Bloomberg Línea — Guilherme Benchimol, fundador e principal acionista da XP (XP), maior corretora do Brasil, enviou nesta semana um comunicado por e-mail aos agentes autônomos “plugados” cobrando desempenho. E já recebeu mensagem de volta do sócio de um escritório que rebateu as críticas.
“Percebo que alguns grandes líderes se transformaram em burocratas, que times comerciais se transformaram em analistas políticos, que o ‘caldeirão comercial’ de antes da pandemia agora são cemitérios sombrios. Por vezes, também vejo assessores conformados e deixando ‘abandonados’ seus clientes que tanto confiaram em nós”, disse Benchimol no e-mail, ao qual a Bloomberg Línea teve acesso. O assunto da mensagem é Back to the Basics.
A XP tem mais de 13 mil agentes autônomos. A Bloomberg Línea apurou que Benchimol às vezes manda e-mails para esses assessores de investimento, com atualizações e informativos, mas que neste comunicado em especial o objetivo central seria incentivá-los.
“Sem dúvida, a crise, os juros altos, a guerra, a inflação (não faltam problemas para elencarmos), são temas que dificultam o humor do investidor, mas quando foi fácil? Olhem todas as dificuldades que passamos ao longo desses 22 anos. Reclamar (vocês vão concordar) nunca foi o melhor caminho para superar nenhum desafio”, disse Benchimol no e-mail, ao mesmo tempo que criticou assessores “que têm um conformismo muito grande”.
“Será que perderam a vontade de continuar vencendo e avançando? Será que estamos dando tudo que podemos? Atualmente, a média de abertura de conta com investimento superior a R$ 300 mil é de, incríveis, 0,3 por assessor/mês. Confesso que acreditar que um assessor abre apenas quatro contas por ano é algo inaceitável”, disse o fundador da XP.
O sócio de um dos escritórios associados à XP rebateu o recado dado por Benchimol, segundo mensagem vista pela Bloomberg Línea. Esse empresário e investidor, cuja identidade será preservada por se tratar de assunto privado, escreveu e-mail para o fundador da XP que começa com “Venho com tristeza dizer que talvez o problema não seja só esse”.
O sócio do escritório disse que cumpriu o acordado em termos de captação de clientes, ROA (retorno sobre ativos) e qualidade do atendimento (por meio de NPS), mas que “infelizmente a contrapartida não veio”.
“A XP como instituição não tem o mínimo cuidado com nossos clientes e nem com a gente, os relatórios de performance estão grosseiramente equivocados [...] Vivemos de relacionamento e credibilidade e depois de anos atendendo os mesmos clientes, hoje pela primeira vez estamos perdendo credibilidade e contas de valor expressivo, dados os constantes erros operacionais.”
“Antes de fazer uma análise superficial da operação, deveríamos olhar para dentro de casa e refletir sobre atendimento a cliente interno”, disse o sócio do escritório.
A Bloomberg Línea entrou em contato com o escritório em questão e com a XP, mas não obteve resposta a um pedido de comentários sobre a troca de mensagens.
Cortes no headcount
As críticas de Guilherme Benchimol acontecem em um momento de forte desaceleração do crescimento pela XP, para o menor ritmo em anos.
A captação líquida de investidores de varejo caiu 11% de outubro a dezembro na comparação com os três meses imediatamente anteriores, para R$ 29 bilhões - ou R$ 9,6 bilhões por mês -, segundo os números da prévia operacional divulgados em janeiro.
No total, a captação da XP recuou também 11%, para R$ 31 bilhões, versus R$ 35 bilhões no terceiro trimestre e R$ 41 bilhões um ano antes. Os números ficaram aquém dos estimados por analistas do mercado.
Os resultados financeiros para o quarto trimestre de 2022 também ficaram abaixo das estimativas de analistas, segundo divulgado nesta noite de quinta-feira (16). A empresa teve lucro líquido ajustado de R$ 893 milhões, enquanto o consenso ouvido pela Bloomberg esperava R$ 1,03 bilhão.
A corretora teve uma receita de R$ 3,34 bilhões no período, enquanto os analistas estimavam R$ 3,62 bilhões.
Nesta noite, analistas esperam que a XP detalhe na teleconferência com analistas e investidores como fará cortes de custos e demissões.
A XP tem promovido cortes de analistas até executivos em postos de liderança nos últimos meses, em áreas como marketing, research e tecnologia. E, nesta quinta-feira (16), Bernardo Amaral, um dos sócios com mais tempo de casa, deixou o cargo de COO (executivo-chefe de operações), segundo o jornal O Globo.
Segundo estimativa do BTG Pactual (BPAC11), o corte total no headcount pode chegar a 18%.
“A XP investiu muito em novas verticais, contas digitais, cartões, conta internacional, plataforma de ativos digitais, negócios de seguros. Fizemos todos esses investimentos e agora é hora de consolidar os investimentos que fizemos”, disse o CFO Bruno Constantino, durante conferência com os investidores em novembro por ocasião dos resultados do terceiro trimestre.
“Mais do que dobramos nossa base de funcionários durante a pandemia e agora acreditamos que é o momento certo para consolidar tudo o que investimos e buscar mais eficiência em nossa empresa”, disse Constantino, à época.
- Matéria atualizada às 20h07 com as informações sobre os pedidos de comentários da XP e do escritório.
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