Renegociação de dívidas de empresas preocupa pouco, diz CEO do BTG

Roberto Sallouti diz que caso Americanas deve ser encarado como fraude, e não consequência das taxas de juros elevadas, que pressionam despesas das empresas

Sede do BTG Pactual na Faria Lima, em São Paulo (Divulgação)
13 de Fevereiro, 2023 | 05:41 PM

Bloomberg Línea — A onda de abertura de processos de renegociação de dívidas por companhias brasileiras, como Oi (OIBR4), Marisa (AMAR3) e Azul (AZUL4), reflete um cenário macroeconômico de juros elevados, que aumenta não só as despesas financeiras como o risco de inadimplência. A avaliação foi feita, nesta segunda-feira (13), pelo CEO do BTG Pactual (BPAC11), Roberto Sallouti, em entrevista sobre o balanço do quarto trimestre.

Não é uma grande preocupação, mas uma pequena preocupação macroeconômica”, disse o executivo à Bloomberg Línea sobre o impacto no mercado de crédito privado diante dos riscos de novos anúncios de recuperação judicial depois do caso da Americanas (AMER3).

O CEO do BTG Pactual fez a ressalva, no entanto, de que o caso do grupo varejista, que revelou um rombo contábil da ordem de R$ 20 bilhões no mês passado em seus balanços dos últimos anos, tem que analisado como uma fraude, e não como uma consequência do aperto monetário.

A Americanas fraudou seus credores e investidores há sete anos. Não temos dúvida de que temos razão e que vamos recuperar esse crédito. Por isso, provisionamos 63% do valor devido [R$ 1,9 bilhão], percentual que consideramos adequado, mas poderemos fazer provisões adicionais se o cenário piorar”, afirmou Sallouti.

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Na última sexta-feira (10), o BTG Pactual conseguiu uma vitória contra a Americanas na Justiça, que reconheceu o direito do banco de manter R$ 1,2 bilhão que a Americanas pleiteava.

O CEO explicou que o banco não realizou uma provisão integral, a exemplo de Itaú Unibanco (ITUB4) e Bradesco (BBDC4) em seus resultados trimestrais divulgados na semana passada, por acreditar que a varejista não vai desaparecer e que tem grandes chances de recuperar o crédito.

O executivo não quis comentar o caso da Oi, acionista minoritária da V.tal, empresa de fibra óptica e infraestrutura digital criada a partir da compra dos ativos da companhia de telefonia e controlada por fundos do BTG Pactual.

Analistas apontam para o risco de a Oi ter que vender sua participação na V.tal ou oferecê-la como garantia na nova reestruturação de dívida. No início do mês, a Oi entrou com pedido de recuperação judicial em uma corte de Nova York, pouco mais de um mês depois de sair do processo original.

“O cenário de juros dificulta o dia-a-dia das empresas. Isso não é só no Brasil mas no mundo inteiro. O custo da dívida fica mais alto”, afirmou o CEO, fazendo referência à alta das taxas para combater a inflação em países ricos, como Alemanha e Inglaterra.

Sallouti aproveitou o tema para destacar a importância de o Brasil reduzir os ruídos sobre questões como metas de inflação e política fiscal, a fim de tranquilizar os investidores, principalmente os estrangeiros, que se mostram, segundo ele, dispostos a apostar em ativos do país.

“Vemos investidores estrangeiros com interesse de investir no Brasil, mas os ruídos entre alguns integrantes do novo governo no último mês e meio assustou um pouco essas pessoas”, disse.

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O executivo se disse ainda otimista com uma possível retomada das ofertas iniciais de ações (os IPOs), após o jejum de 2022. No ano passado, a B3 não ganhou nenhuma nova companhia listada devido à cautela de empresários e investidores no ano eleitoral no país e incertezas no mundo.

“Há fatores que aumentam as chances de ver o retorno dos IPOs neste ano: temos muitas empresas já preparadas para acessar o mercado de capitais”, disse Sallouti.

As units do BTG subiam 2,3% perto do fechamento desta segunda-feira (13), cotadas a R$ 21,23.

A visão de analistas

O resultado divulgado pelo BTG Pactual - lucro líquido recorrente de R$ 1,76 bilhão no quarto trimestre, com ROAE (retorno sobre o patrimônio) de 16,7% - foi bem avaliado por analistas.

“Seguindo a tendência dos principais bancos, o grande impacto negativo do trimestre foi decorrente de despesas com provisões não recorrentes por conta do que imaginamos se tratar de Americanas, que no BTG totaliza R$ 1,2 bilhão (R$ 1,123 bi em provisões para crédito e R$ 77 milhões em instrumentos no segmento de sales and trading), que, após contabilização de benefícios tributários, penalizaram o lucro líquido em R$ 580 milhões”, apontaram analistas do BB Investimentos.

Para o analista Rafael Reis, o BTG reportou uma expansão importante em empréstimos corporativos, que, se desconsiderada a provisão de R$ 1,1 bilhão, teria tido um resultado de R$ 1,23 bilhão, um recorde trimestral no segmento, reflexo de uma carteira que totaliza R$ 144 bilhões e se expande 35% no ano – mais que o dobro do mercado de crédito (14%).

“Sem considerar as provisões extraordinárias, vimos majoritariamente um trimestre de evolução, dando continuidade ao bom momento do BTG. Com exceção da área de banco de investimentos, cuja receita recuou 7,6% na comparação trimestral devido a um trimestre mais fraco nos segmentos de fusões e aquisições e ações, vimos bom avanço em praticamente todas as linhas, com destaque para gestão de patrimônio e ativos”, escreveu o analista.

Devido às condições mais árduas do mercado, com maior custo de capital próprio, o BB Investimentos reduziu o preço-alvo para as units do BTG de R$ 34 para R$ 30,70 para o final de 2023, mas manteve a recomendação de compra apontando um “potencial de valorização de 43,9% frente ao preço atual”.

Já a equipe do Itaú BBA destacou o crescimento de 8% em três meses na divisão de IB (Investment Banking) e de 18% em Sales & Trading, além de 5% em Wealth e Asset Management.

O analista Pedro Leduc manteve a recomendação “neutra” para os papéis do BTG Pactual, projetando um preço-alvo de R$ 29.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.