Bloomberg — A convicção de Said Haidar de que a inflação estava prestes a explodir em todo o mundo pode ser resumida em um único número: US$ 63 bilhões. Isso é quanto sua gestora Haidar Capital Management reportou em ativos para começar 2022.
O fundo hedge - categoria que seria equivalente aos multimercados no Brasil -, contudo, supervisionava apenas US$ 1,2 bilhão.
Essa alavancagem abundante levou a um ano tumultuado – em um mês o fundo subiu 54%, no outro, caiu 20% –, mas acabou valendo a pena, produzindo um retorno de 193% para os investidores.
Haidar apostou alto que as taxas de juros subiriam rapidamente, posicionando-se corretamente para lucrar com o aumento da inflação que levou à mais agressiva campanha de aperto do banco central em uma geração, ou quatro décadas, para ser mais exato.
Alguns, como Haidar, podem dizer que previram tudo isso. Ele escreveu aos clientes em janeiro de 2022 que os mercados teriam que precificar mais aumentos de taxas, levando à “insuficiência nos ativos de risco”. Poucos colheram ganhos tão altos quanto ele.
Haidar lucrou US$ 859 milhões com seus investimentos em 2022, colocando-o em sexto lugar no ranking anual da Bloomberg News dos gestores de fundos de hedge com os maiores ganhos.
Ele é o nome mais novo e menos conhecido em uma lista dominada por pesos pesados da indústria. Ken Griffin, da Citadel, Steve Cohen, da Point72, e Izzy Englander, da Millennium, que somaram cerca de US$ 55 bilhões em ganhos em 2022, ficaram com os três primeiros lugares.
Um porta-voz de Haidar se recusou a comentar.
Haidar, um operador que iniciou seu fundo de hedge há mais de 25 anos, reflete um ressurgimento da velha guarda do mundo dos fundos de hedge depois de ter sido superado nos últimos anos por investidores mais focados em tecnologia, como Chase Coleman e seus colegas Tiger Cubs.
Os maiores vencedores incluem especialistas macro como Haidar, bem como quants e fundos multi-estratégia. O fundo da Citadel, por exemplo, subiu 38% no ano. Os perdedores, incluindo a Tiger Global Management, de Coleman, a Lone Pine Capital e a Coatue Management, registraram alguns de seus piores retornos anuais de todos os tempos.
Os fundadores dessas gestoras sentiram pessoalmente essa glória e dor. Griffin, 54, ganhou US$ 4,1 bilhões somente no ano passado. Coleman, 47, perdeu US$ 1,7 bilhão, de acordo com a análise da Bloomberg News.
No caso de Griffin, pouco mais da metade de seus ganhos veio de seu investimento nos fundos da Citadel, com sede em Miami, com o restante vindo de sua parte nas taxas de performance.
É o máximo que alguém levou para casa desde que a Bloomberg News iniciou o ranking em 2019 e mais do que o dobro do US$ 1,9 bilhão ganho por Cohen, proprietário da Point72 Asset Management e do New York Mets, que ficou em segundo lugar.
Apesar dos ganhos de Griffin, o total de US$ 13,8 bilhões referente aos 15 gestores mais bem pagos representa o menor montante anual desde 2019. Dois anos atrás, eram US$ 23 bilhões, quando Coleman levou para casa US$ 3 bilhões para ficar com o primeiro lugar.
As perdas, entretanto, foram enormes.
Os fundos públicos da Tiger Global encolheram em 2022, pois suas apostas na China, em ações de tecnologia e em startups não deram certo após anos de ganhos e grande sucesso. Scott Shleifer, chefe de investimentos privados da empresa, perdeu US$ 530 milhões.
A análise da Bloomberg News examinou apenas os fundos hedge e os de ações com estratégia long only (que só podem operar comprados, isto é, apostando na valorização das ações que investe), não considerando os portfólios dedicados de private equity e venture capital (VC).
Outras presenças constantes de listas anteriores da Bloomberg News de maiores ganhadores de fundos de hedge também enfrentaram reversões de fortuna. Dan Sundheim, da D1 Capital, Chris Hohn, da TCI, Stephen Mandel, da Lone Pine Capital, e Andreas Halvorsen, da Viking Global, sofreram as maiores perdas de suas fortunas pessoais no ano passado.
O que muitas dessas empresas têm em comum: grandes apostas em ações de tecnologia, às vezes incluindo investimentos em VC. Muitos dos gestores começaram suas carreiras na Tiger Management de Julian Robertson, ganhando o apelido de Tiger Cub.
A lista da Bloomberg News exclui aqueles que não administram dinheiro para investidores estrangeiros. Isso significa que Michael Platt não está classificado, apesar de adicionar US$ 3 bilhões à sua fortuna, já que a BlueCrest Capital registrou um retorno de 153%.
Quanto a Haidar, ele teve um começo difícil neste ano. Seu fundo afundou 13% em janeiro, depois de ser pego de surpresa por uma queda inesperada nos rendimentos dos títulos. Ele disse a clientes em uma entrevista neste mês que continua convencido de que a inflação permanecerá elevada, forçando os bancos centrais a continuar aumentando as taxas de juros.
“Se a inflação cair tão rapidamente quanto os bancos centrais prevêem”, disse ele, “será porque eles tiveram muita sorte”.
- Com a colaboração de Amanda Albright, Nishant Kumar e Katherine Burton.
Veja mais em bloomberg.com
Leia também
Bilionários da Americanas alegam perdas de R$ 1,6 bi em conversa com credores
Benchimol vê assessores ‘abandonando’ clientes, e escritório rebate críticas