Bloomberg — O presidente Joe Biden disse que “a democracia prevaleceu” depois de ser severamente testada nos Estados Unidos e no Brasil, durante uma reunião com o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva.
“As democracias fortes de ambas as nações foram testadas ultimamente, muito testadas, e nossas instituições foram colocadas em risco”, disse Biden nesta sexta-feira (10) na Casa Branca.
“Temos que continuar defendendo a democracia, os valores democráticos que formam o núcleo de nossa força”, acrescentou. “Este é um momento importante para nossos países, na minha opinião, e para o mundo, francamente.”
A sessão no Salão Oval, quase seis semanas após a posse de Lula, é uma demonstração de apoio ao recém-eleito governo do Brasil e para demonstrar que as relações entre as duas maiores democracias das Américas estão de volta aos trilhos.
Biden, 80, e Lula, 77, são políticos veteranos que compartilham crenças progressistas comuns e enfrentaram desafios semelhantes de seus antecessores de extrema direita em seus caminhos para o poder.
O presidente democrata dos EUA derrotou o atual republicano Donald Trump em 2020. Os apoiadores de Trump invadiram o Capitólio em 6 de janeiro de 2021 em um esforço para reverter sua derrota. Lula, que já está em seu terceiro mandato como presidente, no ano passado concorreu e venceu como adversário de esquerda contra o então presidente Jair Bolsonaro, um admirador de Trump. No mês passado, manifestantes pró-Bolsonaro invadiram a capital Brasília em uma tentativa fracassada de derrubar Lula.
Lula disse que seu antecessor desprezava as relações internacionais e que seu mundo começava e terminava com “fake news” pela manhã, tarde e noite.
“Parece familiar”, brincou Biden em resposta.
Biden disse que os dois países “ficarão juntos para rejeitar a violência política”.
“Temos que trabalhar juntos para que nunca mais aconteça outra invasão do Capitólio, para que nunca mais aconteçam as invasões dos poderes que ocorreram no Brasil”, disse Lula.
Além de reforçar as instituições democráticas, os dois líderes provavelmente encontrarão um terreno comum sobre mudanças climáticas. Durante sua campanha, Biden se ofereceu para trabalhar com parceiros internacionais para criar um fundo de US$ 20 bilhões para proteger a Amazônia, que estava sujeita a um rápido desmatamento sob o governo de Bolsonaro.
A questão do financiamento não surgiu na parte pública da reunião, mas Lula disse que seu governo está fortemente comprometido com o combate às mudanças climáticas e prometeu acabar com o desmatamento na Amazônia até 2030.
No entanto, o encontro deles também expôs diferenças, já que Lula indicou que não seguirá a ortodoxia dos EUA em assuntos internacionais. O líder brasileiro propôs um plano de paz para a Ucrânia, com a China como potencial mediadora, o que é reprovado por Biden e os aliados de Kiev.
Lula também se opõe aos regimes de sanções dos EUA impostos a Cuba e à Venezuela, que Biden tem mostrado pouca vontade de abandonar sem concessões de Havana e Caracas.
Somando-se às tensões está a presença de seus ex-oponentes na Flórida, enquanto planejam reviravoltas políticas. Bolsonaro está de férias no Sunshine State desde 30 de dezembro, enquanto Trump se estabeleceu em sua propriedade em Mar-a-Lago.
Embora Biden tenha enfrentado pressão dos democratas do Congresso para expulsar Bolsonaro, Lula não planejava abordar o assunto na reunião desta sexta-feira. O governo dos EUA adotou uma abordagem de esperar para ver, esperando que o ex-líder brasileiro deixe o país por conta própria.
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