Stuhlberger, Xavier e Jakurski: meta de inflação é ‘inalcançável’ neste ano

Três dos gestores mais bem-sucedidos do país defendem mudança da meta neste ano em evento do BTG Pactual, mas apontam necessidade de arcabouço fiscal

Luis Stuhlberger (Verde Asset) à direita no palco, entrevistado por André Esteves (BTG), com Rogério Xavier (SPX) na tela da esquerda e André Jakurski (JGP) na da direita
15 de Fevereiro, 2023 | 12:51 PM

Bloomberg Línea — O debate sobre uma mudança na meta de inflação é válido, dado que a meta atual definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e a ser seguida pelo Banco Central está errada e é irrealista. É o que defendem André Jakurski (JGP), Luis Stuhlberger (Verde Asset) e Rogério Xavier (SPX).

Em painel durante o evento CEO Conference, do BTG Pactual (BPAC11), três dos gestores mais bem-sucedidos e respeitados da indústria brasileira de fundos afirmaram que é necessário um questionamento sobre o patamar definido para a inflação e que a meta para este ano é “inalcancável”.

PUBLICIDADE

O mais enfático foi Xavier, sócio fundador da SPX, que reiterou sua posição da carta mais recente aos cotistas, em que afirmando que a meta de inflação está errada e que deveria ser reavaliada no encontro do CMN (Conselho Monetário Nacional) desta quinta-feira (16).

Essa possibilidade, no entanto, foi descartada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ontem.

“Por que os economistas são tão reticentes em ‘stopar’ um erro?”, questionou. “Definimos essa meta de inflação há três anos e ela não irá se materializar. Por que estamos perseguindo um objetivo inalcançável?”.

PUBLICIDADE

O experiente gestor chamou a atenção para as pressões inflacionárias dos últimos anos, como as causadas pela pandemia de covid-19, as restrições nas cadeias de suprimentos, a guerra na Ucrânia e os investimentos em transição energética.

Segundo ele, o centro da meta de inflação de 2023, de 3,25%, está errada e, diferentemente do que diz o mercado, as expectativas já estão desancoradas, disse. Além disso, completou, o custo de entregar uma meta nesse patamar é muito elevado.

“O problema no debate sobre meta de inflação é não ter confiança na execução fiscal proposta pelo [ministro Fernando] Haddad. Tem que separar as discussões – a da meta de inflação, por exemplo, é que ela está errada. Nao faz sentido nenhum perseguir uma meta de 3% e trabalhar com juro real de 8%”, afirmou.

PUBLICIDADE

Jakurski, da JGP, concordou. “A meta está errada e não tem como persegui-la”, disse. O gestor avaliou que o temor do mercado com relação à discussão recai sobre uma opção de válvula de escape, sem meta para o crescimento das despesas.

Luis Stuhlberger (Verde Asset)

Mas defendeu que é preciso primeiro definir uma nova meta de inflação, para ver como vai funcionar, e depois resolver a PEC da reforma tributária, que pode ficar para o segundo semestre ou para 2024, disse.

Já Stuhlberger, da Verde Asset, destacou que “buscar uma meta irrealista não é algo bom para o Brasil no momento atual”, mas que “é preciso um arcabouço fiscal crível para isso”.

PUBLICIDADE

Os questionamentos sobre a meta de inflação e o patamar atual dos juros têm sido frequentes pela equipe do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), contribuindo para grande volatilidade dos ativos nos últimos dias.

Em entrevista à TV Cultura na segunda-feira (13), o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse estar aberto a dialogar com representantes do governo sobre as taxas de juros, mas expressou a avaliação de que o aumento das metas de inflação neste momento teria o efeito contrário ao desejado, ao levar possivelmente a expectativas mais altas de preços.

“Se nós fizermos uma mudança no sentido de ganhar flexibilidade [no combate à inflação], o efeito prático vai ser o contrário, vamos perder flexibilidade”, disse no programa Roda Viva.

EUA também lutam contra inflação

A forte alta dos preços também está sendo sentida ao redor do mundo, em especial nos Estados Unidos, que enfrentam a maior inflação em 40 anos com aumentos de juros. As taxas estão no intervalo entre 4,50% e 4,75%, o mais alto desde 2007, e o ritmo de aperto foi o mais intenso também em 40 anos.

Para Xavier, da SPX, o Federal Reserve tem pouco a fazer e não irá lutar contra uma inflação de 3%, acomodando um índice de preços mais elevado. “O erro do mercado não é na inflação, mas nos juros. O que o mercado está errando é na precificação dos cortes, que não vamos ter como o esperado”, disse.

Stuhlberger, da Verde, disse espera uma inflação mais alta nos EUA, de 3% a 3,5% na taxa anualizada, com base principalmente nas pressões do mercado de trabalho e de serviços, bem como nos aumentos de gastos com defesa. “Todos os fatores nos levam a crer que a precificação do mercado hoje para a inflação e juros nos EUA está equivocada.”

Leia também

Lemann troca o CEO na holding do Burger King em busca de acelerar o crescimento

CEO do Goldman diz que empresários estão menos pessimistas com economia

Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.