Bloomberg — Mora na Argentina e vai voltar em breve de uma viagem ao exterior? Agentes da alfândega podem estar investigando suas postagens nas redes sociais neste exato momento para identificar seu perfil de risco.
A medida faz parte da mais recente tentativa do governo argentino de frear a fuga de dólares da economia, que consiste em investigar passageiros suspeitos de usar divisas para trazer mercadorias e vendê-las no país, segundo uma pessoa com conhecimento direto do assunto.
Até onde o governo vai chegar para impedir importações ilegais, por menores que sejam, é um sinal de quão grave se tornou a falta de dólares. A Argentina precisa de cada moeda estrangeira que puder encontrar para pagar dívidas e importar itens essenciais, como remédios ou máquinas. Não pode gastá-las em bens de consumo sem minar a taxa de câmbio — daí a decisão de recorrer a controles draconianos.
“As pessoas não percebem que estão se entregando nas redes sociais”, disse Eduardo Mallea, chefe do departamento de comércio exterior do escritório de advocacia Bruchou y Funes de Rioja. “Se você disser na sua conta de rede social que vende roupas e, ao mesmo tempo, entrar e sair de Miami, vão te pegar.”
A política visa os US$ 400 milhões que argentinos gastam no exterior todos os meses, principalmente por meio de cartões de crédito.
Além das redes sociais, as autoridades também verificam detalhes do voo dos passageiros e quaisquer reembolsos de impostos solicitados no exterior.
Escala em Miami
O objetivo dos controles é permitir que as autoridades se concentrem em passageiros suspeitos, em vez de parar todos no aeroporto. Parece estar funcionando. Quatro em cada 10 pessoas paradas por funcionários da alfândega cometeram alguma infração, disse a pessoa.
“Isto não é para uma pessoa que viaja e traz alguma roupa ou um celular”, disse à imprensa local Guillermo Michel, diretor-geral da Alfândega da Argentina. “Isso se aplica a pessoas que trazem roupas por motivos comerciais ou sapatos por motivos comerciais”.
Por exemplo, não é incomum que argentinos viajem para Miami com uma mala, fiquem menos de um dia e voltem com seis malas cheias de roupas para vender no em sua terra natal, contou a fonte. Fazem isso porque, com os controles de importação argentinos, as roupas nacionais são mais caras e de pior qualidade do que as do exterior.
A Argentina sofre com a escassez de moeda estrangeira há quatro anos, o que obriga o governo a manter rígidos controles sobre as importações e compras de dólares para evitar novas desvalorizações do peso. Ainda assim, as reservas continuam em queda.
“Isso mostra que eles estão desesperados por dólares”, disse Miguel Kiguel, ex-subsecretário de Finanças da Argentina.
“É verdade que a alfândega tem que controlar isso, mas não vai mudar nada em relação aos dólares que saem do país.”
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