winger e Stuart Paul.
Os investidores têm aumentado suas apostas sobre até que ponto o Fed aumentará as taxas neste ciclo de aperto. Eles veem agora a taxa subindo para 5,3% em julho, ante uma taxa de pico esperada de 4,9% há apenas duas semanas.
A ata da última reunião de política monetária do Fed, na qual o banco central elevou sua taxa de referência em 25 pontos base, também será divulgada na quarta-feira (22).
A leitura pode ajudar a esclarecer o apetite por um aumento maior quando os formuladores de políticas se reunirem novamente em março, depois que comentários recentes de algumas autoridades sugeriram isso.
A presidente do Fed de Cleveland, Loretta Mester, disse na semana passada que vê espaço para um novo aumento de 50 pontos base, enquanto James Bullard, do Fed de St. Louis, disse que não descartaria apoiar tal aumento já em março.
Os dados de vendas de casas novas e existentes em janeiro, juntamente com a segunda estimativa do Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre estão entre os números que também serão divulgados esta semana.
Ainda no front internacional, o discurso do próximo chefe do banco central do Japão, uma reunião do Grupo dos 20 de ministros das finanças e aumentos de juros na Nova Zelândia e Israel estão entre os destaques da semana que começa. Confira:
Ásia
Em uma grande semana para os bancos centrais na Ásia-Pacífico, os investidores terão sua primeira visão detalhada das opiniões políticas de Kazuo Ueda na sexta-feira (24), durante as primeiras audiências parlamentares do candidato a governador do Banco do Japão.
As falas virão após outro aumento de taxa esperado pelo banco central da Nova Zelândia, que busca combater uma inflação acima de 7%.
Prevê-se que o Banco da Coreia faça uma pausa em meio a sinais de tensão em sua economia, embora outro aumento não possa ser descartado, uma vez que a inflação permanece acima de 5%.
Na Austrália, a ata da reunião mais recente da autoridade monetária do país provavelmente irá fornecer mais informações sobre o pensamento do conselho com relação a novos aumentos de juros, enquanto o governador Philip Lowe luta para combater as críticas sobre sua liderança.
Antes do fim de semana, espera-se que os números da inflação japonesa mostrem que os preços permanecem aquecidos e deverão ser monitorados pelo novo governador do BOJ.
E na Índia, os chefes de finanças do Grupo dos 20 se reunirão no final da semana para discutir a economia mundial em seu primeiro encontro do ano.
Europa, Oriente Médio, África
Na zona do euro, a lista de indicadores a serem divulgados esta semana inclui a pesquisa dos gerentes de compras para fevereiro, que será publicada na terça-feira (21) e irá fornecer informações sobre o desempenho da economia após um crescimento inesperado no quarto trimestre.
A leitura final da inflação da zona do euro, prevista para quinta-feira (23), terá mais importância do que o normal depois que os dados atrasados da Alemanha foram omitidos da primeira estimativa. Os economistas antecipam uma pequena revisão para cima.
Ainda na Alemanha, o índice Ifo de sentimento empresarial na quarta-feira (22) sinalizará como a maior economia da Europa está enfrentando a crise de energia. Os economistas preveem melhorias em todas as medidas-chave.
No Reino Unido, onde a inflação desacelerou mais do que o esperado no mês passado, os investidores estarão atentos à análise do que isso significa para a política dos funcionários do Banco da Inglaterra.
Ao sul, o banco central de Israel provavelmente realizará o menor aumento de taxa de seu ciclo de aperto monetário, elevando seu índice de referência em 0,25 ponto percentual para 4% nesta segunda-feira (20).
Mas um aumento surpreendente na inflação, juntamente com a turbulência política, aumenta o risco de que os formuladores de políticas possam optar por uma ação mais agressiva.
O ministro das Finanças sul-africano, Enoch Godongwana, apresentará o seu orçamento anual na quarta-feira 22). Ele deve anunciar quanto da dívida de 400 bilhões de rands (US$ 22 bilhões) da concessionária de energia estatal Eskom Holdings SOC Ltd. será assumida pelo governo.
Destaque ainda para o banco central da Turquia, que deve cortar as taxas para menos de 9%, conforme prometido pelo presidente Recep Tayyip Erdogan no início deste mês. Os terremotos devastadores do país também estimularão as autoridades a realizar mais flexibilização na quinta-feira (23), dizem os economistas.
América Latina
No México, o relatório de preços ao consumidor do meio do mês deve enfatizar o óbvio: a inflação está elevada, bem acima da meta e rígida, já que a taxa principal paira perto de 7,8%, enquanto as leituras do núcleo continuam acima de 8%.
A ata da reunião do Banxico de 9 de fevereiro pode oferecer alguma orientação sobre o que os formuladores de políticas veem como uma possível taxa terminal dos atuais 11% e por quanto tempo eles podem decidir mantê-la no patamar atual.
Os dados de proxy do PIB de dezembro da Argentina e do México provavelmente mostrarão que ambas as economias estão esfriando rapidamente. O relatório de produção do quarto trimestre do Peru também deve revelar uma queda no ímpeto, capturando o início de dezembro da turbulência política e agitação nacional desencadeada pela queda do presidente Pedro Castillo.
O Banco Central do Brasil (BC) divulga sua pesquisa de expectativas de mercado no meio da semana com o fim do feriado de Carnaval. Tanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quanto o presidente do banco central, Roberto Campos Neto, podem ajudar a atenuar as tensões sobre a política monetária que são, pelo menos em parte, responsáveis pelo aumento das expectativas de inflação.
Os dados de preços ao consumidor no meio do mês publicados na sexta-feira (24) podem mostrar que a inflação está próxima dos 5,79%, atualmente previstos para o final de 2023 e precisamente onde terminou 2022.
-- Com a colaboração de Paul Jackson, Robert Jameson, Paul Richardson e Stephen Wicary
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