Bloomberg Opinion — Como substituir uma das poucas líderes femininas do mercado financeiro da França? Colocando dois homens no cargo.
Isso não é uma piada. A família Decaux tirou Virginie Morgon do controle da liderança da empresa de private equity Eurazeo – onde ela foi apelidada de “mulher-maravilha” das finanças após uma ascensão de uma década ao topo – e a substituiu por um novo conselho executivo presidido por Christophe Baviere e William Kadouch-Chassaing.
A dupla vai revezar nos cargos de presidente e CEO; não é exatamente a melhor prática de governança, mesmo que as funções funcionem melhor separadas. Isso nos faz lembrar a partilha do poder entre irmãos no negócio publicitário da família bilionária JC Decaux.
É uma história que diz muito sobre o desprezo por Morgon, mas também sobre a falta de jeito de quem a despreza.
A abrupta expulsão de Morgon está fundamentalmente relacionada à manipulação do capitalismo familiar. Embora a criação do império de Morgon desde que ela entrou para a Eurazeo em 2008 e seu estilo de liderança tenham rendido muitas críticas na Paris dominada por homens – as reclamações ocorriam até em seu domicílio em Nova York e em sua comitiva, que também está se mudando – ela teve anuência dos apoiadores fundadores da empresa que dirigiram o banco de investimentos Lazard, onde Morgon começou.
A morte de Michel David-Weill, ícone da dinastia do Lazard, no ano passado desencadeou uma briga na diretoria, vencida pela família Decaux, mesmo com apenas 18% de participação acionária e 25% dos direitos de voto.
Os acionistas têm bons motivos para se sentirem frustrados com a posse de Morgon. As ações da Eurazeo completaram um ciclo desde sua ascensão a CEO em 2018: a aposta da empresa na fabricante de coletes Moncler em 2011 foi estelar; mas seu investimento na empresa de aluguel de automóveis Europcar, nem tanto. Seu primeiro mergulho na tecnologia, com a bênção do presidente francês Emmanuel Macron, a expôs aos aumentos das taxas de juros que atualmente afetam o badalado setor.
A remuneração total de Morgon em 2021 de cerca de 4 milhões de euros (US$ 4,3 milhões) pode estar em linha com a área de private equity, mas os acionistas minoritários – que antes reclamavam de benefícios e recompensas de gerentes, como a taxa de desempenho – estão incomodados com o fato de que os custos foram maiores que a receita.
Mas pouca coisa na nova estrutura inspira confiança – o clima é de governança opaca e indecisão. Os dois novos líderes são claramente experientes, mas não parecem ser bons como uma dupla rotativa, já que um deles veio de private equity e o outro dos serviços bancários de investimentos globais. Embora a família Decaux tenha falado de uma “nova dinâmica” após Morgon, ela parece querer frear a estratégia existente de expansão na gestão de ativos para terceiros. A conversa corporativa sobre um estilo de gestão mais “colegial” não explica como ideias favoráveis aos acionistas, como controle de custos ou transparência, podem surgir.
Em vez de anunciar um novo tipo de vantagem de investimento ou uma estrutura eficiente, a intervenção dos Decaux parece cada vez mais uma família que espera pela entrega de um troféu. Todo o setor de private equity está se preparando para uma tempestade à medida que a desaceleração econômica chega a um mercado de compra competitivo. A concorrente Wendel nomeou recentemente um novo chefe, assim como o Carlyle Group. Mas na Eurazeo, o conglomerado de descontos que acompanha veículos de investimento da família continua amplo.
O analista da Alphavalue Saima Hussain diz que as questões de governança permanecem, assim como a probabilidade de uma nova queda no valor patrimonial líquido de sua carteira, devido ao ambiente econômico. Ela estima que o valor patrimonial líquido (NAV) da Eurazeo por ação em 91,7 euros, 20% a menos que os níveis atuais.
Enquanto isso, Paris perdeu uma de suas poucas mulheres líderes e uma porta-voz da diversidade em uma indústria que luta para provar que pode fazer melhor. Em 2020, mais de 250 empresas de private equity na França firmaram o compromisso de que as mulheres representariam 40% de suas equipes de investimento dentro de uma década; uma nova lei também exige que as empresas com mais de 1.000 funcionários nomeiem mulheres para 30% dos cargos de liderança sênior até 2027.
Ambas parecem ainda mais vazias após a saída de Morgon, e a Eurazeo fica ainda mais dominada por homens entre grandes empresas francesas listadas, mesmo que a nova diretoria executiva inclua uma mulher. Por mais imperfeito que tenha sido o tempo de Morgon na liderança, sua saída indica que o setor de private equity continua sendo para homens e bilionários.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Lionel Laurent é colunista da Bloomberg Opinion e escreve sobre a França e a União Europeia. Já trabalhou para a Reuters e a Forbes.
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