Bloomberg Línea — Startups bancadas por venture capital no Brasil estão emitindo convertibles (notas conversíveis, um meio de se capitalizar por meio de dívida) e adiando rodadas para tentar preservar valuations de captações anteriores e evitar down rounds (rodadas a valuation abaixo do investimento anterior), disse Eric Acher, sócio-fundador da Monashees, gestora de venture capital pioneira no Brasil.
Acher, que participou de evento do BTG Pactual nesta terça-feira (14), disse que o desafio de ajustes nos valuations continua concentrado para empresas de Série B em diante, que estão “segurando suas rodadas com que captaram em 2020 e 2021 e que possuíam valuations de duas a três rodadas para frente”.
Mas, enquanto há startups que promovem ajustes com cortes de custos, outras terão inevitavelmente que fazer down rounds, o que já foi visto em uma ou outra empresa, segundo Acher.
Trata-se de uma estratégia para entrar nos eixos, mas que comprime a participação de acionistas. “Acho que, principalmente no final deste ano, teremos essa correção”, disse Acher, que apontou que para startups em early stage esse ajuste “já foi feito de forma mais rápida”.
“Os Limited Partners [LPs, como fundos de pensão, family offices, endowments que investem em venture capital] mais experientes entendem que a correlação entre venture capital e PIB é zero. Essa correção de mercado é natural depois de taxas de juros muito baixas que criaram um certo exagero, mas agora diminui muito a pressão competitiva e é um ótimo momento. Grandes empresas serão construídas nessa safra.”
Para os empreendedores, contudo, Acher disse esperar de um a dois anos de maior dificuldade com investimentos mais seletivos e com investidores de growth capital [capital de crescimento para startups mais maduras] em “modo de espera” para ver como serão os ajustes de valuation, o que acaba empurrando a liquidez mais para frente.
“O que não é diferente de outros ciclos que vimos no passado”, avaliou Acher.
A Monashees, que começou a investir no Brasil em 2005, quando a taxa de juros era de 19,75% ao ano, acompanhou a indústria de capital de risco se estabelecer no país nos últimos anos.
“Nos primeiros anos tínhamos que evangelizar as pessoas nas universidades, ninguém queria ser empreendedor. Hoje vemos uma mudança para empreendedorismo como uma alternativa de carreira viável para as novas gerações. E os grandes heróis que fizeram isso acontecer foram os empreendedores de 2010, quando não existia growth capital no Brasil. Essa primeira geração viabilizou o que estamos vivendo hoje”, disse o investidor.
Acher disse acreditar que os próximos dez anos serão “muito melhores do que os últimos dez″, por causa de empreendedores já experientes e de tecnologias “disruptivas para o próximo ciclo”, como Inteligência Artificial, que criarão novas oportunidades de negócio.
Seleção natural
Para Pedro Melzer, sócio fundador da Igah Ventures, o momento de euforia em venture capital atraiu não só investidores “turistas” como também empreendedores oportunistas.
“Elementos artificiais atraem muitos stakeholders, que não são os que vão construir essa classe de ativos no longo prazo. Esse ajuste passa por uma depuração no mercado em que investidores que não têm muita convicção voltam para outras classe de ativos, enquanto empreendedores potenciais pensam muito antes de ir para o mercado” disse o investidor.
A Igah Ventures, que foi comprada pelo Pátria Investimentos no fim de 2022, passará a focar em ativos na América Latina para além do Brasil em seu quarto fundo.
Melzer disse que a empresa, que deve anunciar novos investimentos nos próximos dias, entrará em startups não só com os valuations mais baratos e adequados mas também que contem com empreendedores que entendem o custo de oportunidade e têm convicção no negócio.
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