As demissões não vão resolver os problemas das big techs

Falar sobre eficiência pode até agradar aos investidores, mas as empresas vão precisar fazer mudanças mais profundas na cultura para ter sucesso no longo prazo

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Bloomberg Opinion — As maiores empresas de tecnologia do mundo estão prometendo gastar menos – um novo território para uma indústria que prospera em benefícios. Já no ano passado, a Meta Platforms (META), empresa matriz do Facebook, fechou seu serviço de lavanderia para funcionários, e em janeiro deste ano, o Google, da Alphabet (GOOGL), incluiu mais de 30 massagistas em sua primeira grande rodada de demissões.

As gigantes da tecnologia estão diminuindo os benefícios indiretos e demitindo talentos. Mas ainda há mais a fazer.

Congelar contratações e cortar benefícios é fácil. Agora, com excesso de modelos de negócios antigos e após se transformar em burocracias em expansão, as maiores empresas do Vale do Silício devem se tornar inovadoras novamente.

Isso significa liderar uma mudança na cultura, deixando de proteger os departamentos e implementando ideias e produtos. Esse é um desafio completamente novo para os grandes líderes de tecnologia, em sua maioria tecnocratas. Satya Nadella, da Microsoft (MSFT), Mark Zuckerberg, da Meta, e Sundar Pichai, da Alphabet, supervisionaram anos de crescimento contínuo, em grande parte só mantendo as coisas funcionando.

Quando a pandemia chegou, o crescimento constante entrou em franca expansão. Os lucros coletivos na Amazon, Apple (AAPL), Facebook, Google e Microsoft cresceram 55% em 2021 em cima de um básico já impressionante. Suas vendas combinadas de US$1,4 trilhão teriam feito deles a 13ª maior economia do mundo, superando a Austrália.

Com ações e crescimento sob pressão, Zuckerberg está falando em reduzir sua estrutura de liderança e o número de gerentes. Pichai quer “reprogramar a base de custos da empresa de forma durável”. Isso significará mais demissões porque mesmo os cortes mais recentes e dolorosos não reduziram os níveis de pessoal em nenhum a níveis pré-pandemia.

O Facebook contratou cerca de 30 mil novos funcionários durante a pandemia, e a Alphabet entrou em uma onda ainda maior de contratações, aumentando o quadro de funcionários em 68 mil pessoas, batendo 187 mil empregados. Mas a Meta e o Google anunciaram cortes de, respectivamente, 11 mil e 12 mil empregos até o momento. A Microsoft, que contratou 58 mil pessoas nos dois anos após o início da pandemia, disse no mês passado que estava cortando 10 mil empregos. A dolorosa verdade é que, para que estas empresas ganhem a confiança do mercado em suas promessas de eficiência, os cortes terão de continuar em 2023.

Elas também terão que continuar tirando o máximo de proveito de seus principais talentos, que podem estar menos inclinados a permanecer fieis a seus empregadores agora que sabem que os chefes podem demiti-los a qualquer momento.

Uma tarefa igualmente difícil será mudar a cultura de gestão das big techs. Já no ano passado, meses antes do início das demissões, Zuckerberg e Pichai estavam dizendo a seus funcionários que estes precisavam trabalhar mais, com “maior urgência”, nas palavras do CEO da Alphabet, e vir ao escritório com mais frequência.

O Google (principalmente) precisa melhorar a execução dos recursos de produto. Por toda a atenção que a empresa recebe sobre seus animadores projetos mirabolantes, o Google é notoriamente conservador em seu lançamento de novos produtos e serviços, porque não quer mexer muito com seu negócio de busca de US$ 150 bilhões ou sua lucrativa operação de tecnologia de anúncios. Mas o negócio de busca foi ameaçado pelo ChatGPT e por outras ferramentas de IA que geram respostas de conversação a qualquer consulta.

Sob pressão para reagir, o Google disse no dia 6 de fevereiro que logo liberaria um concorrente do ChatGPT chamado Bard para o público. O serviço será alimentado pelo LadMDA, o modelo de linguagem grande (LLM) altamente sofisticado do Google. O Google raramente reagiu de maneira tão rápida para desenvolver um produto, marcando uma nova era arriscada para a empresa enquanto ela tenta simultaneamente cortar gastos.

Fazer mais com menos é muito mais difícil do que parece para as empresas do Vale do Silício, que estão acostumadas a usar dinheiro para resolver problemas. Pelo menos elas sabem que isso precisa mudar. O diretor de tecnologia (CTO) da Meta, Andrew “Boz” Bosworth, disse em um e-mail aos 18 mil funcionários do Reality Labs, divisão de realidade virtual da empresa que fica seus esforços no metaverso, que “nós resolvemos muitos problemas aumentando o número de funcionários”. Agora a Meta precisa aprender a resolver problemas através da inovação e execução.

Zuckerberg usou a palavra “eficiente” ou “eficiência” aproximadamente 40 vezes em sua conferência de apresentação de resultados com analistas na semana passada. Em comparação, ele mencionou “metaverso” apenas sete vezes. Os investidores gostaram tanto dessa direção que as ações da Meta saltaram mais de 20% após a apresentação dos resultados, apesar de os lucros ficarem abaixo das estimativas.

A pergunta que fica é o quanto essas conversas sobre eficiência da Alphabet, Meta e Microsoft – as maiores empresas de internet e software do mundo – levará a verdadeiras melhorias. E se não der certo, os investidores se importarão? O rali da Meta na semana passada pode ser um sinal de que os investidores estão procurando qualquer desculpa para retomar a boa relação com algumas das empresas mais rentáveis da história.

Quem quer agitar a eficiência das empresas que contam com margens líquidas trimestrais regulares de cerca de 30%? Compare isso com duas outras ações populares, as do Walmart (WMT) e da Walt Disney (DIS), que têm margens de 6% e 5%, respectivamente, de acordo com dados da Bloomberg.

Ainda assim, margens altas não foram suficientes para impedir que as ações das big techs fossem derrubadas no ano passado. Wall Street quer ver essas empresas se tornarem mais enxutas e malvadas. Os operadores tecnocráticos e favoráveis aos investidores das big techs certamente terão de cumprir as regras.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Parmy Olson é colunista da Bloomberg Opinion e cobre a área de tecnologia. Já escreveu para o Wall Street Journal e a Forbes e é autora de “We Are Anonymous.”

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