Bloomberg Opinion — É difícil sentir pena dos trabalhadores do setor de tecnologia do Vale do Silício. Com altos salários e generosas opções de ações até sestas e folgas ilimitadas, eles estão entre a classe mais privilegiada de funcionários do mundo. Por outro lado, não há como negar que estes funcionários mimados fizeram uma revolução tecnológica que trouxe um valor econômico e social incalculável para todo o planeta.
No entanto, há uma categoria de pessoas que pode lamentar a abordagem fria das demissões em massa no setor durante os últimos meses: os CEOs que fizeram as demissões.
Quase 100 mil cargos foram eliminados somente este ano, segundo o Layoffs.fyi, que rastreia os dados. Em algum momento, nos próximos anos, essas vagas de emprego retornarão. Estamos à beira de um boom de inteligência artificial, as velocidades da rede continuam aumentando, os carros estarão em piloto automático, e haverá mais dados coletados e armazenados do que as big techs podem comportar. Recrutadores e gerentes de contratação vão implorar para esses mesmos funcionários retornarem.
Durante a maior parte de duas décadas, as FANG – Facebook (META), Amazon (AMZN), Netflix (NFLX) e Google (GOOG) – eram o epítome do sucesso para um jovem engenheiro ou um gerente com ambições. Com a Microsoft (MSFT) e a Apple (AAPL) – tornando-se as MAFANG – são US$ 7,3 trilhões de capitalização de mercado, mesmo depois de uma queda de 25% nos principais índices de ações. Mais importante: elas estão entre os nomes mais valiosos que um funcionário pode ter em seu currículo.
Estas empresas se orgulham de medir, avaliar e recompensar o desempenho. Mas com razão ou não, elas recentemente apresentaram ao mundo um pouco de quem realmente são: empresas insensíveis que demitem pessoas no meio de tarefas ou viagens de negócios com poucas explicações, sem oportunidade de despedirem de colegas e sem o reconhecimento de suas necessidades que vão além de salários e incluem um senso de dignidade e valorização.
Não devemos nos iludir e acreditar que as empresas devem exibir algum tipo de valores familiares, como muitas vezes fingiram fazer. Mas há um motivo pelo qual vantagens como massagistas no escritório e aulas gratuitas de ioga são implementadas – elas ajudam a atrair e reter as mentes mais brilhantes e criativas, aquelas necessárias para inspirar novos produtos e resolver desafios técnicos aparentemente insuperáveis.
As MAFANG eram consideradas um degrau para algo melhor – sua própria startup, um emprego em uma empresa de capital de risco, um cargo de liderança em uma empresa de tecnologia menor, mas de crescimento mais rápido.
Os líderes corporativos não precisam se preocupar se suas empresas são apenas um degrau na carreira de um funcionário. Eles devem estar preocupados se não forem.
Em vez de contratar talentos com motivação e espírito empreendedor e sonhos para algo melhor, eles poderiam encontrar um cenário ainda pior: os trabalhadores consideram essas empresas não como um lugar para começar ou construir uma carreira, mas como um lugar para se aposentarem, onde podem viver seus dias navegando com segurança pela burocracia da empresa até que o próximo ciclo de trabalho traga um bom salário. Um repositório para aqueles que não têm mais para onde ir e não desejam nem mesmo procurar outro lugar.
O que nenhum CEO de tecnologia quer atualmente é tornar-se a próxima IBM ou General Electric, outrora bastiões da inovação e poder que se tornaram símbolos de moral empresarial baixa e duvidosa.
Embora os trabalhadores do setor de tecnologia tenham recebido o impacto das demissões desta vez, o setor de finanças também está sentindo os efeitos. O Goldman Sachs (GS) disse que planeja cortar 3.200 empregos, o Morgan Stanley (MS) em torno de 1.600, e o Bank of New York Mellon deve demitir aproximadamente 1.500 pessoas, pois a desaceleração nas ofertas públicas e fusões atinge os lucros.
Mas agora, depois de ter atrapalhado seus programas de redução de pessoal na tentativa de apaziguar os investidores ativistas, as empresas de tecnologia correm o risco de serem lembradas para sempre não como as empresas que contratavam estrelas pop para a festa de fim de ano, mas como as empresas que despediram mulheres em licença maternidade na calada da noite.
Esta abordagem pode impulsionar o resultado final a curto prazo e aplacar os acionistas que se vangloriam do inchaço das empresas. Mas em alguns anos elas estarão competindo no mercado de trabalho com uma nova safra de trabalhadores, muitos dos quais surgiram durante a pandemia e a retração. Para os líderes estabelecidos, o porte e o legado serão menos uma atração e mais um abutre que paira ao seu redor.
É claro que as MAFANG ainda conseguirão atrair recém-formados e profissionais experientes. Mas não tantos, e não os melhores. E isso vai doer.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Tim Culpan é colunista da Bloomberg Opinion e cobre tecnologia. Anteriormente cobriu tecnologia para a Bloomberg News.
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