Bloomberg Línea — A plataforma para investidores TC (TRAD3), conhecida anteriormente como TradersClub, anunciou a saída da sociedade e da companhia do cofundador Rafael Ferri, segundo fato relevante nesta quinta-feira (9). Não foi divulgado o motivo.
A venda será realizada a investidores estratégicos, não nomeados neste momento, segundo o fato relevante.
O TC tem cortado custos e renegociado contratos com fornecedores, diante de prejuízos acumulados de R$ 42 milhões, decepcionando investidores que apostaram em seu IPO (oferta inicial de ações) em julho de 2021.
As ações se desvalorizaram 84% desde então e foram negociadas a R$ 1,49 no fechamento desta quarta-feira (8), versus R$ 9,50 na estreia.
O contrato de prestação de serviços entre o TC e Ferri foi encerrado. A venda da fatia detida pelo investidor deverá ser realizada fora do ambiente de Bolsa, acrescentou o comunicado.
“Pedi demissão e me aposentei. Todo mundo sabe das minhas ambições políticas”, disse Ferri em vídeo publicado nesta manhã.
A StartUps BR Holding Ltda, empresa de Ferri, possui 26,74% do capital do TC, segundo dados da B3. Com base na cotação de fechamento de ontem, essa fatia seria avaliada em cerca de R$ 110 milhões. O TC tem valor de mercado de R$ 417 milhões.
A saída de Ferri do capital e das operações do TC encerra uma fase da companhia que foi fundada em agosto de 2016 também por Pedro Albuquerque, o CEO, e Israel Massa, o CFO.
O grupo que nasceu de forma informal teve ascensão rápida de 2018 a 2021 como uma comunidade de investidores, pegando carona no momento de efervescência do mercado de capitais do país com os juros baixos na casa de 6% ao ano ou menos.
Depois da estreia na B3, a companhia chegou a ser avaliada em cerca de R$ 4 bilhões, mas perdeu valor de mercado com a desaceleração do mercado de capitais com a alta dos juros. O tamanho real da base de assinantes da plataforma chegou a ser alvo de questionamentos por analistas.
Ferri também carrega no currículo citação em denúncia de manipulação do mercado, com o caso que ficou conhecido como a “bolha do alicate”, um escândalo de 2011 envolvendo as ações da empresa gaúcha Mundial, fabricante de alicates.
Foi considerado um caso de pump and dump, em que os papéis dispararam 1.600% no segundo trimestre daquele ano após a divulgação de perspectivas excessivamente otimistas. Ferri chegou a ser proibido de atuar como agente autônomo por cinco anos.
Ferri também se tornou nos últimos anos um dos investidores mais ativos e com maior engajamento - sejam críticas ou defesas de seus seguidores - em redes sociais, por causa de previsões nem sempre concretizadas para os preços de ações e pelo seu posicionamento político.
O prospecto do IPO do TC há quase dois anos, protocolado na CVM (Comissão de Valores Mobiliários), já apontava que um dos riscos à execução da tese de investimentos nas açoes do TC era uma crise de reputação envolvendo seus fundadores - uma menção indireta a Ferri.
No ano passado, o TC também foi alvo de um vídeo apócrifo com acusações não comprovadas contra a empresa e tratou de rebater e de buscar os responsáveis por meio de investigações.
Em novembro passado, a Bloomberg Línea publicou reportagem sobre as dificuldades e os planos do TC para reverter a crise e a queima de caixa, que apontavam para diversificação de receitas no segmento B2B, para ficar menos dependente do varejo, além da negociação com fornecedores.
- Matéria atualizada às 10h32 com a informação de que a venda da fatia de Rafael Ferri será realizada para um investidor estratégico, e não para o próprio TC.
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