Na Adyen, uma tech que contrata na contramão do setor. Mas o mercado desconfia

Empresa de pagamentos holandesa amplia o quadro em 30%, com o dobro do ritmo no Brasil, de olho na capacidade de crescimento no médio e longo prazos

Por

Bloomberg Línea — Enquanto grandes empresas de tecnologia e startups enxugam seus quadros e reduzem os custos de operação, a ordem na Adyen é manter as contratações em velocidade máxima em 2023. Investidores, no entanto, se questionam até que ponto a empresa de pagamentos com sede em Amsterdã vai conseguir manter resultados sólidos por causa do aumento dos custos de pessoal.

A Adyen, que opera do mercado de adquirência e atende empresas como Uber (UBER) e Magazine Luiza (MGLU3), pretende expandir a equipe em 2023 no mesmo ritmo do ano passado, quando passou de 2.575 funcionários para 3.332 no mundo, um aumento de 29%.

Em carta aos acionistas, a Adyen afirma que essa é uma decisão “deliberada” e que o quadro de funcionários deve crescer de forma significativa até o começo de 2024, quando a companhia espera atingir o nível considerado ideal.

“Enquanto a indústria de tecnologia em geral se envolve em reduções de pessoal e congelamento de contratações, continuamos comprometidos com os planos de contratação que se alinham com nossas ambições de longo prazo”, diz a carta assinada pelo CEO e cofundador Pieter van der Does e pelo CFO, Ingo Uytdehaage (que agora vai assumir o cargo de co-CEO).

“Nosso objetivo é progredir em direção às nossas bem consideradas aspirações técnicas e comerciais, para as quais músculos adicionais são essenciais.”

A visão é a de que os negócios que mais impulsionaram as receitas da Adyen nos últimos anos foram construídos com investimentos consistentes de longo prazo e que, portanto, faz sentido continuar investindo para atrair novos talentos.

É uma estratégia que contrasta com o cenário atual da maior parte das grandes empresas de tecnologia, que agora reduzem seus quadros de funcionários para se adequar ao momento de desaceleração econômica e queda do lucro, depois da onda de contratações durante a pandemia.

Avaliada em cerca de 45 bilhões de euros, a Adyen se tornou uma das empresas de tecnologia europeias que mais crescem no mundo oferecendo soluções de pagamento para serviços digitais, aplicativos de delivery e lojas virtuais.

Recentemente, entrou também no mercado de adquirência para lojas físicas, oferecendo maquininhas de cartões (POS), com sistemas integrados ao e-commerce, uma nova área de negócio que também tem feito as receitas subirem.

Investidores não estão tão convencidos quanto à estratégia da Adyen. As ações da companhia chegaram a cair até 15% na Bolsa de Amsterdã no dia 8 de fevereiro após a empresa apresentar os resultados financeiros do segundo semestre.

A principal razão para a queda dos papéis foi a apresentação de uma margem Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) menor do que o esperado. Ela ficou em 52%, abaixo dos níveis anteriores na faixa de 59%.

Apesar do aumento de 30% no faturamento anual em 2022 para 721,7 milhões de euros, as despesas operacionais tiveram um salto de 64% no ano, para 665,4 milhões de euros, puxadas principalmente pela expansão do quadro de funcionários.

As despesas com salários subiram para 193,3 milhões de euros, ante 100,9 milhões de euros no segundo semestre de 2021. “O talento que integramos continua sendo essencial para o sucesso de nossas ambições de longo prazo”, justifica a empresa.

Em 2023, as ações da Adyen acumulam alta de 10,2%, recuperando em parte de um tombo de 44% em 2022.

Expansão na América Latina

Os planos de aumento da equipe também incluem a América Latina, onde a Adyen tem operações no Brasil e no México. Em São Paulo, a equipe passou de 88 pessoas para 146 em um ano. No México, são 17.

A empresa também tem uma operação em São José dos Campos (interior de São Paulo), com 18 pessoas, que trabalham principalmente na área de tecnologia e desenvolvimento. A unidade deve crescer neste ano em número de funcionários e se tornar oficialmente um dos dez “tech hubs” da empresa no mundo.

“Mais de 50% das pessoas que vieram para a empresa em 2022 são de tecnologia. Vamos continuar crescendo”, disse Renato Migliacci, head de vendas da Adyen para o Brasil.

A América Latina respondeu por 7% das receitas totais da Adyen no segundo semestre e foi a terceira região que mais cresceu (36%), depois de América do Norte (45%) e Ásia-Pacífico (44%).

Em valores nominais, o faturamento da empresa na região somou 97,8 milhões de euros (aproximadamente R$ 542,6 milhões na cotação atual). Para efeito de comparação, a receita operacional líquida da Cielo (CIEL3) no mesmo período foi de R$ 10,7 bilhões.

Segundo Migliacci, da Adyen, um dos fatores que levaram ao crescimento das receitas na América Latina e no Brasil foi a expansão para o meio físico, um mercado concorrido em que a empresa compete com a própria Cielo, além de Rede, GetNet, Stone (STNE), PagSeguro (PAGS), MercadoPago, entre outras.

“Isso foi um drive muito forte para a região na América Latina nesse último ano. Com a nossa entrada no mundo físico a gente consegue agregar mais volume também”, afirmou.

Leia mais

Aposta em crédito vai além de ciclos adversos de curto prazo, diz CEO da Totvs

34% das startups da América Latina consideram fazer demissões em massa

Bank of America se une a outros gigantes de Wall Street e planeja demissões