Rali de ações nos EUA pode ser uma armadilha, apontam gestores experientes

Ceticismo é compartilhado por grande parte de Wall Street, que resiste em embarcar no rali que impulsionou o S&P 500 em até 17% desde a mínima de outubro

Para gestores de fundos que se deram bem no ano passado graças ao posicionamento defensivo, a decisão de manter a estratégia é penosa
Por Lu Wang
10 de Fevereiro, 2023 | 05:06 PM

Bloomberg — Apesar de um início de ano devastador para seus portfólios devido ao surpreendente rali do mercado, dois gestores de fundos com desempenho destacado seguem com as apostas pessimistas que os tornaram vencedores no crash das bolsas em 2022.

Jeff Muhlenkamp, cujo Muhlenkamp Fund registrou retorno positivo no ano passado, diz que os juros elevados continuarão a semear caos no mercado, embora seja provável que o Federal Reserve consiga fazer um pouso suave. Além disso, existe o risco de que o forte aperto da política monetária termine em recessão. No pior cenário, o S&P 500 poderia cair 30% em relação ao fechamento de quinta-feira (9). Seu fundo atualmente aloca mais de um terço dos ativos em seu dinheiro.

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James Abate, outro gestor cético, também vê o rali das ações como uma armadilha do “bear market”, ou ciclo baixista. Seu Center American Select Equity Fund, que superou 96% dos pares em 2022 de acordo com dados compilados pela Bloomberg, fez novos hedges por meio de opções de venda nas últimas semanas. Um avanço de quatro meses elevou a relação preço-lucro (PL) do S&P 500 acima da média de 10 anos, em um momento em que a máquina de ganhos do setor corporativo americano começa a emperrar.

“Tenho dificuldade em ver como o mercado pode subir tanto neste ambiente”, disse Abate, de 57 anos.

“Temos um mercado assimétrico onde há ganhos limitados com a expansão do P/L se tudo correr bem, e temos quedas significativas se de fato ocorrer uma recessão.”

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Seu ceticismo é compartilhado por grande parte dos profissionais de Wall Street, que resistem em embarcar em um rali que impulsionou o índice acionário de referência dos EUA em até 17% desde a mínima de outubro. Embora os “ursos” tenham sido obrigados a reverter posições vendidas, há sinais de que poucos estão dispostos a buscar ganhos.

De fato, hedge funds monitorados pela prime brokerage do Goldman Sachs na semana passada reduziram suas posições compradas com a alta das ações. A cautela parece ter sido premonitória diante das perdas do S&P 500 nesta semana e apostas de investidores de Trasuries em aumentos dos juros.

Para gestores de fundos que se deram bem no ano passado graças ao posicionamento defensivo, a decisão de manter a estratégia é penosa, especialmente quando praticamente todas as tendências de 2022 se inverteram.

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O fundo Centre, de Abate, que superou 99% dos rivais nos últimos três anos, perdeu um pouco de seu brilho, em parte porque as ações de energia - suas maiores posições no setor - foram suplantadas por tecnologia como líderes do mercado. Com alta de quase 6% este ano até quarta-feira, o fundo está 1,6 ponto percentual atrás do S&P 500, classificando-se próximo ao quartil inferior entre fundos comparáveis.

As reversões levaram Muhlenkamp, de 56 anos, a fazer um exame de consciência. A escassez de ações baratas e as perspectivas incertas levaram seu fundo a alocar uma grande fatia em dinheiro, tática que o ajudou a obter ganhos durante o mercado baixista de 2022.

Agora, com 35% do portfólio em dinheiro, essa cautela está jogando contra. O fundo, que seu pai Ron Muhlenkamp lançou em 1988 com alta concentração em ações de valor, já está atrás do mercado em cerca de 5 pontos percentuais neste ano.

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“É mais provável que o mercado ainda recue de agora em diante”, disse Muhlenkamp. “Se isso acontecer, vamos buscar alguns preços realmente estúpidos, porque quando as coisas começarem a cair novamente, as pessoas vão reverter muita alavancagem. Isso gera uma venda mecânica que acaba criando preços ridículos.”

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