‘Ato irresponsável’, diz secretário dos EUA a diplomata da China sobre balão

Blinken disse ao conselheiro de Estado chinês que os EUA tinham informações de que a China estava considerando dar assistência à Rússia

Aparato sobrevoou os EUA e é suspeito de ser instrumento de vigilância
Por Courtney McBride
19 de Fevereiro, 2023 | 12:53 PM

Bloomberg — O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, alertou o principal diplomata da China contra o fornecimento de ajuda letal à invasão da Ucrânia pela Rússia e o repreendeu por um suposto balão espião chinês que aumentou as tensões entre as maiores economias do mundo.

Blinken disse ao conselheiro de Estado chinês Wang Yi em Munique na noite de sábado (18) que os EUA tinham informações de que a China estava considerando dar assistência à Rússia, possivelmente incluindo armas, para a guerra na Ucrânia. Os EUA alertaram a China desde o início da invasão, há um ano, para não fazê-lo.

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“A preocupação que temos agora é, com base nas informações que temos, que eles estão considerando fornecer apoio letal”, disse Blinken ao programa “Face the Nation” da CBS logo após se encontrar com Wang. “E deixamos bem claro para eles que isso poderia causar um problema sério para nós e nosso relacionamento.”

Em suas primeiras conversas desde a crise sobre o balão, Blinken disse a Wang que a entrada do objeto no espaço aéreo dos EUA foi um “ato irresponsável que nunca deve ocorrer novamente” e alertou a China contra ajudar a Rússia a fugir das sanções ligadas à invasão da Ucrânia, disse o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, em comunicado.

Wang disse na reunião que os EUA deveriam mudar a forma como estão lidando com o episódio do balão, de acordo com a agência oficial de notícias Xinhua, e agir para “reparar o dano que seu uso excessivo da força causou às relações China-EUA”.

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As observações de Blinken — e os comentários de Wang, incluindo críticas duras aos EUA sobre Taiwan e controles de exportação recentemente introduzidos —destacaram como as relações ainda são tensas. Apesar das declarações dos líderes de ambas as nações de que desejam estabilizar o relacionamento, as divergências deixaram claro que os EUA e a China não estão nem perto de restaurar a normalidade no relacionamento bilateral mais importante do mundo.

A reunião de sábado ocorreu à margem da Conferência de Segurança de Munique. Wang atacou os EUA de antemão, chamando a decisão do presidente Joe Biden de abater o balão sobre o espaço aéreo americano e o estado de alerta elevado de “incompreensível e quase histérico “.

O dirigível, que a China disse ser um dispositivo meteorológico desviado do curso, levou Blinken a cancelar uma viagem planejada para Pequim. Um caça F-22 derrubou o balão na costa da Carolina do Sul em 4 de fevereiro. Desde que o balão foi identificado e abatido, os EUA e a China trocaram acusações sobre os esforços de espionagem global.

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Os EUA disseram que o balão fazia parte de uma frota de dispositivos de espionagem dirigidos pelo Exército Popular de Libertação da China. A China respondeu que os EUA estavam exagerando e que haviam voado aeronaves semelhantes sobre a China — alegações que a Casa Branca rejeitou.

“O secretário deixou claro que os Estados Unidos não tolerarão nenhuma violação de nossa soberania e que o programa de balões de vigilância de alta altitude da RPC – que invadiu o espaço aéreo de mais de 40 países em 5 continentes – foi exposto ao mundo”, disse Ned Price, em um comunicado, referindo-se à China por seu nome formal, República Popular da China.

Guerra na Ucrânia

Os EUA estão consultando aliados e parceiros na conferência de Munique e em outros lugares, inclusive compartilhando sua preocupação de que a China possa estar dando apoio mais tangível aos militares da Rússia do que antes, de acordo com uma pessoa familiarizada com o pensamento do governo.

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No início da conferência, Wang disse que a China divulgaria uma nova proposta de paz para a Ucrânia nos próximos dias, que estaria de acordo com os esforços anteriores do presidente Xi Jinping. Ele condenou os ataques a usinas nucleares.

“Nos opomos a ataques a usinas nucleares, ataques a instalações nucleares civis”, disse Wang. “Temos que trabalhar para prevenir a proliferação nuclear e os desastres nucleares.”

A resposta inicial foi cautelosa. A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, saudou a ideia da China, mas disse que “uma paz justa não pode significar que o agressor seja recompensado”. Como membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, “a China é obrigada a usar sua influência para a paz global”, disse Baerbock. A retirada das tropas russas da Ucrânia é uma condição para qualquer acordo de paz, disse ela.

Questionado sobre a proposta de paz de Wang, um funcionário dos EUA que falou a repórteres sob condição de anonimato disse que Pequim parece estar tentando promover publicamente a paz e a estabilidade enquanto apoia secretamente a agressão da Rússia contra seu vizinho.

Funcionários do Departamento de Estado continuam a dizer que a viagem de Blinken à China será remarcada quando as condições forem adequadas, mas não identificaram essas condições ou o tempo potencial.

A aspereza em torno do balão de espionagem — alimentada em parte pelas críticas republicanas ao governo Biden — afastou qualquer possibilidade de colocar os laços em uma base mais estável. Biden e Xi se encontraram no final do ano passado tentando colocar um “piso” no relacionamento e impedir que as tensões saíssem do controle.

Embora a China inicialmente tenha lamentado o que disse ter sido o desvio acidental do balão sobre o território dos EUA, ela negou que a nave fosse destinada à vigilância e denunciou a decisão de derrubá-la como uma reação exagerada.

Na quinta-feira, Biden disse que esperava ter uma ligação com Xi, sem dar detalhes.

“Também continuamos a nos envolver com a China, como fizemos nas últimas duas semanas”, disse Biden em um briefing.

“Como eu disse desde o início do meu governo, buscamos competição, não conflito, com a China”, disse Biden. “Não estamos procurando uma nova Guerra Fria, mas não peço desculpas e vamos competir.”

--Com a ajuda de Felipe Glamann

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