De Rodoanel a aeroporto de Natal, CCR avalia leilões previstos para 2023

Com endividamento sob controle, o grupo de infraestrutura analisa oportunidades de negócios no novo governo, embora com maior ‘seletividade’ no risco-retorno

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Bloomberg Línea — Depois de um ciclo de dois anos com diversas aquisições, o grupo de infraestrutura CCR (CCRO3) está entrando em uma nova fase, em que olha mais “para dentro”, nas palavras da superintendente de Relações com Investidores (RI), Flávia Godoy. Isso não significa, porém, que a companhia esteja alheia aos leilões programados para este ano.

“A companhia está muito voltada para seu portfólio, mas isso não quer dizer que não vamos olhar para novas oportunidades”, disse a executiva em entrevista à Bloomberg Línea. “Estamos em um momento de seletividade, com critérios refinados para fazer nossa alocação de capital”, acrescentou.

Segundo Godoy, o grupo avalia projetos com relação risco-retorno que façam sentido para a CCR e que possam trazer um crescimento sustentável ao longo dos anos. “Por mais que a companhia esteja com alavancagem controlada, há uma limitação. Não estou dizendo que vamos entrar em tudo.”

A executiva cita como exemplo de projeto sob avaliação o Rodoanel Norte de São Paulo, cujo leilão está previsto para março, com um investimento estimado da ordem de R$ 3 bilhões.

Outro ativo que está no cronograma do setor de infraestrutura é o Aeroporto de São Gonçalo do Amarante, em Natal (RN), que deve ser relicitado em maio, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC).

“Estamos avaliando [os projetos], refinando os números, fazendo a conta de relação risco-retorno para eventualmente priorizar uma oportunidade ou outra. Há muitos investimentos para a companhia executar em 2023 e o pipeline [cronograma de projetos] é extenso nos próximos 2 ou 3 anos, então oportunidade não vai faltar”, disse a executiva.

Mesmo com a mudança no governo federal, a executiva disse esperar que haja continuidade da agenda de projetos de infraestrutura. “Pode haver uma ou outra discussão setorial, eventualmente alguma mudança de critério de licitação ou desmembramento de um projeto ou outro, mas a mensagem que temos é a de continuidade do programa [de concessões]”, afirmou.

Alavancagem diminuiu

Para que o grupo consiga ser competitivo em eventuais disputas de ativos, Flávia Godoy disse que a alavancagem (relação dívida líquida sobre o Ebitda) precisa estar em um patamar “confortável”.

“Encerramos 2022 com uma alavancagem bastante controlada. Tivemos um ligeiro aumento do endividamento, o que é natural diante dos investimentos que fizemos, mas no geral está muito confortável”, disse.

No quarto trimestre de 2022, a CCR reportou uma relação dívida líquida sobre o Ebitda ajustado de 1,7 vez, ante 3 vezes no mesmo período de 2021.

Balanço: efeitos não recorrentes

A CCR registrou no quarto trimestre um prejuízo líquido de R$ 217,1 milhões, ante perdas de R$ 133,2 milhões um ano antes. No critério “mesma base”, quando são excluídos efeitos não recorrentes, o grupo teve um lucro líquido de R$ 219,1 milhões, aumento de 36,3% sobre igual intervalo do ano passado.

Flávia Godoy disse que dois efeitos não recorrentes impactaram a última linha do balanço. Um deles resulta do acordo assinado com o poder público na concessão Rodonorte, com o objetivo de equacionar pendências regulatórias. Uma provisão foi feita no exercício do quarto trimestre, com efeito caixa para os próximos dois a três anos, explicou a executiva, com obras que a CCR ainda vai executar.

Outro efeito não recorrente, detalhou, é uma situação “atípica” no portfólio. ”A concessão ViaOeste, que se encerra em fevereiro de 2024 e que estendemos via assinatura de aditivo, ainda demanda grande volume de investimento”, esclareceu.

A CCR está tratando o caso como um investimento sem benefício econômico futuro, porque o prazo da concessão termina em 2024. “Não estamos ativando esse valor como intangível [no balanço], é a primeira vez que a companhia se depara com isso. É algo bem pontual.”

No quarto trimestre, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado na mesma base aumentou 17,6% na comparação anual, para R$ 1,6 bilhão. A receita líquida na mesma base atingiu R$ 2,6 bilhões, alta de 10,8% sobre um ano antes. “Foi um ano em que conseguimos de fato viabilizar a consolidação dos projetos”, avaliou a executiva.

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