Bloomberg — Os papeis da XP (XP) despencaram em Nova York nesta sexta-feira (17) enquanto a empresa enfrenta uma prova de fogo com investidores questionando se o plano de manter os custos sob controle será suficiente para enfrentar o período de juros altos.
As ações caíram até 22%, para US$ 12,40, na bolsa Nasdaq em Nova York na sexta, o menor valor intraday já registrado. Isso é 54% abaixo do preço de US$ 27 de sua oferta pública inicial no fim de 2019. Por fim, o papel da empresa fechou o dia com queda de 18,75%, a US$ 12,91.
O lucro líquido ajustado da empresa paulista ficou em R$ 893 milhões (US$ 172 milhões) no quarto trimestre, uma queda de 18% em relação ao ano anterior e abaixo da estimativa média dos analistas de R$ 1,03 bilhão.
Os resultados foram afetados por uma desaceleração em volumes em meio a taxas de juros mais altas no Brasil, que está prejudicando a demanda por alguns produtos de investimento.
“É hora de uma mudança de estratégia”, disseram analistas do Credit Suisse, liderados por Marcelo Telles, em relatório que rebaixa o papel para uma classificação de venda equivalente. “O ambiente de juros está se mostrando um grande desafio para os negócios do modelo da XP, cujo efeito é ainda mais exacerbado por uma reestruturação corporativa necessária, mas complexa e altamente desgastante.”
Analistas do Citigroup juntaram-se ao coro e disseram que medidas adicionais podem ser necessárias após a empresa tomar iniciativas para controlar despesas, incluindo demissões.
Em teleconferência com investidores quinta-feira, a administração da empresa disse que sua força de trabalho encolheu em 5,5% em janeiro em relação ao mês anterior, e prometeu continuar com outras medidas de corte de custos ao longo do ano.
“Nós nos perguntamos se isso será suficiente para os investidores neste ponto ou se uma mudança estratégica mais profunda pode ser necessária”, disse o analista Gabriel Gusan, do Citi.
A XP foi fundada em 2001 por Guilherme Benchimol — atualmente o presidente da empresa - e expandiu com a venda de produtos de investimento para investidores de varejo brasileiros que antes eram apenas disponíveis para indivíduos mais ricos.
Rapidamente estimulou imitadores e agora enfrenta uma concorrência mais acirrada, com empresas que incluem o Banco BTG Pactual crescendo para atender clientes de varejo e também roubando as empresas de consultoria independentes da XP.
Em uma longa carta aos seus consultores de investimento no início desta semana, Benchimol disse que o sucesso da empresa fez com que ela se tornasse menos humilde e criticou seu conformismo.
No mês passado, a XP informou que as entradas líquidas para os três meses encerrados em 31 de dezembro totalizaram R$ 31 bilhões, uma queda de 35% em relação ao ano anterior, enquanto seus ativos sob custódia chegaram a R$ 945 bilhões — ainda abaixo da meta informal de Benchimol para R$ 1 trilhão até o final de 2020.
O fato de Benchimol e atual CEO Thiago Maffra não participarem da teleconferência de resultados foi visto como negativo pelo analista do BTG Pactual Eduardo Rosman, que destacou uma perspectiva desafiadora para a maior corretora do Brasil.
“Se a XP quiser aumentar seu lucro, ela precisará se tornar mais um banco de investimento e menos um ‘corretor puro’”, disse Rosman. “Essa transição não vai ser fácil.”
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