Inadimplência sobe, mas Nubank quer acelerar o crédito e ação dispara. Entenda

‘Não estamos oferecendo crédito no mar aberto como os bancos têm feito’, disse o CEO David Vélez; papeis sobem 6% nesta quarta na Bolsa de Nova York

Crédito com garantia e consignados serão motores de crescimento para a carteira de empréstimos em 2023 e em 2024
15 de Fevereiro, 2023 | 01:12 PM

Bloomberg Línea — O Nubank (NU) teve aumento nos índices de inadimplência com mais de 90 dias de atraso no quarto trimestre de 2022, de 4,7% no trimestre anterior para 5,2%, mas, ainda assim, o indicador veio melhor do que o esperado por analistas. O banco digital, que reduziu o ritmo de concessão de empréstimos pessoais em 2022, pretende acelerar a originação de empréstimos pessoais neste ano.

Executivos do Nubank disseram que o crédito com garantia e o consignado, ambos com menor risco, serão motores de crescimento para a carteira de empréstimos em 2023 e em 2024.

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“Vamos monitorar de perto isso caso o ambiente mude”, disse o CEO do Nubank, David Vélez, em conferência com acionistas na noite de terça-feira (14).

As ações do Nubank subiram cerca de 10% nas negociações antes do pregão desta quarta-feira (15) depois que a fintech divulgou receita e lucro líquido que superaram as expectativas dos analistas para o quarto trimestre, além de uma rentabilidade (medida pelo ROE) que ficou em 35%.

Na sessão da Bolsa de Nova York, as ações subiam cerca de 6% perto das 13h.

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Vélez disse que o Nubank continuou ganhando participação de mercado mesmo com um ambiente bastante adverso.

“Estamos crescendo nossa carteira de crédito com os nossos próprios correntistas. Oferecemos crédito para usuários que recebem salário, fazem pagamentos e usam nossa conta, isso gera fidelidade e melhor underwriting”, disse Vélez, ao responder a investidores sobre os índices de inadimplência.

“Não estamos oferecendo crédito ‘no mar aberto’ como os bancos têm feito. Temos uma estratégia diferente em que nós usamos nossa base de clientes.”

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Segundo o executivo que é cofundador e principal acionista, o Nubank tem procurado consumidores que pagam suas contas corretamente para oferecer o produto de cartão de crédito, o que faz com que a base de usuários seja menos alavancada, mais saudável do que muitos clientes de bancos incumbentes. Além disso, apontou que o Nubank possui mais dados para a análise de crédito.

O banco digital espera que a inadimplência caia depois do primeiro trimestre de 2023 conforme o ano avance. Os gastos com provisões neste ano deverão ser direcionados pelo crescimento do portfólio de crédito, apontou.

A carteira de financiamento ao consumidor do Nubank, composta por cartões de crédito e empréstimos pessoais, atingiu US$ 11 bilhões, um crescimento de 62% se comparado ao final de 2021.

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“Nossa história de crédito tem dois contos. Por um lado, os cartões de crédito continuam a crescer fortemente, em 69% ano a ano. Por outro lado, temos sido mais cautelosos com a originação da carteira de crédito pessoal, alinhados com o maior risco deste produto. Originações em empréstimos pessoais aumentaram ligeiramente e a carteira geral cresceu sequencialmente durante o quarto trimestre para US$ 2 bilhões”, disse Guilherme Lago, CFO do Nubank, durante conferência com investidores.

“O ritmo de crescimento [de empréstimos pessoais] tem sido inferior ao de cartões de crédito, em 33% ano a ano, mas, com o desempenho contínuo da carteira, esperamos que isso acelere nos próximos trimestres.”

Embora não divulgue guidance (projeções) para o próximo trimestre ou para o ano, o Nubank disse que avalia que os custos de funding devem se manter estáveis neste ano.

Segundo Vélez, o Nubank já se tornou o maior emissor de cartões de crédito na Colômbia e no México, enquanto esses países crescem naturalmente mais rapidamente do que no Brasil, uma vez que são operações mais recentes em que a base ainda é menor.

O Nubank espera que Colômbia e México atinjam níveis de rentabilidade que o Brasil tem de forma mais rápida, embora reconheça que será necessária maior alocação de capital nesses países nos próximos anos.

ROE maior

O CFO do Nubank lembrou que, a partir de 1º de abril, entrará em vigor a regra do Banco Central que altera o teto da taxa de intercâmbio dos cartões pré-pago, o que poderá pesar nas margens da empresa.

Contudo o Nubank espera que 2023 seja “outro ano de níveis saudáveis de retornos de equity” (medido pelo ROE, o retorno em relação ao capital investido).

“Temos um ROE muito maior do que os bancos tradicionais. Não temos filiais e não precisamos de um escritório muito caro com muitos funcionários. Essa sempre foi a hipótese e agora finalmente conseguimos provar isso”, disse Vélez.

O Nubank espera ainda que sua carteira de crédito supere o crescimento de contas depósito e que o custo menor de funding continue aumentando as margens da empresa.

Em relatório, Matheus Guimarães, analista da XP, disse que vê os resultados do Nubank como positivos - com a atividade dos clientes impulsionando os resultados -, apesar da inadimplência mais alta.

“Os indicadores operacionais do Nubank mantiveram a tendência positiva aumentando sua alavancagem operacional”, escreveu.

Seguindo Guimarães, o Nubank conseguiu manter custos e despesas sob controle, o que levou seu lucro líquido recorrente a US$ 58 milhões, US$ 17 milhões acima da projeção dos analistas da XP.

“Embora mantenhamos nossa visão conservadora sobre o caso, não descartamos o resultado potencializando ainda mais o atual momento positivo da ação.”

Grandes gestoras aumentaram posição no Nubank recentemente. A T Rowe Price, investidora do Rappi na América Latina, aumentou sua participação no Nubank em dezembro de 2022 ao comprar 35.156.061 papeis no banco digital, totalizando 1,85% das ações em circulação. O Capital Group, que tem 2,86% dos papeis em circulação, comprou 8.463.039 ações no fim do ano passado.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups