Bloomberg — O talento de Bao Fan para fechar negócios complicados e identificar potenciais no setor de tecnologia fez dele um dos financiadores mais influentes da China.
Seu repentino desaparecimento esta semana – ligado a uma investigação do governo chinês – está agora assustando a elite empresarial do país e levantando novas dúvidas se a repressão do presidente Xi Jinping sobre o setor privado já está em andamento.
Embora não haja indicação de que o presidente da China Renaissance Holdings tenha se tornado alvo dos órgãos reguladores, o banco de investimentos disse na quinta-feira (16) que havia perdido o contato com Bao. A família do banqueiro foi informada de que ele está ajudando uma investigação, segundo uma pessoa familiarizada com o assunto.
Cong Lin, ex-presidente da empresa, está envolvido em uma investigação pelas autoridades desde setembro, disse a pessoa, pedindo para não ser identificada por discutir informações particulares.
Na ausência de qualquer comentário oficial das autoridades chinesas sobre o paradeiro da Bao, a especulação sobre seu destino dominou as conversas entre financiadores e executivos de tecnologia em Hong Kong e na China continental.
Bao tem muitas conexões e conhecimento de informações relacionadas aos maiores empresários do país, assessorando gigantes como o Alibaba Group (BABA) e a Tencent Holdings.
Na China, o desaparecimento repentino de um executivo tem cada vez mais indicado uma repressão ou investigação por parte das autoridades. Em muitos casos, diz-se que a pessoa está “auxiliando” as investigações.
As empresas de capital aberto geralmente relatam ter perdido o contato com o executivo e precisam fazer suas próprias investigações sobre o que aconteceu dentro do sistema jurídico opaco do país.
Um empresário simpático e franco, Bao fundou o proeminente banco de investimento chinês, que foca em tecnologia. Ele convenceu uma empresa apoiada por Jack Ma se tornar uma investidora fundamental quando sua empresa abriu capital em 2018 e tem sido o banqueiro das maiores estrelas da tecnologia.
Bao está entre os “indivíduos com formação ocidental com muitas conexões com a elite financeira global”, disse Victor Shih, professor adjunto da Universidade da Califórnia especializado em políticas bancárias da China. “Não vemos esse tipo de pessoa se deparando de repente com problemas tão sérios com tanta frequência.”
Bao estudou literatura inglesa na prestigiosa Universidade Fudan da China e fez um mestrado em negócios e economia na BI Norwegian School of Management em 1995.
Certa vez, ele disse que era sua missão “participar da criação de valor dos maiores empreendedores” na China.
Ex-banqueiro do Morgan Stanley (MS) e do Credit Suisse (CS), Bao fundou a China Renaissance em 2005, fazendo um nome para a empresa através da intermediação de fusões complicadas que levaram à formação da Didi Global e da gigante Meituan, de delivery de comida.
Seu banco ajudou com 574 colocações privadas para empresas incluindo a Grab Holdings e a Kuaishou Technology, levantando um total de US$ 41 bilhões para as empresas antes da abertura de capital há cinco anos.
Sua empresa foi bookrunner no IPO de US$ 2 bilhões da JD.com (JD) em 2014, e uma das principais subscritoras de ações da Kuaishou Technology em Hong Kong em 2021, o maior IPO de uma empresa de internet desde a estreia da Uber (UBER) em 2019.
A China Renaissance também é uma investidora prolífica, apoiando empresas como a NIO (NIO) e a WuXi AppTec. Bao posteriormente expandiu seus negócios para serviços de gestão de patrimônio e corretagem.
A empresa geria cerca de US$ 7,1 bilhões em investimentos no final de junho de 2022, de acordo com seu relatório intermediário mais recente.
Otimismo
Mesmo depois de um ano de repressão ao setor tecnológico na China, Bao estava otimista. Ele convenceu os investidores do Sudeste Asiático e do Oriente Médio a apoiar sua expansão para private equity, enquanto focava em investimentos no setor de saúde, marcas de consumo e tecnologia empresarial nos últimos dois anos.
As autoridades permaneceram caladas sobre o desaparecimento de Bao. A China Renaissance não quis comentar além do que divulgou em um documento.
Em um memorando à equipe na sexta-feira (17), o comitê executivo da empresa exortou seus funcionários a se manterem unidos, não acreditarem em boatos nem espalhá-los. “Por favor, confiem no grupo e no comitê executivo, não se preocupem e tudo bem se nos depararmos com alguns problemas no curto prazo”, disse o comitê.
As ações da China Renaissance despencavam 28% nesta sexta-feira em Hong Kong.
“Isto pode ser um problema de longo prazo para as ações, pois Bao é o principal rosto da empresa”, disse Willer Chen, analista sênior da Forsyth Barr Asia.
O ex-presidente do banco Cong Lin ocupou vários cargos no Industrial & Commercial Bank of China. Ele deixou a China Renaissance no ano passado, segundo uma pessoa familiarizada com o assunto.
Não está claro se o desaparecimento de Bao marca a escalada de novas inspeções no setor financeiro da China.
O Presidente Xi lançou uma ampla investigação de corrupção no final de 2021, visando o setor financeiro do país, que vale US$ 60 trilhões, e prendeu dezenas de funcionários. A investigação também implicou a comunidade de bancos de investimento, prendendo banqueiros de corretoras incluindo a Everbright Securities e a Guotai Junan Securities.
Recentemente, o governo flexibilizou sua posição em relação ao setor privado, elogiando o Ant Group por seguir a liderança do Partido Comunista e retomar o serviço de compartilhamento de caronas Didi nas lojas de aplicativos. O governo também emitiu uma medida de inspeção para o setor imobiliário.
“Para um banqueiro de investimentos de alto perfil como este, se o governo estiver por trás do desaparecimento de Bao Fan, eles deveriam ter pensado nas implicações publicitárias de suas ações”, disse Shih. “Os órgãos reguladores têm que tomar cuidado, os investidores privados na China já estão no limite. O partido tentou assegurar que a ação regulatória será mais suave no futuro”.
--Com a colaboração de John Cheng.
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