Bloomberg — Os maiores bancos de capital aberto do Brasil reservaram R$ 9,3 bilhões para perdas potenciais ligadas ao colapso da Americanas (AMER3), que está se somando a um ambiente de crédito cada vez mais complicado no país.
Enquanto os bancos não nomearam especificamente a varejista como a empresa responsável por maiores provisões em suas demonstrações de resultados, o impacto do declínio repentino da empresa após a descoberta de R$ 20 bilhões em “inconsistências” contábeis no mês passado é claro nos resultados do quarto trimestre.
O Bradesco (BBDC4) foi o mais atingido entre os bancos locais, registrando uma despesa extraordinária para perdas com empréstimos de R$ 4,9 bilhões vinculada a “um cliente Large Corporate específico”, e cobrindo 100% de sua exposição. O Itaú Unibanco (ITUB4) informou uma provisão antes de impostos de R$ 1,3 bilhão para o evento, que também não nominando a Americanas, e utilizou provisões complementares que já haviam sido registradas em seu balanço para cobrir o restante de sua exposição.
O BTG Pactual (BPAC11) provisionou R$ 1,2 bilhão, ou cerca de 63% do crédito exposto. Caso o cenário piore, o BTG consegue fazer provisões adicionais, o diretor financeiro Renato Cohn disse na segunda-feira (13).
No Banco Santander (SANB11) as despesas com provisões dispararam em 257 milhões de euros (US$ 276 milhões) “em grande parte” devido a um único cliente, que não foi identificado. Analistas do Citi ao JPMorgan estimam que a unidade brasileira do banco provisionou R$ 1,1 bilhão para perdas atreladas à varejista, cerca de 30% de sua exposição.
O Banco do Brasil (BBAS3) foi o último a divulgar provisões na noite de segunda-feira (13), com R$ 788 milhões - ou cerca de metade de sua exposição total - destinadas a perdas relacionadas a “empresa do segmento large corporate que entrou com pedido de recuperação judicial em janeiro.”
A Americanas divulgou lista atualizada de mais de 9.000 credores na sexta-feira, com passivo total de R$ 42,5 bilhões. A empresa entrou com pedido de recuperação judicial no mês passado, uma semana depois de revelar o escândalo contábil que inflou artificialmente seus lucros e reduziu os passivos declarados. Bancos como o BTG acusaram a varejista de fraude, e o conselho da Americanas nomeou um comitê independente para investigar se houve alguma irregularidade.
Monitoramento do Banco Central
O Banco Central procurou os bancos e está monitorando os efeitos de problemas ligados às operações de financiamento e suprimento da Americanas, disse o presidente Roberto Campos Neto durante entrevista na TV na segunda-feira (13).
Até agora, os CEOs de bancos sinalizaram que o impacto sobre seu guidance e disposição de fornecer empréstimos ao longo do ano deve ser limitados, de acordo com Campos Neto.
“Neste curto prazo, você tem sim um soluço advindo do tema”, disse. “Mas a gente não entende que é uma coisa estrutural grande”.
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