Fundos de Wall St. compram ações de tecnologia por 12 sessões seguidas. Entenda

Investidores ignoram a perspectiva de aumento de juros com medo de ficar de fora da recuperação do valor dos papéis das empresas

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Bloomberg — Com maior apetite por ativos de risco, investidores profissionais em Wall Street aumentaram as compras de ações de tecnologia, depois de muitos perderem o rali do ano novo que fez dos papéis das empresas do setor serem os maiores vencedores do mercado acionário.

Hedge funds (fundos multimimercado) que apostam tanto na alta quanto na baixa haviam comprado ações de fabricantes de computadores e software por 12 sessões seguidas até a quarta-feira (16), de acordo com dados compilados pela prime brokerage do Goldman Sachs.

Enquanto a cobertura de posições vendidas dominou os fluxos durante a primeira semana de fevereiro, o grupo aumentou as apostas compradas nas últimas sessões — um sinal de convicção crescente no setor de tecnologia da informação.

O maior interesse por ações de tecnologia tem desafiado o avanço dos rendimentos dos treasuries (títulos do Tesouro americano), uma tendência que supostamente cria pressão sobre o “valuation” de empresas com preços altos em particular.

No entanto, como o segmento de tecnologia passou de maior perdedor do mercado baixista do ano passado para o setor com melhor desempenho no S&P 500 em 2023, o medo de ficar de fora do rali aumentou.

Ao mesmo tempo, a queda de dois dias das bolsas esta semana devido a novos temores sobre aumentos dos juros arrisca levar a perdas mais profundas na renda variável – justo quando o dinheiro migra rapidamente para ações de tecnologia.

“A jogada do momento é anular aquela regra prática de que taxas de juros mais altas devem ser ruins para tecnologia”, disse Craig Callahan, diretor-presidente da Icon Advisers e autor de “Unloved Bull Markets”. “Os hedge funds não estavam lá desde o início. Agora correm atrás.”

Recuperação

Companhias de TI tiveram um forte início de 2023, apoiadas pela expectativa de que o Federal Reserve poderia cortar os juros no fim do ano. Embora esse otimismo tenha se mostrado equivocado, ações de tecnologia mantiveram a liderança.

Apesar de uma temporada de balanços sem brilho, ações de empresas como Meta Platforms (META) subiram em meio à onda de cortes de empregos, o que aliviou a preocupação com a queda na rentabilidade.

Depois de evitar ações de companhias de tecnologia durante grande parte de 2022, hedge funds ensaiam uma aproximação. Suas compras de ações aumentaram para a máxima em um mês na terça-feira, e quase todos os subsetores registraram entradas líquidas, de acordo com dados compilados pela equipe do Goldman, que inclui Vincent Lin.

Esse tipo de interesse renovado dos investidores pode explicar por que ações de tecnologia superaram aos ventos contrários aos seus valuations vindos do mercado de títulos. Embora o “yield” do Treasury de dois anos tenha subido 49 pontos-base este mês, o Nasdaq 100, com forte peso de tecnologia, também avançou, com alta de quase 3%.

Nas duas últimas vezes em que os rendimentos aumentaram nesse ritmo, em meados de 2022, o índice caiu 5% em agosto e cerca de 11% no mês seguinte.

O segmento mais arriscado teve ganhos mais fortes. Um índice do Goldman que rastreia empresas de tecnologia não rentáveis ampliou a alta acumulada no ano para 24%.

“Quanto mais elevadas as taxas, mais as ações com beta alto avançam - isso não faz muito sentido”, disse Danny Kirsch, chefe de opções da Piper Sandler & Co. “Você pensaria que juros mais altos pressionariam ativos de risco. Isso parece não importar agora.”

Manter uma postura defensiva ajudou o setor de hedge funds a se sair melhor durante a forte onda vendedora de 2022. Agora, a estratégia afeta o desempenho do segmento. Fundos long/short (comprados/vendidos) monitorados pelo Goldman haviam subido 3,4% neste ano até terça-feira, menos da metade do ganho de um índice MSCI.

Apesar da última onda de compras, a exposição de hedge funds à indústria de tecnologia permanece moderada, com a relação comprada/vendida no decil mais baixo de um intervalo de cinco anos, mostram dados do Goldman.

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