Perspectiva de Fed “linha dura” pesa nos mercados, em baixa nos EUA e na Europa

Fatores geopolíticos, novo golpe no setor cripto e feriado nos EUA na segunda-feira também afetam a disposição dos investidores em tomar riscos

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Barcelona, Espanha — A quebra de expectativas dos investidores quanto à política de juros do Federal Reserve (Fed) desengatilhou vendas no mercado. Quando já confiavam que o banco central dos Estados Unidos estaria perto de rever sua estratégia para controlar a inflação, indicadores mostrando a solidez da economia estremeceram as convicções dos operadores. Para completar, os comentários mais duros de membros do Fed levam agora o mercado a considerar que a instituição pode, inclusive, voltar a aplicar uma dose maior de alta dos juros, de 0,50 ponto percentual.

Os investidores se perguntando sobre até que ponto o Fed irá aumentar as taxas neste ciclo de aperto monetário. Eles agora vêem a taxa dos Fed Funds subindo além de 5,2% em julho, de acordo com as negociações nos mercados monetários dos EUA. Isso se compara a um pico de 4,9% registrado há apenas duas semanas.

Diante destas expectativas, o dólar subia e os futuros de índices norte-americanos recuavam em bloco. Os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA de dois anos e de 10 anos marcavam suas máximas para 2023. Na Europa, o sinala também era negativo, com o setor de tecnologia liderando os declínios.

Registram queda pronunciada os contratos de petróleo e criptmoedas como o bitcoin, este último apagando parte de um rali recente.

Também dita cautela o fato de que as bolsas dos EUA estarão fechadas na segunda-feira por feriado (Presidents’ Day). Isso significa que não haverá negociação com ações e nem com títulos do Tesouro.

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→ O que move os mercados hoje

📈 Mudança de curso? Loretta Mester, do Fed de Cleveland, vê um “caso econômico convincente” para a instituição voltar a elevar em 0,50 ponto os juros na próxima reunião, opinião ecoada por seu colega de St. Louis, James Bullard. “Esta será uma longa batalha contra a inflação e provavelmente teremos que continuar a mostrar determinação nesta luta em 2023″, disse Bullard. Na primeira reunião de 2023, o Fed desacelerou a alta para 0,25 ponto, o menor incremento desde o início do ciclo de aperto monetário, em março de 2022 (quando o Fed subiu o juro em 0,25 ponto). A partir de então, foram outros seis aumentos “jumbo” de taxas, quatro delas de 0,75 ponto.

🥊 Novo golpe para o mundo cripto. A agência reguladora do mercado de capitais norte-americano acusou o empresário cripto Do Kwon e a firma que ele co-fundou de uma fraude envolvendo a malograda stablecoin TerraUSD. A SEC alegou no tribunal federal na quinta-feira que a Terraform Labs e Kwon ofereciam e vendiam títulos não registrados, incluindo o stablecoin, e realizaram um esquema que acabou com um valor de mercado de pelo menos US$ 40 bilhões. O caso marca uma escalada significativa na repressão da SEC à indústria de criptoativos.

💰 Chuva de dinheiro. Na China, o banco central irrigou o sistema bancário com a maior quantidade de dinheiro de curto prazo realizada em um dia desde o início dos registros, em 2004. O país não tem poupado esforços para evitar um aperto de liquidez que ameaça a economia real. O Banco Popular da China ofertou 835 bilhões de yuans (US$ 121 bilhões) por meio de contratos de recompra reversa de sete dias, o que representa uma injeção líquida de 632 bilhões de yuans.

🕊️ ‘DR’ entre países. O presidente Joe Biden espera em breve falar com Xi Jinping sobre o balão chinês abatido pelos EUA no início deste mês, sinalizando o desejo de pôr um fim a uma contenda que evidencia a fragilidade das relações entre as maiores economias do mundo. Em suas palavras, Biden disse “esperar conversar com o presidente Xi” e que torce para que os países “cheguem a um ponto final” nesta questão. “Mas não peço desculpas por ter derrubado aquele balão.”

🟢 As bolsas ontem (16/02): Dow Jones Industrials (-1,26%), S&P 500 (-1,38%), Nasdaq Composite (-1,78%), Stoxx 600 (+0,19%), Ibovespa (+0,31%)

O aperto nos discursos de membros do Fed, que transmitem com firmeza a continuidade de uma política monetária restritiva, pesou nos mercados acionários. As conjecturas sobre o rumo dos juros - à luz de dados econômicos que evidenciam a solidez da economia dos EUA - trouxeram muita volatilidade à negociações nesta semana.

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Na agenda

Esta é a agenda prevista para hoje:

EUA: Preços de Bens Importados e Exportados/Jan, Índice de Indicadores Antecedentes

Europa: Zona do Euro (Transações Correntes/Dez); Reino Unido (Vendas no Varejo/Jan) ; Alemanha (IPP/Jan); França (IPC/Jan)

América Latina: Brasil (Fluxo Cambial Estrangeiro)

Bancos centrais: Discurso de Michelle Bowman e Thomas Barkin, do Fed

Balanços: Hermes, Allianz, Daimler, Deere&Company, Swiss Re, Liberty, Lenovo, Air France

🗓️ Estes são os eventos de destaque na semana

(Com informações da Bloomberg News)

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